terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

PRESSÃO


“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.” A frase de Charles Chaplin me fez refletir sobre os últimos acontecimentos da minha vida. Houve uma inversão de papéis. Inversão esta, previsível, porém não tão desejada.
Tenho andado às avessas com um problema crônico da minha mãe: pressão alta. “Doença silenciosa” como adoram dizer os especialistas, mas que em nossas vidas têm feito muito barulho.
Os remédios são diários e o tratamento ininterrupto. Tudo aceitável, se não fosse a pressão arterial da minha mamy’s resolver nos pregar sustos, vez por outra. Esta noite (ou já será dia?) foi um dos maiores.
Resolvi escrever no blog sobre o assunto para desabafar minha indignação com certas situações, pessoas e planos de saúde!
Mamãe passou três horas mendigando a atenção de médicos e enfermeiros que marchavam em ritmo descompassado de um lado para o outro do hospital. O cenário mais ou menos assim: Um avalia. Outro encaminha para lugar nenhum. A medicação é dada. Nada muda. Ela se queixa. É ignorada. Não tem leito. Espera o outro médico chegar. Acabou o plantão. Um jogo de empurra dos mais lamentáveis que já vi.
Foi preciso alguém no hospital reconhecer que eu era “aquela” repórter da TV. Daquela TV! Crianças chorando. Velhinhos murmurando de dor. Casais, irmãs, pais, filhos, mães. A minha mãe sendo vítima de negligência.
Tive que partir para um senhor vestido de branco que passeava por um corredor e perguntar:
- O senhor é médico?
- Sou – ele respondeu.
Então porque tantas pessoas estão esperando por um minuto de atenção? Perguntei retoricamente. A minha cara foi suficiente para ele entender o que eu queria.
Mais de sete horas entre injeções, pílulas, exames e até troca de figurinhas entre especialistas. Minha mãe começou a ser atendida dignamente. O motivo é que não foi nada digno.
Medo de denúncias na mídia, um pequeno incentivo para acirrar os ânimos por ali e eles logo se tocaram que apesar de pacientes, paciência tem limite.
Foi uma noite em que eu era a mãe e ela a filha. Frágil, desprotegida, precisando de colo. Os papéis se inverteram e eu assumi a leoa que toda mãe deve ter dentro de si.
Durante todo esse período dramático em que dois numerais infernizaram minha cabeça (pressão: dezoito por dez) ouvi choros incontidos, maqueiros apressados, enfermeiros nada simpáticos e médicos se achando deuses.
Graças ao verdadeiro e único Deus, minha mãe melhorou e voltamos para casa. Na minha cabeça, duas imagens: uma garotinha na cadeira de rodas, vomitando dentro de um saco e esperando por atendimento e a quantidade de gente que eu já entrevistei que perdeu, sofreu e gritou por causa do caos na saúde pública. E que hoje constatei: não difere da privada (nenhuma palavra aqui é escolhida aleatoriamente).
Cenas tristes que infelizmente fazem parte desta peça chamada vida. Para alguns com mais de um ato. Para outros, com a falta de atos que levam as cortinas a se fecharem antes do primeiro aplauso.