quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Na tietagem não há fibrose

 
"No palco contemporâneo o espetáculo em cartaz é a vida. Os ingressos na bilheteria dão direito a entrar na intimidade dos atores, formar alteridades e idealizar heróis, mas a plateia não está satisfeita e quer ela mesma encenar o espetáculo." Que citação perfeita para começar o post de hoje. O fragmento foi tirado do livro "No jornalismo não há fibrose" e trata-se de um ensaio crítico sobre a imprensa, escrito pelo brilhante jornalista (e meu marido por quem eu babo mesmo!) Felipe Pena.
Eu já havia lido este ensaio há uns três anos. Mas o assunto abordado pelo autor (e agora vamos às formalidades) não poderia estar mais evidente na minha vida.
Já na rotina de repórter em Belém eu pude vivenciar isso. Só que o dia-a-dia era tão corrido que não sobrava muito tempo para refletir sobre o meu umbigo. 
Apesar de estar fora há alguns meses, ainda recebo o carinho de muitos telespectadores, principalmente no facebook e confesso que sinto uma mistura de felicidade e susto quando leio alguns comentários que parecem ser de pessoas que me conhecem tanto!
Pois bem, pra quem não leu os posts anteriores estou morando no Rio de Janeiro. Lugar de celebridades, chiques, famosos e paparazzis. Na academia que eu frequento todos os dias dou de cara com algum ator ou atriz global. É claro que existe a curiosidade e aquele inevitável pensamento de que "fulana é mais magra do que aparece na TV ou ciclano é mais gordinho". Divagações fúteis e aqui despidas para vocês com quem não pretendo fazer média.
O engraçado é que eu nunca tive vontade de falar com nenhum desses famosos. Não sei quanto a eles, mas eu adorava quando alguém me parava na rua ou no shopping em Belém para dizer que admirava meu trabalho. Só que o mundo dá voltas... E eu fiz isso outro dia! Porém, com uma "famosa virtual.”.
A blogueira carioca Dandynha Barbosa tem um site de moda e beleza (quem nunca, né girls?). Encontrei com ela na academia e automaticamente falei com a moça como se já a conhecesse há anos! "Você tem um blog né? Ah, sou sua leitora! E aí quando foi a inauguração da loja tal?". Foi esse meu aprofundado diálogo com a "maninha.”.
Só que a futilidade também pode ser útil quando vista sem preconceito! E resolvi escrever sobre esse novo palco de celebs: a internet! A TV continua tendo seu lugar cativo é claro, mas a internet tem cada vez mais conquistado corações carentes.  OMG. Dã. Todo mundo sabe disso e até critica. Mas verdade seja dita: todo dia damos expediente nas redes sociais.
E toma-te mais reflexão! Todos nós somos voyeurs da vida alheia. Duvido que você que está lendo este texto nunca tenha entrado num perfil de facebook de algum amigo ou desconhecido para se "atualizar" ou "conhecê-lo" um pouco mais. Eu, você, ele, ela. Somos craques na tietagem virtual.
"Não se trata apenas de olhar pelo buraco da fechadura, mas de estar do outro lado da porta. Não se trata apenas de ver o filme, mas de ser o próprio filme. A vida é o veículo. No ponto em que chegamos, a plateia quer ver o espelho."
E vamos lá para um mea culpa com mais palavras de Felipe Pena: "Se não é possível estar em um enredo de Homero, talvez seja mais simples escrever a própria história, produzindo uma autobiografia." Touché. Não é isso que fazemos em nossos facebooks, twitters e blogs?! Minha culpa. Minha máxima culpa.
"De que maneira evitar a "celebrização" de sua imagem?" Quén, quén, quén... “Facebookcídio”, “twittercídio”, “blogcídio”? Not yet. Por enquanto, vocês vão ter que me engolir! E podem me “assinar” porque é de graça!
Ah, e se no jornalismo não há fibrose, aviso logo que na tietagem também não. Por isso no final deste post você encontrará o site para comprar o livro (temos que garantir o leite das crianças) e o blog da minha mais nova BFF Dandy!
Smack. Quem se identificou comenta aê! ;)
 
 
 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Dica de leitura


 
Comecei a ler "Antes de dormir" de S.J Watson ontem por volta de 18 horas. Fiz um breve intervalo para jantar e só parei lá pelas 23 horas porque minha vista estava ficando embaçada e eu caindo pelas tabelas. Já estava na página 260. ( O livro tem 398 páginas).
Vocês acreditam que eu nem dormi direito pensando em terminar a leitura? ALOKA! Coisa de louco. Vocês também são assim? Eu acordei três vezes durante a madrugada e olhei pra janela pra saber se já estava claro e se já seria hora de acordar e continuar lendo!
Bem, com toda essa minha ansiedade dá pra sentir que o livro realmente prende o leitor. Ansiedade! Foi bem isso que o livro me despertou. Você fica preocupado querendo saber o que acontece na próxima página.
"Antes de dormir" conta a história de Christine Lucas, uma mulher de 47 anos que depois de sofrer um trauma aos 27, perdeu todas as lembranças do que aconteceu nessas duas últimas décadas.
Cada novo dia ela acorda sem saber onde está, não reconhece o marido e nem a si mesma ao ver no espelho o reflexo de uma mulher bem mais velha do que ela imagina ser.
O que aconteceu? Como ela ficou assim? É o que a personagem principal que é também a nossa narradora quer descobrir.
Inevitável não lembrar do filme "Como se fosse a primeira vez" com Adam Sandler e Drew Barrymore. Mas o livro é bem diferente do  filme sessão da tarde que tem uma pegada mais "light" de comédia romântica.
 
 
Recomendo a leitura para aquelas pessoas que não são cardíacas e que não sofrem de insônia. Caso contrário, o que deveria ser entretenimento vai virar outra coisa.
Esse é o romance de estreia de S.J Watson. A narrativa é tão envolvente que eu fiquei sem tempo e paciência para analisar o discurso. Mas sei que não é um texto tão bem lapidado. Me prendeu pela história. As 398 páginas passaram voando.
No skoob 388 pessoas leram e foi avaliado como "Muito bom".
 
Quem já leu me conta o que achou? Comentem aí o post minha gente!!


domingo, 18 de novembro de 2012

Revirando o baú

Achei no youtube uma matéria bem legal que fiz pro É do Pará esse ano sobre "Dança de rua" em Belém.

Quem gostar assiste o vídeo e clica em "Gostei" pra mim. Se você gostar MUITO, favorite o link e me ajude na divulgação!

Beijos!


http://www.youtube.com/watch?v=4yW99GvgrxQ&feature=youtu.be

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Quem quer ser um jornalista?



 
Como alguns de vocês podem ainda não saber, eu não trabalho mais na TV Liberal há seis meses (passou muito rápido!) e estou morando no Rio de Janeiro em busca de novos desafios profissionais e pessoais.

Quase todos os dias eu recebo pedidos de amizade no facebook de muita gente generosa, que me manda recados carinhosos elogiando meu trabalho.

Ultimamente tenho sido questionada sobre a profissão, então resolvi fazer este post para aqueles que sonham com o jornalismo, mais especificamente em estar na telinha. (PLIM-PLIM)

Minha experiência profissional é pequena, perto de colegas com quem tive a honra de trabalhar na TV Liberal e em outras emissoras ou produtoras.  Mas, já que vocês perguntam e nem sempre eu consigo responder, este post vai ser meu incentivo pra quem quer seguir nesta carreira.

Primeira coisa: Atualmente vivemos este imbróglio sobre ter ou não diploma de jornalismo. Eu sou a favor de que você estude, curse uma faculdade e tente apreender todo conteúdo teórico em sala de aula.

Eu frequentei uma faculdade particular, foi opção minha. Mas a UFPA é excelente e apesar da pouca infraestrutura no curso há compensações como o nível dos professores.

Me arrependo de não ter me dedicado mais durante a faculdade. Acho que a falta de maturidade foi a principal causa. Comecei o curso com 17 anos.

Segunda coisa: tente conseguir um estágio. Eu comecei na TV Liberal como estagiária aos 19 anos. Passei um ano e meio estagiando e faltando poucos meses para me formar fui contratada como produtora de pauta. Anos depois é que passei para a reportagem.

Eu aconselho quem quer seguir carreira em TV que comece na produção. É nessa função que você faz seus contatos, fica ligado em tudo que acontece na cidade e no mundo e aprende a trabalhar em equipe. É sacrificante, é desgastante, estressante, mas é onde você ganha "bagagem" para seguir o caminho mais tarde como repórter. Admiro muito meus colegas produtores.

Terceira coisa: leia, leia, leia e leia. Você não vai ser um bom produtor, repórter, apresentador, editor, ou mesmo cidadão, se você não dedicar parte da sua vida à leitura.

Aposte na literatura nacional, literatura estrangeira, poesias, contos, crônicas, ensaios, jornais, bula de remédio, mas crie este hábito na sua vida. Vai virar um prazer e você vai se sentir mais seguro para escrever e conversar com as pessoas.

Quarta coisa: escreva. Se você quer trabalhar em TV tem que escrever também. Praticar através de um blog é uma boa coisa. Aquele texto falado que você escuta do repórter em míseros dois minutos (no máximo) na TV, é fruto de horas batendo cabeça em frente ao computador para contar toda a história que ele (o repórter) viu e ouviu para os telespectadores. Se estiver confuso, o público vai mudar de canal ou achar que nem o profissional sabe do que está falando...

Quinta coisa: Fique ciente que a partir do momento que você trabalha em TV, sua imagem se torna pública. Você vai ter que se conter diante das situações mais inusitadas.
Inúmeras vezes eu tive que cobrir acidentes em que pessoas morreram, crianças foram abusadas pelos próprios pais, assaltos, debaixo de chuva, de sol ... enfim, na rua tudo pode acontecer. E lá você está diante da expectativa e angústia dos outros. Você tem que respeitar a dor alheia, sem desistir da sua matéria. Parece bobo, mas não é. É difícil. Às vezes você está com cólica, brigou com o namorado, sua mãe está no hospital, as pessoas não entendem o que você pergunta...

Já fui xingada, empurrada, levei uma "microfonada" no seio... É respirar fundo e não perder a concentração. Quando chegar em casa você chora, grita, esperneia...Na rua, você não é o foco. O foco é a notícia.
Se depois de tudo isso, você ficou com mais vontade de trabalhar em TV, este deve ser seu caminho e eu te desejo boa sorte e muita inspiração!

Comentem aí e se tiverem perguntas específicas eu respondo nos comentários.

Beijos!

domingo, 4 de novembro de 2012

Dica de leitura

 
 
LOTTE & ZWEIG
Confesso que antes de ler "Lotte & Zweig" (Ed. LeYa), pouco sabia da história deste escritor, romancista, biógrafo etc que foi Stefan Zweig. De origem judaica, Zweig nasceu na Áustria, sendo conterrâneo de Sigmund Freud, com quem chegou a se corresponder durante décadas e que é citado no romance. Não posso deixar de mencionar que foi conterrâneo também de seu algoz, Adolf Hitler.
 
 
 
O livro "Lotte & Zweig" do querido Deonísio da Silva tem muitas referências a grandes nomes como Rimbaud e Rainer Rilke, mas não chega a ser desconfortável para os que não estão familiarizados com estes nomes.
O período histórico em que se passa a trama é dos mais emblemáticos: a Segunda Guerra Mundial. É comum lermos e ouvirmos falar das batalhas sangrentas, dos campos de concentração na Alemanha nazista e da fuga e perseguição aos judeus. O fato de Zweig ter buscado exílio no Brasil em seus últimos anos de vida, especificamente em Petrópolis (RJ) trazendo junto sua segunda esposa Charlotte Zweig proporciona ao leitor uma intimidade maior com a obra. O país vivia também um momento marcante: A Era Vargas.
Antes de fazer minhas considerações pessoais sobre o livro preciso ressaltar que há uma versão "consolidada" sobre a morte de Stefan Zweig e Charlotte: suicídio.
A obra de Deonísio da Silva faz o contraponto desta história utilizando a ficção para despertar nos leitores os mais diferentes sentimentos: inquietação, angústia e o livre arbítrio para seus "cárceres escolhidos".
No livro de Deonísio, a história do suicídio do casal é dividida em duas partes: na primeira é o próprio Zweig que narra as horas que antecedem sua morte.
O autor consegue fazer exatamente o que o personagem menciona em um de seus diálogos: ele borda com as palavras e cabe ao leitor ficar atento a cada ponto cruz.
A personagem de Lotte inicialmente é apresentada como mulher subserviente, a própria "Amélia", apesar dela não suportar ouvir os versos da canção tão conhecida. Além disso, Lotte sofria de asma, tinha um corpo doente que para o pavor de Zweig poderia a qualquer momento sabotar o plano de suicídio em parceria, antecipando-se ao amado.
Stefan Zweig, mesmo 30 anos mais velho que a esposa gozava de boa saúde, mas percebemos seu coração asfixiado pela angústia, pelo amor, e principalmente pelo sofrimento com a guerra a dizimar os seus semelhantes. “Eu sofro muito mais do que os outros porque percebo, sem saber dizer por que, que amanhã será pior.”
Na segunda parte do livro surgem novos personagens, com destaque para a primeira esposa de Stefan (só pela alcunha de "EX" já ganhou minha antipatia) que instigam o leitor a cada página virada. Há uma investigação acerca da morte do casal. O exílio em Petrópolis não foi suficiente para calar a voz do "inimigo intelectual número um do Reich.”
A partir daí temos a perspectiva de Lotte, que se revela preocupada com o reconhecimento externo de sua dedicação e amor ao marido. Deonísio é generoso ao deixar Charlotte falar ao leitor.
Lembrando que como todo típico  suicida ou "suicidado" como sugere o autor, Zweig deixou uma carta com o título em português "Declaração". Abaixo um fragmento:
Assim, em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a Terra. Saúdo todos os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite.
Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes.
Stefan Zweig
Suicídio? Assassinato? Um romance cheio de mistérios.
Prefiro como leitora, parafrasear uma frase do autor: "a ferramenta intelectual mais importante de um leitor é sua imaginação, jamais a pesquisa.”.
No palato segue o gostinho da dúvida.
Curiosidade: O maior biógrafo brasileiro de Stefan Zweig é o jornalista Alberto Dines. E foi o Dines quem escreveu a orelha do livro do Deonísio! Achei o máximo. Cada um defende seu ponto de vista e ainda conseguem transbordar em generosidade!
Abaixo o link da entrevista que o Deonísio deu ao Jô Soares falando sobre o livro:
Ah, e o KibeLoco falou da jaqueta do autor. Estilo Lady Gaga. Eu a-d-o-r-e-i! Arrasou! Moda e literatura vestem muito bem!
Don't be a drag, just be a queen!