terça-feira, 29 de junho de 2010

"Brilho de uma Paixão"


Meus finais de semana de folga se resumem em três palavras: viagem, conchinha e poesia. Não necessariamente nesta ordem.
A viagem eu deixo para a imaginação de vocês. A conchinha é muito particular. Resolvi dividir a poesia.
Assisti ao filme “Brilho de uma paixão” que conta a história de amor entre o poeta inglês John Keats e sua amada Fanny Brawne. Primeiro tenho que avisar que o filme foi produzido para almas sensíveis. Se você tem um namorado ou companheiro que não tolera romances exagerados, convide uma amiga para ir até o cinema. Você corre o sério risco de além de aturar cara feia, borrar a maquiagem e nem o rímel da M.A.C à prova d’água passou neste teste. (Não foi o meu caso, o rímel não ajudou, mas minha companhia é atípica)
“Brilho de uma paixão” foi dirigido por uma mulher. Touché. Nem precisei ver os créditos para adivinhar. A linguagem toda é extremamente lírica. A poesia não apenas aparece recitada nos versos de Keats. As seqüências de imagens são verdadeiras obras-de-arte. As cores, a fotografia, o figurino. Mais de duas horas de uma projeção que segue em ritmo lento, mas que eu sinceramente não percebi o tempo passar.
A neozelandesa Jane Campion dirigiu o filme com a habilidade de quem ostenta o título de ser a única mulher a levar a Palma de Ouro no Festival de Cannes com o belíssimo “O Piano” de 1993.
Confesso que meu conhecimento sobre poetas ingleses era restrito a nomes como William Shakespeare e Lorde Byron e até cheguei a pensar equivocadamente em Oscar Wilde como inglês (na verdade, ele é irlandês). Orgulho-me em dizer que a cada nova folga, eu aprendo mais.
Voltando ao Keats, quando li a sinopse do filme no jornal O Globo, logo me pareceu uma opção interessante.
Saí da sala de cinema extasiada. Com um nó na garganta e o peito apertado. A história de John Keats (1795-1821) é a de um jovem que teve a vida marcada por mortes (pai, mãe e mais tarde o irmão mais novo que ele cuidava). Para sublimar tamanha dor, Keats encontrou na literatura uma forma de redescobrir o sentido da vida. Seus poemas, hoje exaltados, na época foram dilacerados pela crítica. No meio disto tudo ele vive intensamente um amor pela doce e mimada Fanny Brawne, sua vizinha. Entre encontros e desencontros... Eles... bom, não vou ser estraga prazeres. Vão assistir ao filme!
Mas a descoberta de Keats me fez tão bem, que resolvi dedicar-lhe um post no blog.

Abaixo um trecho de um dos poemas escritos por John Keats: “Endymion” de 1818.

“O que é belo há de ser eternamente Uma alegria, e há de seguir presente. Não morre; onde quer que a vida breve Nos leve, há de nos dar um sono leve, Cheio de sonhos e de calmo alento. Assim, cabe tecer cada momento Nessa grinalda que nos entreteceÀ terra, apesar da pouca messeDe nobres naturezas, das agruras, Das nossas tristes aflições escuras, Das duras dores. Sim, ainda que rara, Alguma forma de beleza aclaraAs névoas da alma.”
Tradução: Álvaro de Campos.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

"SIM, eu aceito!"


Hoje li um artigo em uma dessas revistas de mulherzinha que falava sobre a volta de um costume vilipendiado nas décadas de 80 e 90: o ato de noivar. Na foto de ilustração estava o roqueiro Paulo Ricardo (aquele do olhar 43, sabe?) e sua futura terceira esposa, uma paulista de 24 anos.
O texto falava como os homens estão recuperando o romantismo e pedindo a mão das amadas, com direito a anel de diamante e tudo. Ok, ok. Fiquei com 90% de inveja e 10% de contentamento por estes pombinhos sorridentes da revista.
Mas parei pra refletir sobre o simbolismo em questão. Não tenho nada de muito moderna. Contei isso pro meu terapeuta certa vez, e ele fez cara de surpreso. Ué. Tenho ar de descolada? Eu acredito no casamento, sempre acreditei e sonho isso pra mim. O meu psicólogo falou que eu parecia uma mulher independente demais para querer cuidar de filhos e marido. Ledo engano. Porém cuidar de filhos e marido, não quer dizer obrigatoriamente em largar o emprego e ter que lavar cuecas. Ou tem? Espero que não.
Voltando ao artigo, os casais entrevistados contavam com requinte de crueldade (detalhes para me matar de inveja) como ambos eram românticos, sobre o planejamento para o grande dia, a música que o cara fez para a guria, a declaração em público. Enfim. Coisa que nos fazem soltar um “Ohhhhh” bem alto, sem se importar com quem estiver por perto.
Porém, um depoimento em especial chamou a minha atenção. Uma moça que foi noiva, com todas as pompas e sininhos apaixonados, e acabou NÃO se casando. A entrevistada corajosamente assumia que se preocupou tanto com o noivado e depois com a festa de casamento, que se esqueceu do futuro marido e ex-noivo.
Uma luz acendeu no meu juízo e acho que é bem por aí... todo esse romantismo é lindo, mas não adianta se o amor não for muito bem cuidado todos os dias, com a rotina inevitável, porém ajustável. Como disse em um texto, meu autor favorito, o harasmente perfeito Felipe Pena: “Acredite, meu amigo: a crise não é do casamento, é do ser humano. E é perene, absoluta, inabalável. Tentamos administrar nossas neuroses diariamente. Mas deve ser melhor estar em crise acompanhado do que sozinho. Dividir angústias e compartilhar risadas ainda são premissas eficientes para manter um casal.”
Eu nunca fui casada. Mas continuo apostando no casamento. Ah, mas já fui noiva. DUAS vezes. Nem a aliança H. Stern e muito menos a Vivara, me deixaram tão feliz quanto os silêncios que ouço ultimamente...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Copa do Mundo


Não adianta. De quatro em quatro em anos a atenção do seu homem vai se desviar de você completamente. Se em dias normais você desconfia que ele já não ouve muito o que você diz, em tempos de Copa do Mundo pode ter certeza disso.
Não. Não vamos nos descabelar, amaldiçoar quem inventou essa história de onze marmanjos de cada lado correndo atrás de uma bola, ou de uma jabulani, e fazer beicinho. Não vai rolar.
Confesso que não sou muito fã de futebol. Torço pro meu time vizinho (por questões éticas melhor não declarar publicamente, apesar de desconfiar que todos que me conhecem sabem) e me interesso apenas pelos resultados. Ganhou? Ótimo. Hora de zoar com os adversários. Porque este é o grande barato das competições. Tripudiar em cima da dor e da vergonha daquele que perdeu.
Copa do Mundo é uma mobilização beeeeem maior. Não sou indiferente ao sentimento de patriotismo que invade o país. Todo mundo pendurando bandeirinhas, o verde e amarelo tomando conta das ruas, das vitrines, da moda, até dos esmaltes (mas aí eu acho cafona!) etc.
Prefiro assistir aos jogos do Brasil em casa, apesar da minha mãe ser histérica, dar palpites sem nenhum fundamento e soltar gritinhos desnecessários em jogadas nada ofensivas. Vá lá, nessa época todo mundo vira técnico mesmo e acha que faria melhor que o técnico verdadeiro está fazendo.
Dunga pra mim é sinônimo de infância. Sabe? Sete anões, orelhudo, abobalhado, deu um selinho na Branca de Neve... Nada especial. Da nossa seleção só conheço o meu xará (Kaká) e o Julio Cesar por questões pessoais (digamos que eu tenho motivos para não ir com a cara da esposa dele). Tá, e outros lá que não to a fim de escrever os nomes (ou seriam neologismos?).
O fato é que mesmo que não seja o Brasil em campo, seu namorado não vai te dar atenção. “Peraí, me deixaeu ver essa jogada.” “Queria assistir essa matéria com o ciclano”. “Foi promovida no emprego? Legal”...Uhhhhhhh. Quase foi GOL.
Dificilmente conseguiremos engatar um diálogo. Mas sabe, que bom que é assim. Eu desconfio de homem que não gosta de futebol. Não tem pelo menos um time do coração, que se preocupa em saber a colocação no campeonato brasileiro, que nunca foi a um estádio.Deste tipo de homem, desconfie. Ele não te dá atenção ou porque está de olho em outra, ou porque prefere correr atrás de marmanjos, ao invés de olhar os lances com a bola. E o segundo caso é tiro de meta. Ou melhor, tiro e queda.

domingo, 13 de junho de 2010

Pós-Dia dos namorados


Passei o dia dos namorados lamentando o que não tive. Lamentando a ausência do meu companheiro, reclamando da falta de programação na minha vida e chorando sobre o leite derramado.
Um dia depois, com uma bela noite de sono no meio, os pensamentos começam a clarear.
Carlos Drummond de Andrade escreveu um dos textos mais belos que conheço sobre namorados. Recorro a alguns dos meus trechos favoritos para explicitar um pouco dos meus sentimentos.
“Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva,lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.” Nesse quesito tenho um namorado maravilhoso. Ele sabe quando estou com “cara de palavra”, quando quero dizer algo e sempre mata minha sede com a saliva. Eu chorona como sou, não consigo represar as lágrimas e ele me compreende e assiste com paciência a queda das cataras do Iguaçu. Me ensinou a respirar a brisa do mar e é pura filosofia. Nesse sentido, eu tenho namorado.
“Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.” Partindo das idéias do cara de Itabira... eu tenho o melhor dos namorados do mundo.
Ele é perfeito. Não mora ao lado. Mas mora dentro do meu coração.
Tem gente que deixa a chama do amor diminuir com o passar do tempo. Nada de anormal, se acomoda com o cotidiano, acha que “a parada está ganha”. Eu não. Todos os dias acordo mais apaixonada. Quero fazer meu amor mais feliz, quero ouvir suas risadas mais gostosas. Quero que ele seja feliz, realizado, mesmo que isso não implique na minha presença.
Não sou altruísta, esse papel é dele. Sou apenas uma Rapunzel completamente apaixonada...

terça-feira, 8 de junho de 2010

Peixe Vivo...


Há quase um ano ganhei da vida um animal. Não sei como categorizá-lo. Se de estimação ou selvagem. O fato é que é um peixe. Glub. Glub. Mas não peixe de aquário, desses que ornamentam aquários coloridos.
Um peixe de Rio. Com experiência em alto mar e que já se aventurou pelas profundezas do oceano. Confesso que não era muito íntima do mundo marinho. Mas o danado do peixe com suas guelras perfeitas me domesticou.
Meu peixe vivo, não consegue viver muito tempo fora da água fria, e eu sem exagero nenhum sofro muito sem a sua companhia. Rima boba, podem pensar, mas eu e Juscelino Kubistchek partilhamos do encantamento pela simplicidade.
Ultimamente meu peixe tem nadado para além dos limites do meu mar. E não duvido que ele encontre piranhas no Rio, vacas-marinhas e até sereias em certas ocasiões. Minha esperança é que ele não se encante pelo canto das tais sereias e muito menos deixe que alguma piranha o abocanhe.
Sou ciumenta triplamente qualificada. Eu planejo o ciúme, executo e ainda o faço com requintes de crueldade. Às vezes ainda tento ocultá-lo, o que configura outro crime.
Sinto ciúme da independência do meu peixe. De sua capacidade de levar suas nadadeiras para longe de mim e sempre dormir de olhos abertos. Em tempo, eu não adquiri este peixe através de uma pescaria. Duvido que ele seja do tipo que se deixe seduzir por algum tipo de isca, ou caia em alguma rede por aí. O pequeno é muito esperto, altamente evoluído para sua espécie. Digno de estudo na NASA. Ou em casa. De preferência na minha.
Infelizmente não posso exigir que meu peixe nade perto de mim. Ele nada, nada, nada. Eu rio. Ele Rio. Também não quero colocá-lo em um aquário, por maior e mais belo que seja. Ele morreria afogado em meio à angústia. Tenho um peixe iconoclasta. Um peixe altruísta. Sua existência úmida encharca minha vida, e às vezes meus olhos de lágrimas. Porém nunca vou querer vê-lo longe do mar. Ele não sobreviveria.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Perdigagem Sadia.


Carpinejei durante toda a noite de sexta-feira. Lançamento do novo livro do Fabrício Carpinejar “Mulher Perdigueira”. As crônicas mais sadias. Sinceramente há tempos não sentia uma alegria infantil tão sincera. Daquelas que apareciam no Natal quando eu desembrulhava o presente e enxergava a Barbie esperada o ano todo.
Por mais que eu tentasse controlar meu sorriso, a boca não obedecia. Os dentes ganharam vida própria e queriam se exibir a todo custo. Não me vi no espelho, mas tenho certeza que os olhos brilhavam como estrelas cadentes.
Encontrar com alguém que admiramos tão profundamente é deliciosamente assustador. Sim, porque antes de tudo sofre-se com a crise do “será que é mesmo tudo aquilo que imagino?”. Existe a possibilidade da desconstrução da idealização. Foram meses em que estive entusiasmada por aqueles textos. Nos momentos difíceis, como num dia da Bienal do Livro no Rio de Janeiro ano passado, um poema dele foi declamado. Nas minhas noites de angústia, li e reli as crônicas preferidas. Apresentei-o as amigas. Defendi sua excentricidade. Não julguei seu perfil exageradamente performático.
Condenar exagero? Longe de mim. A amante de Cazuza que nasceu cinco dias depois do Rock in Rio em 1985, em que o Barão Vermelho levou o público de metaleiros ao delírio. Exagero é sempre bem-vindo por aqui.
Mas entrar calmamente na fila, e esperar que todo mundo fosse embora foi um comportamento atípico. É claro que a máquina fotográfica deu pau bem na hora do click, e tivemos que refazer as poses e o sorriso que não cessava ganhou ares de constrangimento.
Não queria trocar palavras. Nada de papo. As palavras que me interessam estão impressas nos livros que tanto amo, e cuido com egoísmo de filha única.
Foi uma noite mágica. Nada de anormal. Nada de fogos de artifício, taças de champagne Crystal, It Girls desfilando bolsas Marc Jacobs. Nada do que um dia já me chamou atenção.
Tudo o que hoje realmente importa para mim. Poesia na dedicatória. Um bom café para esquentar a noite e a alma. Pessoas simpáticas conversando amenidades, mas não banalidades (e quanta diferença existe aí, meu povo!). Exatamente como eu não seria capaz de planejar e nem sonhar. Cada dia que passa, estou mais convencida de que a realidade é mais irreal das ficções.