segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Lembranças do Natal



Este não é um conto de Natal. E nem uma crônica. É apenas um relato de como os natais tem sido pra mim nos últimos oito anos.
Natal na minha casa tem árvore, tem enfeite, tem presente e até pisca-pisca. Mas há oito anos não tem mais o meu pai.
Era ele, homem forte e reservado que transformava nosso mês de dezembro em uma verdadeira festa. Meu pai nunca foi bom em comprar presentes. Se eu calço 36, lá estava embaixo da árvore um calçado de tamanho 38, que eu jamais usaria e dificilmente conseguiria passar adiante.
Mas a expectativa da descoberta, o suspense, o modo como ele embrulhava as caixas, sem nenhum traquejo e cheio de fitas engomadas era suficiente pra despertar em toda a família uma enorme curiosidade.
Meu pai nos deixou em janeiro de 2003, diante da TV, no sofá da sala. O coração tão grande, simplesmente parou de bater. Coincidentemente, no Natal anterior, ele acertou o meu tão sonhado presente: um sharpei albino. Sim, porque eu não queria qualquer cachorro. Tinha que ser um incomum, e difícil de encontrar... Porém , ele buscou, procurou e conseguiu.
Reconheço a importância do Natal. O nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo que nos enche de novas esperanças, inclusive a de que nós mesmos podemos renascer. Renovar.
Atualmente, meu melhor Natal acontece durante o dia. Desde que comecei a atuar na reportagem nunca escapei de um plantão natalino.
Já cobri a ceia de pessoas carentes em 2009, onde surpreendentemente não encontrei uma Maria, um José e um Jesus. Mas conheci três figurinhas que vieram de longe, do interior do Estado e não tinham onde ficar e nem o que comer. Ajudei-os a ter um Natal digno e eles me ajudaram muito mais a escrever uma bela matéria.
Ano passado presenciei uma história triste. Uma mãe abandonou um bebê, recém-nascido e desprotegido em um terreno baldio. A criança virou notícia nacional, mas o mais importante é que comoveu pessoas que o acolheram.
Este ano, participei da entrega de presentes e alimentos em comunidades bem humildes. Por lá, descobri que a família Noel é maior do que eu imaginava, e não mora no Pólo Norte. Mora no Jurunas, no Guamá, na Condor. Mora aqui na minha rua, e com certeza, também aí na sua.
Meu pai não está aqui, para eu abraçá-lo. Só que ontem recebi mais abraços do que meus braços podiam caber. E sim, eu tive um Feliz Natal.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O jogo da conquista



Várias vezes ensaiei escrever um post novo. Alguns temas insistiram na minha mente e sei que ainda vou desenvolvê-los e dividir com vocês.
Mas o que me fez parar de adiar a vontade latente de escrever foram alguns livros que reencontrei na minha singela biblioteca particular.
Sem medo de ser julgada ostento nas prateleiras do meu quarto títulos como “O que toda mulher inteligente deve saber”, “Co-dependência” e até um “Quando termina é porque acabou.” Calma gente! Eles não estão na trincheira. O pelotão é liderado por autores como Oscar Wilde, Virgínia Woolf, Vargas Llosa, Rimbaud, Baudelaire e os meus gaúchos amados Carpinejar e Martha Medeiros. Não se melindrem vocês do jornalismo. O cantinho da pena é específico. Com o perdão da piada pronta.
Pois é, estes tais livros que nas livrarias e feiras ganham estantes de destaque com aquela plaquinha “Auto-Ajuda” não me tiraram da fossa. Muito menos, me fizeram sentir mais inteligente. Mas sem preconceito, me ajudaram de outra forma.
Algumas “lições” repassadas me tornaram bem mais crítica e cética quando o assunto é o “jogo da conquista.” Coisa mais cafona essa expressão, preferia mil vezes quando perdia noites diante do “Banco Imobiliário”. De volta ao mercado dos solteiros essa porcaria de jogo te coloca no páreo mesmo que você insista em passar a vez.
Eu não joguei os dados. Poderia ficar eternamente parada na mesma casa. Mas o jogo não te dá autonomia. Quem acha que sabe o que faz e controla os sentimentos está blefando, às vezes até involuntariamente.
Uma regra específica que não sei quem inventou parece prevalecer diante do senso comum: não demonstre interesse por alguém que você esteja interessada.
Ou seja, eu devo torcer para me apaixonar por um cara com dons mediúnicos, porque se eu o ignoro, não retorno as ligações, finjo não escutar quando ele comenta sobre uma reunião importante e não dou o apoio que eu acho correto dar, o rapaz tem que ser muito sensitivo pra perceber que há chance de eu querer dedicar tempo e carinho a ele.
Putz. Tô mal nesse jogo. Eu escolho as cartas sempre erradas. Movo a pedra na direção oposta. Acredito nas pessoas.
Será que pra você conquistar alguém precisa bancar a difícil? Lamentavelmente, eu sou difícil. Difícil no sentido de querer que o cidadão saiba conjugar verbos e escreva decentemente. Nem precisa ser um perito no emprego das crases. É ótimo que conheça poesia, mas se não conhecer, que pelo menos tenha vontade de aprender. Ou finja. Pode fingir porque depois a captura é inevitável. Ah, difícil também porque meus horários são completamente malucos. E a sexta-feira que é o dia mais esperado pela maioria é simplesmente a véspera de um provável sábado de plantão.
Mas eu não abandono a sexta-feira, assim como não abandono a vontade de ser cúmplice, de falar o que sinto olhando nos olhos, de conhecer a família e criar vínculos verdadeiros. De querer fazer sexo com confiança. Confiança acima de tudo em mim. E se ele não ligar no dia seguinte ter a certeza de que continuo com o sangue azul.
Nesse jogo onde a mulher veste o espartilho e o homem abusa dos galanteios não espero a vitória.
Aprendi de uma forma muito especial que no campo do coração, o melhor resultado é o empate.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sofrimento necessário

Como é difícil reconhecer uma derrota. Principalmente se for no campo do coração. Não era uma batalha com uma rival. De verdade, nunca houve espaço para mais ninguém. Nas lutas contra a rotina, a distância, o ciúme e os inúmeros caminhões de areia, nós conseguimos sobreviver usando artifícios poderosos como a poesia, as milhas do cartão de crédito, as conversas exaustivas, as risadas, a redundante dobradinha “verdade e cumplicidade” e tantas outras armas que nos fizeram tão propriamente “nós”.
Árduo é vencer a si mesmo. A insegurança sobre quem somos e como estamos, o mau-humor, o nervosismo, a pressa, a mágoa pelo que foi dito, a falta de paciência.
Todas as vezes que precisei me despedir de um relacionamento houve choro. Houve lamentação. E os remédios para tentar amenizar a dor e cicatrizar as feridas eram praticamente os mesmos: saída com os amigos, mudança do número de celular, aliás, total incomunicabilidade. E outras tantas medidas paliativas que na época, funcionavam.

Parece que o corpo desenvolveu imunidade. Não adianta mais usar os mesmos métodos. Dessa vez chegou a hora de encarar o sofrimento de frente. Com todas as lágrimas que ainda vão ensopar o travesseiro. Com a dor de cabeça do dia seguinte, por causa da congestão nasal. Com a cara inchada, perfeitamente disfarçada com a maquiagem canadense, que encobre as imperfeições da pele, mas não consegue devolver o brilho dos olhos.

Os conhecidos não se conformam com a minha decisão de viver o luto pela primeira vez. “Tão linda. Tão competente. Não merece sofrer por causa de homem”. Eu compartilho da opinião deles em alguns momentos em que a dor é tão grande que não extravasa apenas com o choro. Mas resolvi que talvez escrevendo sobre a dor seja mais fácil de vivenciá-la. Lendo sobre a dor, ela quem sabe, dê uma trégua. Vai passar. Todo mundo sabe que vai passar. Mas o período que divide o “vai” do “passou” muitas vezes é cruel.

“E como ela tem coragem de se revelar assim?” Alguns vão comentar, ou somente pensar. Simples: escrever sobre o que estou sentindo pode ser uma espécie de catarse. Meu processo de purificação.

Dois anos e dois meses que eu resumiria em uma palavra: coragem. Fomos fortes para enfrentar a distância, verdadeiros na hora de demonstrar as fraquezas, cúmplices para reconhecer que neste momento, as prioridades são diferentes. E apesar dessa dor que dilacera meu peito, sei que não seria justo continuar agora. A derrota é momentânea. Não vamos desistir nunca de defender nossas causas nesta guerra. Inclusive com nossas próprias vidas. Porém, somos inteligentes e sensíveis para reconhecer quando é necessário recuar.

A herança que você deixou foi ter me ajudado a descobrir o que há de melhor em mim. Foram as poesias compartilhadas. Os roteiros discutidos. A comida dividida no prato. A dança sem música. O tapete. Ah, o tapete. Nossa síndrome. Nosso símbolo. A música francesa. O número marcado na pele. A estrela de oito pontas. O seriado que agora virou meu vício. O vício abandonado.

Coisas boas e coisas ruins. Porque assim é a vida. Feita de paradoxos. De contradições. De crônicas e contos de fada. De prosa e de versos declamados com os dígrafos mais sonoros que meus ouvidos já captaram.

Meus cílios postiços estão encharcados enquanto escrevo esse desabafo. É a única coisa artificial que me permito usar, mas você sabe... É meu instinto maternal: são meus filhos! Fazer o quê?

Perdoe-me pelas eventuais crases perdidas ou mal empregadas. “Pelas frases tortas, embargadas pela tua ausência.”

Releve o sentimentalismo, as metáforas pobres. Meu coração está inundado. Mas minha alma sofre com a estiagem. É a falta do teu perfume. Mais clichê impossível seria se eu afirmasse que “falta um pedaço de mim”. Não falta mais. Faltava antes de te conhecer. Hoje estou inteira. E passo por esta fase temporária ou definitiva com a certeza de que uma grande história de amor não se encontra apenas nos livros. E que uma imagem via SMS vale mais do que muita declaração de amor.

Não poderia deixar o hábito de absorver o que você proporciona de tão bom. E termino esse post, imaginando um dia ser a Pilar do meu Saramago.

"O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas." ( José Saramago )









quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Eu nunca vou te abandonar



Para a minha leitora preferida...

Crônica não é conto de fadas, meu amor. A frase não é minha. Nem poderia ser. Eu queria que tudo fosse conto de fadas. Que a vida sempre terminasse com “e viveram felizes para sempre”. O clichê dos livros infantis, imortalizado pelo cinema e por nossos pais durante a infância, na beira da cama.
Mas não é. Crônica é crônica. Bem ou mal escrita. Publicada ou escondida. Escrita ou falada. Alguns episódios da nossa vida podem resultar em crônicas. E aqui eu penso porque usei a expressão “espisódio”. Estaria eu achando que a vida é um seriado? Ou pior... novela? Os personagens da minha vida são certamente mais marcantes do que qualquer um que já vi na TV.
Há alguns dias uma das minhas melhores amigas encarou uma tragédia hollywoodiana. Foi uma das dezenas de vítimas do acidente que aconteceu no bondinho de Santa Teresa do Rio de Janeiro.
Fraturas, marcas pelo corpo e mais profundas na alma. Dores que o tempo cuidará de amenizar e se Deus quiser quem sabe até apagar. Porém, a força da minha amiga diante do inesperado, do indesejado... está sendo algo comovente e exemplar.
Há três anos eu também fui vítima de um acidente. Que não foi provocado pela irresponsabilidade dos outros, como no caso de Santa Teresa, mas por mim mesmo. A dor não é menor. Aliás, a coisa mais inútil deve ser tentar medir tamanho de dor. É totalmente pessoal e intransferível. Não dá pra pedir pra ninguém sentir no seu lugar. Não dá pra cobrar força e nem exigir compreensão. No meu entendimento, dor não se entende. Dói pra caramba. Dói pra caralho. Dói físico. Dói emocional. Dói, mas passa.
Com essa amiga de infância, adolescência e juventude aprendi incontáveis lições. Mas dar valor à vida tem sido a mais importante delas.
Não é preciso ser forte o tempo todo. Ninguém quer que você não tenha medo. Não vão te culpar se você chorar. Pode chorar, se quiser. Se não quiser, pode também.
É só você lembrar que viver para si e para amar os que te amam vale muito à pena. Saber que nunca se perde tudo. O tudo também se transforma. E o que sobra é suficiente para seguir em frente e se reprogramar. Reinventar e reescrever. A crônica da vida. A poesia que é o amor. O conto de fadas que é a verdadeira amizade. A nossa viverá para sempre. Terá um “happy end”. Eu nunca vou te abandonar.


quarta-feira, 20 de julho de 2011

As flores de Ícaro



Ícaro ganhou uma planta de presente da empresa em que trabalhava. Quando ele chegou da rua, lá estava ela embrulhada em um papel transparente. A planta que ele não fazia idéia de que espécie ou família pertencia veio com mais algumas sementes e um manual de instruções: faça alguns riscos no solo, marcando as linhas onde as sementes ou mudas serão colocadas. Plante na profundidade certa. Sementes plantadas muito fundas podem não conseguir subir à superfície e morrer. Sementes plantadas muito rasas podem gerar plantas fracas que tombam facilmente. Não precisa ser a medida exata, mas evite erros grosseiros.
Que maravilha! – ele pensou. Quem dera se a vida viesse acompanhada de um manual tão claro e objetivo. Poderia ser assim o relacionamento com a namorada Marília. Quando ela diz “não precisa me buscar no aeroporto.” Será tão difícil de entender que às 6h40 da manhã, no horário tão ingrato do vôo mais sacrificante de todos, depois de dois anos de encontros e despedidas ela sempre procurava por ele segurando uma plaquinha com as quatro letras no saguão do aeroporto? Ou em devaneios mais graves, quem sabe ele estaria com um buquê de flores do campo, escondido atrás de algum carro no estacionamento?
Ou das vezes em que Marília despiu-se e revelou a calcinha nova, comprada para aquela ocasião; porque ele pulava a parte dos elogios? Ora, ela não estava cansada de ouvir falar sobre sua beleza? Onde já se viu um quarentão apaixonado por uma adolescente? Mas na literatura tudo é permitido. Ele jamais sentiria ciúmes do tal Dirceu. Deixava-o com seus planos de uma vida futura sossegada e seu tom meloso, que só Marília mesmo para admirar...
A Marília verdadeira vivia com ele naqueles efêmeros dias. Os ósculos roubados. Os ósculos depois implorados. A pequena tinha o dom de importunar! Na hora da leitura sagrada ou do jogo do time fracassado que perde todos os pênaltis.
Ícaro, se você tivesse um pequeno glossário de sentimentos, poderia ter evitado o choro incontido dela. O pranto que à noite se transformava em ronronar (para não ser indelicado e tornar público que a moça roncava mesmo).
Ícaro, que tantas vezes exaltou a redundância. “A repetição leva à perfeição”, você dizia aos seus alunos. Não conseguia perceber que todas as vezes que ela falou sobre sentimentos estava com a garganta arranhando. A boca seca pelo medo de ser repreendida. Quanta pressão! Respeite pelo menos a minha doença! É com a diastólica que devemos nos preocupar. A mínima é que exige a máxima atenção, você bradava.
Marília queria tudo de você. Seu amor, seu afeto, sua amizade, sua cumplicidade, a calcinha no útero, os pronomes trocados e agora os nomes também. Ela desistiu de pedir mais de um travesseiro na cama. Abriu mão do primeiro e do último pedaço do pão. Fechou os olhos para a sua insensibilidade; embora ela nunca tenha descoberto se era proposital ou simplesmente resultado da falta de exercício.
Você que leu Shakeaspeare e ensinou que todo o cuidado com o manipulador do lenço era pouco. O demônio de olhos verdes a rondava. Ela o via em seus pesadelos. E não se materializava em uma personagem de seus romances e nem nas ancas largas do teu passado.
Ícaro, qual é então, o teu medo? Você não aprendeu que voar até próximo do sol é mais perigoso do que podias imaginar? E Marília que não tem parentesco com deuses nem semideuses quantas vezes já te ajudou a tirar os pés do chão?
Esqueça o manual de instruções. Esqueça os 19 volumes de Freud. Você teme mergulhar no continente negro. Não o continente que abrange os países daquelas que deitaram no teu divã e alugaram os teus ouvidos. O continente onde está a cidade praiana onde um dia você poderia morar.
Neste país em que na mesa de jantar o lugar é para dois. Onde os festejos são embalados pela batida do som inaudível.
Plante a semente. Deixe a vida florescer. Só não corte jamais as rosas. São as únicas flores que Marília e sua mãe Virgínia, jamais suportariam ver cortadas.

domingo, 3 de julho de 2011

EU Vs ElaS



Todo namorado tem uma ex-namorada para encher o saco. E elas são de todos os tipos. Podemos encontrar desde a louca e inconformada, como até a pseudo-legal que só quer preservar a amizade. Seu namorado diz que manter a amizade com a ex é sinônimo de civilidade. É o discurso dele. Eu não faço questão dessa imagem. Você, amiga que ainda visita este blog cheio de teias de aranha, pode muito bem estar se familiarizando com o tema.
Você acha que tem problemas com a ex do seu atual? Então aí vai um consolo.
Nada como namorar um escritor. Além das ex-namoradas há as personagens. E nessa briga, eu perco feio.
Se ele me telefona três vezes ao dia, eu que me dê por satisfeita! Mas as personagens?! Ele pensa nelas o tempo todo. O dia inteiro. No banheiro. Durante as refeições. Quando está dirigindo... É pior do que a Luana Piovanni como mulher invisível.
A minha arqui-rival se chama Nicole. Ela já foi loira, já teve olhos verdes, joelhos ralados. A bruaca ainda tem a mesma profissão que eu. No primeiro livro ela era repórter de TV. A nossa diferença? Ela já ganhou o prêmio Esso. Depois ela apareceu como estudante de psicologia e mais recentemente ao que eu soube anda se aventurando no mundo das ciências biológicas.
Nicole nunca me enganou. Quem leu o “Analfabeto que passou no Vestibular” e “O marido perfeito mora ao lado” sabe bem ao que me refiro. Essa figura não é flor que se cheire!
Porém, continua mais presente do que nunca na vida do meu namorado. É claro que já perguntei de onde ele tirou inspiração para tantas qualidades e defeitos dessa “zinha”. E adivinhem? Nicole é uma mistura de todas as ex-namoradas, “ficantes”, conhecidas e até desconhecidas dele. Isso aí. Ele pegou o cabelo de uma, a perna de outra, o braço de mais outra e jogou tudo no processador de ideias. O resultado foi a gororoba da Nicole.
E aos amigos escritores e por ventura corporativistas, não me digam que personagem é como filha do autor. Não agüentaria presenciar um incesto.
Nicole é imprevisível. Mas altamente presente. Se falamos sobre um novo livro, roteiro, novela, sempre tem que ter o papel da Nicole em destaque. Ela é ardilosa. Ele já perdeu noites de sono pensando nela e o mau-humor da manhã seguinte, quem agüentou fui eu.
Só a conheço através dos olhos dele. Nunca soube se era alta ou baixa. Como leitora, me sinto no direito de imaginá-la bem baixinha. Uma tampa de refrigerante que só com um cascudo do alto dos meus 1,78m a faria beijar a lona. Que ela é inteligente não posso negar. É público e notório. Afinal, quem apronta o que ela já aprontou e sem ser pega, tem um Q.I acima da média. Convivência com ele, obviamente. Sozinha eu duvido que ela consiga chegar até a tapioca da baiana na esquina.
Mas tudo bem, queridinha. Pode continuar nas nossas vidas. Apareça sempre. Traga criatividade e inspiração. Divido espaço com você na noite de autógrafos. Não me importa que todos fiquem eletrizados com suas tramóias. Estarei sempre de olho! Fique com seus joelhos ralados. Mas o cotovelo dele, pode deixar que eu cuido e muito bem!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Eu tenho peito!




Jornalista é bicho esquisito mesmo. Quem atua na reportagem então, nem se fala. Tem que ter peito pra encarar. Depois que me formei há cinco anos tive a oportunidade de ter contato com alguns acadêmicos do curso. Em uma das vezes participei de uma aula de telejornalismo na Universidade Federal Fluminense, em Niterói – RJ. Foi uma espécie de bate-papo em que alguns vídeos meus foram exibidos e eu comentava sobre as matérias. Claro que eu fiquei me sentindo. Me sentindo mais velha, mais experiente e mais burra. Burra sim, porque depois que entramos na rotina frenética de uma redação é difícil manter um ritmo de leituras e o nível intelectual elevado. Surge aquele arrependimento de que deveria ter prestado mais atenção durante as aulas na faculdade. Saudade dos fichamentos, dos seminários e da cara de surpresa das pessoas, pois modéstia à parte cultivei boas notas desde o jardim de infância.
Faça um mestrado! Grita uma voz na minha consciência e outra lá da cozinha que deve ser a minha mãe. Tenho a vontade. Me falta a coragem. Pelo menos tento guardar um tempo nos raros finais de semana de folga para me deleitar de literatura brasileira e sempre tenho na cabeceira algum livro de poesia, até para acalmar a mente depois de um dia estressante.
Optei pelo jornalismo iludida com o glamour e o poder da televisão. O glamour, desde já eu garanto que não existe. Entrar na casa das pessoas todos os dias através da telinha não é nada simples como muitos podem pensar. Todo mundo rala muito. Quase todo mundo tem, teve ou terá gastrite nervosa. Você sai da redação com o cabelo escovado e maquiada e volta totalmente acabada, digna de um filme de terror. Todo jornalista leva chá de cadeira. Muitos são xingados. E as pérolas podem ir de “gostosa” até “filha da puta”.
Outro dia eu apanhei de um médico. Somos obrigados a fazer perguntas óbvias e até idiotas. Mas é o nosso trabalho. O cara estava nervoso. Eu perguntei: “O senhor é médico?” Ele empurrou o microfone contra o meu peito. Na hora achei que iria precisar de prótese pra reconstituir meu seio. Não chegou a tanto. Ufa.
Só que tudo isso faz parte da dor e da delícia de trabalhar com o inusitado. Um dia posso falar sobre falta d’água e tentar ajudar uma comunidade que sofre com a falta de uma necessidade e um direito básico. No outro posso estar diante de um assalto com adolescentes apontando a arma para cabeça de pessoas que poderiam ser meus parentes, seus parentes, pessoas a quem chamamos de personagens.
Vida louca, né? Mas depois de dois anos na reportagem cheguei à conclusão de que não fui eu quem escolheu o jornalismo. Ele me escolheu. Não posso ouvir sirenes de ambulância ou polícia. Acidente? Assalto? Não posso presenciar infrações no trânsito. Não posso ouvir a frase “eu quero a imprensa”. Odeio trabalhar nos feriados, mas não me imagino curtindo um dia livre no meio da semana.
Às vezes saio de casa e minha mãe pergunta: Vai fazer o quê hoje? Não sei. Nunca tenho a resposta. O inesperado me espera. O desconhecido me atrai. Seja de madrugada ou no sol quente do meio-dia o que me encanta é a dança das palavras surgindo no papel. Escrevo com o carro em movimento. Sob a pressão do celular tocando. Cercada de pessoas falando ao mesmo tempo. Não entendo nada de corte e costura. Mas enfio a linha na agulha, ou melhor, a caneta no papel e pelo menos tento traduzir o que vejo, ouço e sinto.
Cada matéria que vai ao ar é como um filho. Eu pari, e ele partiu. O bom é que no dia seguinte vou engravidar de novo e em poucas horas parir de novo. Ainda não tive filhos de verdade. Dizem que a dor do parto é foda. Tô preparada. Meus seios estão a salvo e poderão amamentar. Eu tenho peito!




* Foto da capa do livro "Histórias Reais" da Sophie Calle





segunda-feira, 30 de maio de 2011

Hipo



Como explicar para alguém quanto você o ama? Não existe sistema de medida para o amor. Não posso medir o amor através de unidade de comprimento de superfície: Amor, eu te amo 500 metros. Ou unidade de capacidade: o que sinto por ti daria para encher uma caixa d’água de 700 litros. Pior ainda se for falar em peso: te amo 200 Toneladas.
Não dá. O que eu posso medir em volume é a quantidade de lágrimas que já derramei por saudade. Tentar contabilizar quantas vezes já teria dado voltas pelo mundo percorrendo os 3.000km que nos separam. Mas ele nunca entenderia o peso da minha cabeça quando temos uma discussão.
Ninguém precisa explicar o amor quando há a sensibilidade de notá-lo nos pequenos e nos grandes gestos. Eu amo quando peço indicação de um livro, me emociono com um texto e imediatamente ligo para ele com a intenção de dividir. Amo quando criamos nossas metáforas. Quando peço para ele voltar da cozinha, quando ele sonoriza o meu lugar, quando dançamos na sala sem música. Amo quando tenho a certeza de que ele será o pai dos nossos filhos.
Eu amo também quando imploro por atenção. Nos dias em que preciso de um tom de voz mais acolhedor, até nos dias em que pensei em desistir de tudo, mesmo sabendo que desistir de tudo seria desistir de mim.
Temos nossas diferenças. Uma passional + um racional = dois bicudos. Que quando estão perto se beijam no aeroporto, na parede, na pia.
Eu amo o meu peixe da hora em que acordo, até o momento de ir dormir. Durante o sono, arrisco a dizer que amo ainda mais, quando sonho que estamos juntos e desta vez é para sempre.
Nunca deixei de amá-lo nos momentos difíceis, foi também quando o amor cresceu. Me enfrentou. Comprou a briga. Amo o amor da minha vida quando ele bebe café e beija a xícara eroticamente. Quando nos encontramos e ainda sinto um frio na barriga. Quando nos despedimos e eu rolo no chão de tanto chorar, e ele tenta me consolar sem sucesso.
Mas na verdade, eu não te amo. Não sei se já amei alguma vez na vida. Mas já disse que amei.
Você, eu hipo. Hipo com a força de todos os cavalos do mundo. Com o simbolismo da estrela de cinco pontas. Com as letras desengonçadas de quem escreve e não troca os pronomes. Pois para mim, só existe um: você.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

As Mônicas de nossas vidas.



Coincidência ou carma? Durante a minha infância a Mônica mais conhecida era aquela personagem criada por Maurício de Souza. A que até hoje é sucesso entre as crianças e passou por várias gerações. A baixinha, gorducha e dentuça sempre teve a auto-estima lá em cima, não se importando com os xingamentos de seus arqui-rivais nem que pra isso quase sempre fosse necessário lançar mão e lançar alto o famoso coelhinho Sansão.
Pois bem, a minha época de devorar os gibis passou e o que veio em seguida foi a fase da adolescência, marcada pela história de outra Mônica.
Quem não se lembra de Mônica Lewinsky? A estagiária da Casa Branca graduada em psicologia e que realmente abalou o psicológico do então mais poderoso homem do mundo: o ex-presidente dos Estados Unidos da América Bill Clinton. Essa aí foi do babado! Eles poderiam ir para um Hotel chique, ou até um motel de beira de estrada desses que assistimos em filmes blockbuster. Os pombinhos resolveram fazer sexo oral na sala oval da White House. Símbolo, sede do poder e do império dos norte-americanos. Tsc tsc. Seria algum fetiche do Mister President? Ou exigência da Senhorita Mônica? Essa é uma questão que ficará no imaginário e na História para sempre.
Mas como se não bastasse, nosso Brasil também têm Mônicas. E das boas viu. Mônica Veloso, jornalista e com um corpinho de dar inveja a muitas “tchutchucas”. O ano era 2007. O caso chamado Renangate envolvia o nome do então presidente do Senado Renan Calheiros com escândalos de corrupção denunciados na imprensa. O coitado do senador, seduzido aos encantos de mais uma Mônica teve uma filha com a gostosona. E depois que o romance acabou foi acusado de recorrer à ajuda financeira de lobistas ligados a construtoras, que teriam pago despesas pessoais, como o aluguel de um apartamento e a pensão alimentícia para a jornalista mineira. A bagatela de 12 mil reais. Por baixo, né gente? Vamos combinar que míseros 12 mil reais não dão nem pra pagar a academia,o personal trainner, os tratamentos estéticos, o botox, as hidratações semanais no cabelereiro... Que isso, minha gente? Uma mulher precisa se cuidar. Eu hein! O resultado do poder de mais uma Mônica os leitores da Playboy puderam conferir através das lentes do expert J.R Duran em outubro de 2007. Eu não vi. Mas acredito nela quando disse que “Não precisou de photoshop”. Ora, quem precisa?
Para terminar minha singela homenagem às Mônicas deixei para o final, a não menos importante Mônica Pinto. Ela que está bombando nos jornais e telejornais paraenses e até já apareceu no Jornal Nacional dando entrevista exclusiva ao meu colega de trabalho Fabiano Vilella. Sempre com suas jóias cravejadas de brilhantes, suas blusas de cetim, maquiagem impecável e cabelos de comercial de shampoo (importado óbvio né?). A ex-chefe da seção da folha de pagamento da Assembléia Legislativa do Pará resolveu abrir o verbo e colaborar com a investigação do Ministério Público. Segundo Mônica, cerca de um milhão de reais eram desviados por mês da ALEPA e ela contou sobre funcionários fantasmas, existência de laranjas, estagiários contratados que nem eram estudantes. Uma farra sem fim. Mônica Pinto assumiu a direção do Departamento de Gestão de Pessoal a convite do então presidente da Casa, ex-deputado Domingos Juvenil. Dizem as más línguas que os dois chegarem a ser mais do que apenas bons amigos. Mas isso é o que dizem por aí. E vocês sabem, o povo fala demais...
Porém sobre o romance com Robson do Nascimento, o ROBGOL, esse sim, Mônica revelou sem pudor. E como tudo que é bom dura pouco, foi a própria quem sugeriu ao Ministério Público que desse uma checadinha na casa do ex-Papão. Mas eles só encontraram 500 mil reais em dinheiro e 40 mil reais em vale-alimentação. Vocês também sabem o que comentam sobre esse pessoal do meio futebolístico...gostam de uma festinha. É sempre bom, ter uns trocados em casa.
Perguntada em entrevista à TV Liberal se “Sentia algum constrangimento por ajudar no desvio de dinheiro público?” Mônica disse que sim. Que sentia vergonha. E terminou jogando os cabelos pra trás numa mensagem subliminar que despensaria qualquer outra frase. Entretanto ela arrematou: “Como posso explicar, o inexplicável?”
Não explique Mônica. Nós sabemos que a culpa toda é do estigma criado por Maurício de Souza. Ta aí a resposta. Elas não são baixinhas. Não são gordinhas e muito menos dentuças.

domingo, 8 de maio de 2011

Para a melhor mãe do mundo...



Durante anos os médicos foram categóricos com a minha mãe: “a senhora não pode ter filhos.”
Ela fez tratamentos, viajou em busca do avanço da medicina, até submeteu-se a receitas populares: põe as pernas pra cima, fica de cabeça pra baixo, sobe a escadaria da Penha de joelhos (isso ela não fez, mas tenho certeza que faria!).
Quando ela não imaginava mais que seria abençoada com o dom da maternidade, Deus lá de cima resolveu chamar uma estrelinha.
- Estrelinha! Você vai fazer uma viagem – Ele disse.
- Viagem Papai do Céu? Mas eu gosto tanto de morar aqui, perto dos meus amigos anjinhos, das nuvens tão macias... Pra onde eu vou?
- Você vai para um lugar chamado planeta Terra. Lá você enfrentará muitas dificuldades, mas não se preocupe. Sua primeira parada será no ventre de uma mulher que todos os dias me implora pela sua presença. Ela vai te amar, não tanto quanto Eu te amo. Porém, ela cuidará de você, acalmará seu coração nos momentos de angústia, cantará canções de ninar e durante todos os dias da vida de ambas vocês dividirão um amor imensurável. Serão mãe e filha. Serão melhores amigas.
- Tudo bem, Papai do Céu. Já estou curiosa para conhecer esta mulher que o Senhor diz que me ama tanto, antes mesmo de me conhecer!
E assim a estrelinha viajou e foi parar dentro de um lugar quentinho e acolhedor. Nos primeiros nove meses a estrelinha só ouvia uma voz amorosa todos os dias. Dizendo o quando ela era querida e esperada.
A estrelinha se transformou em um bebê. E quando nasceu o primeiro contato foi inesquecível. Cheia de sangue e lágrimas, nossa primeira ligação foi cortada: o cordão umbilical.
Sem problemas, o cordão continua guardado dentro de uma caixinha de jóias, 26 anos depois. E podem apostar para ela vale mais do que qualquer diamante.
Acontece que uma ligação muito mais forte se estabeleceu. Minha mãe me ensinou a andar. Segurou firme na minha mão durante todas as quedas. E ainda hoje quando tropeço é direto no colo dela que eu vou parar.
Ela arrancou meus dentes de leite. “Mãe vai doer?” “A mamãe segura na sua mão.” “Mãe, vou fazer uma tatuagem.” “A mamãe segura na sua mão.” “Mãe, eu quero casar.” “A mamãe só quer ver você feliz, porém lembre que se não der certo, você tem sempre pra onde voltar.”
Minha mãe me ensinou a ler. Letra por letra. Decifrar os códigos que aos quatro anos pareciam tão confusos. E com o talento nato dela, nesta mesma idade escrevi um bilhete guardado até hoje: “Mamãe, cinto que te amo.” O “cinto” com “C” foi um erro de principiante. Logo ela me mostraria que na vida erramos muito, não só erros ortográficos, mas de escolhas, através de atos, de ausências.
Nossas declarações de amor são diárias. Nossa companhia é de admirar todos que pouco nos conhecem. Vamos à academia juntas, ao salão de beleza, aos shows, aos jantares, temos viagens inesquecíveis.
Só que o momento mais gostoso do nosso dia é a hora do chamego antes de dormir. Minha cama é de casal e ultimamente temos dormido juntas, agarradinhas.
Aos 26 anos, alguns rituais não mudaram: “já escovou os dentes?” “almoçou direito?” “Lanchou no trabalho?” “Linda na televisão, não falei que veria você na telinha da Globo?”
São tantos momentos, que eu poderia escrever um livro. Sei que os joelhos dela têm calos de tanto rezar por mim, e a mão não larga o terço cada vez que ela percebe só de olhar, que há algo de errado no meu semblante.
Algumas pessoas têm conceitos errados sobre ser mimada e ser amada. Minha mãe me repreende sempre que necessário. Faz críticas. Aponta meus erros e sim (pasmem) até berra comigo.
Só que ela é minha melhor amiga, meu maior alento, a companheira mais incansável que eu poderia ter nessa guerra chamada vida. Vencemos muitas batalhas. Perdemos outras, como a morte do meu pai e da minha avó.
Dom Quixote e Sancho Pança não nos causa inveja. Alguns dias ela vê moinhos e eu gigantes. E vice-versa. Mas juntas, enfrentamos tudo. Porque temos uma à outra.
Existe um ditado judaico que diz “A mãe compreende até o que os filhos não dizem.” Não tenho a menor dúvida.
Mãe, obrigada por tudo. Pela paciência, pela sua voz cantarolando pela casa, por me telefonar dez vezes por dia. Por chorar o meu choro e sorrir o meu sorriso.
Papai do céu, eu era uma estrelinha, mas só pude brilhar quando cheguei aqui. Ao lado da minha mãe. Ela é sem dúvida, a minha maior força, inspiração e razão de viver.
E nem pense em se ausentar, viu? Essa foi só a primeira parte da nossa história. Algum dia você terá netos, e eles, assim como eu, vão precisar muito dos seus afagos.
Feliz seu dia. Feliz meu dia. Feliz de nós, que nos amamos e nem a morte nos separa.

sábado, 30 de abril de 2011

Flores de plástico



Há cerca de um mês eu reencontrei uma grande amiga. Ela está grávida e apesar de não morarmos mais na mesma cidade há 12 anos felizmente nunca perdemos o contato e sempre estivemos presente na vida uma da outra, mesmo quando ausentes.
Lembro da nossa amizade que começou dentro de sala de aula. De como naquele tempo não tínhamos preocupações ou obrigações, a não ser com o boletim escolar.
Minha amiga casou cedo, construiu uma família linda e sólida e todas as vezes que ouço uma música da “nossa época” ou falo com alguém da família dela, meu coração transborda de alegria. Não nos telefonamos com freqüência, infelizmente. Sei que não é por descaso de nenhuma das duas. Mas quando nossas vidas se cruzam, é como se apenas uma noite tivesse passado, e as últimas palavras ditas fossem “até amanhã, pit”.
Tenho poucos amigos, mas os que posso chamar assim são verdadeiros e contribuíram para a construção da minha personalidade.
Alguns ainda moram na mesma cidade que eu, e não é a distância física que nos separa. O corre-corre, a falta de tempo, o mau uso dele, o estresse. Tudo que pode soar como desculpa (e às vezes é) e teimam em se interpor a nós.
Aqui faço um “mea culpa” pois não é fácil ser meu amigo. Sou boa ouvinte, mas ultimamente tenho emprestado pouco meus ouvidos e meu ombro. Não telefono e não retorno as ligações. Dificilmente respondo recados e tampouco os envio. Quem lê esta confissão pode até fazer um julgamento negativo sobre a “Karla - amiga”. Entretanto, tenho certeza que os meus amigos, sabem, entendem e principalmente respeitam o meu jeito e o momento.
Lembro de grandes amigas com quem dividi experiências fantásticas. Aquelas que estiveram comigo em todos os meus aniversários desde os 16 anos de idade. Com quem eu troquei e ainda troco confidências, ri até doer a barriga e chorei até os olhos ficarem inchados. Nossas viagens, memoráveis. Nossas festas, incontáveis. Nossas perdas, doloridas. A madrinha do meu cachorro. De quem eu fui madrinha no casamento. Minha conselheira e psicóloga particular. A primeira mãe do grupo.
Tem também a amiga de faculdade, que casou recentemente. A amiga do prédio, que está deslanchando na carreira médica. A amiga da amiga, que ganhou independência e se transformou em grande amiga. A amiga de férias, que até veio morar comigo um tempo.
Não posso deixar de citar o amigo de infância, que desde criança já demonstrava que seria um grande profissional, elaborando seu vocabulário “minuciosamente” desde a 6ª série na hora de fazer colocações pertinentes e deixar os professores constrangidos diante da intelectualidade precoce.
Escrevi que eram poucos, mas na verdade são muitos. E eles se multiplicam a cada lembrança, cada reencontro, cada vitória.
A amizade merece e deve ser cuidada. Mas se for cair em um clichê e comparar a amizade a uma flor, não pensaria em rosas ou orquídeas. Ousaria dizer que somos flores de plástico. E como diz a canção “as flores de plástico não morrem”.

sábado, 16 de abril de 2011

Os homens sem passado


Os homens sem passado. Eu poderia escrever sobre o inusitado. O cotidiano jornalístico sem dúvida é uma fonte inesgotável de inspiração e situações inverossímeis. Às vezes tudo é tão distante da realidade que alguns de vocês apostariam que eu estaria me lançando no mundo da ficção. Ainda não acho que seja o momento. Continuo preferindo usar o blog como uma espécie de divã pessoal. Quer dizer, pessoal até o momento em que eu angario alguns poucos, porém fieis leitores, e que me deixam imensamente feliz quando metem o bedelho de forma irretocável. O título deste post andava permeando minha mente há alguns dias. Tá bom! Aos 26 anos já tive algumas paixonites agudas, uns namoricos, um relacionamento muito denso e agora acredito experimentar o que chamam por aí de “amor”. Mas todos estes integrantes da minha biografia, enquanto estiveram ao meu lado, poderiam ter sido homens sem passado. Quem gosta de saber que aquele restaurante tão romântico, aquela surpresa criativa, aquele apelido carinhoso... que o SEU lar, já foi habitado por outra pessoa? Ciumenta assumida. Oi gente. Meu nome é Karla. Tenho 26 anos e morro de ciúme do passado do meu namorado. Entra agora a galera do “deixa disso”. Passado é passado. Se fosse tão bom, ele estaria com ela(s), certo? Ok. Faz sentido. Mas ainda assim, torço o nariz. Mordo o lábio inferior. Fico autista. Depois que o namoro acaba, existe o que chamo de período de luto. Diferente em cada situação. Por alguns chorei duas semanas. Por outro... Quase dois anos. Mas quando o tempo e a distância se encarregam de levar embora o sentimento, para mim não sobrou praticamente nada. Talvez poucas e insípidas lembranças. Afinal, tenho que ter o que contar para meus filhos quando eles chegarem comigo para trocar confidências amorosas, né? E agora vem a “mea culpa”. Eu pergunto e perguntei para todos eles. Mas como era fulana? Era assim que você falava com ela? Pra mim nunca houve depoimento no Orkut... Ah, quer dizer que você não esquece o primeiro encontro com a Beltrana? Como entoa um clássico pop da atualidade: “Loca,loca,loca...” Será que só eu fui mordida pelo bichinho da curiosidade? Ou seria o bichinho curiosidade tipo 4? Que tem como agravante seqüela de insegurança. Hum, hum. Boa reflexão. O fato é que muitas vezes me pego pensando que adoraria conhecer “homens sem passado.” Comentei isso com meu namorado outro dia. Sabe o que ele disse? “Que triste, Kaká. Pessoas que não guardam boas recordações não têm experiências positivas para aprimorar e muito menos negativas para reprimir. Um homem sem passado é um cara que ainda acredita que as cegonhas trazem os bebês." É foda namorar um intelectual atípico. O cara tem resposta pra tudo. E não é que no final das contas concordei com ele? Caras sem passado além de tudo isso, provavelmente sofrem de ejaculação precoce. É... mas continuo de olho nos recadinhos no facebook, nas mensagens enviadas para o celular em horários impróprios e nas desculpas esfarrapadas para reencontros “que foram pura coincidência”.

*Foto do filme "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" (2004)


terça-feira, 12 de abril de 2011

Cérebro e bunda: combinação perfeita.


Eu ando em busca do meu bem-estar, mas essa missão é mais complicada do que eu podia imaginar, sabe? Talvez eu confunda perfeição com bem-estar e aí é algo que terei que resolver comigo mesma, com terapia e com os comentários de vocês que serão super bem-vindos. Tenho convivido anos com pessoas que dividem as mulheres em dois grupos: as feias e inteligentes e as bonitas e burras. Posso dizer que passei pelos dois mundos e parei no meio do caminho. Não sou burra, tampouco me acho feia. Mas vamos combinar que ser bonita e inteligente dá trabalho. Malhar o cérebro e o glúteo exige esforços diferentes, porém ambos provocam dor e cansaço. Nada como usar um vestido com um caimento perfeito, que valorize todas as curvas do seu corpo durante um jantar em que se possa conversar sobre poesia, música e arte. Quem usa espartilho pode e deve ter lido Virgínia Woolf. Ser fã do Woody Allen, fazer massagem ao som de Turandot. Exigente! Vocês devem estar pensando: “essa daí está se achando.” Eu não me acho. Estou trabalhando arduamente para um dia me ter certeza. Nesse dia sei que serei mais feliz. É que aí eu me bastaria. Mas por enquanto, nada disso tem graça sem um homem para dividir as qualidades conquistadas. Eu, como diria meu poeta brasileiro preferido “sou uma mesa de jantar para dois”. Sinto falta do elogio. Da redundância. Do clichê das rosas vermelhas e dos bombons que jamais serão devorados (quem quer ganhar espinhas e gorduras? Poupe-me, o que vale é apenas a simbologia, chocolate NUNCA é bem-vindo). Em todas as rodinhas de mulheres que eu freqüente ouço de longe as reclamações: falta homem. Eles não querem compromisso. Todos já estão comprometidos. Eles não ligam no dia seguinte. Enfim, nós queimamos sutiãs em praça pública, mas continuamos querendo preparar uma surpresinha no fim do dia. Não necessariamente o jantar. Eu por exemplo, não sei cozinhar. Mas lavo a louça numa boa! O que falta, queridas amigas para calçarmos o sapatinho de cristal? Ou no melhor estilo Carrie Bradshaw, aqueles Manolo Blahnik azul dos sonhos?Você que já leu 8 dos 10 livros mais vendidos da lista da revista Veja. Você não se orgulha disso, mas não está nem aí para os preconceituosos que acham que você não deveria mencionar isso em público. E daí? Na estante onde cabe um “Querido John” cabe também “O retrato de Dorian Gray” do Oscar Wilde. Você que gasta 1.200 reais em óculos Dior e passa o resto do mês pechinchando pra fazer as unhas. Você que não quer mais saber de balada, de bebida, de beijar desconhecidos, mesmo que eles sejam a cara do Brad Pitt. Você me entende? Puta que pariu. (Às vezes eu gosto de falar palavrão). Será amiga, que estou pagando de mulher desesperada? Amanhã eu tenho terapia. Prometo escrever para contar sobre algum possível insight.


PS: A FOTO DA VIRGINIA WOOLF É SÓ PRA ILUSTRAR. NÃO SEI SE ELA TINHA BUNDA!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

PRESSÃO


“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.” A frase de Charles Chaplin me fez refletir sobre os últimos acontecimentos da minha vida. Houve uma inversão de papéis. Inversão esta, previsível, porém não tão desejada.
Tenho andado às avessas com um problema crônico da minha mãe: pressão alta. “Doença silenciosa” como adoram dizer os especialistas, mas que em nossas vidas têm feito muito barulho.
Os remédios são diários e o tratamento ininterrupto. Tudo aceitável, se não fosse a pressão arterial da minha mamy’s resolver nos pregar sustos, vez por outra. Esta noite (ou já será dia?) foi um dos maiores.
Resolvi escrever no blog sobre o assunto para desabafar minha indignação com certas situações, pessoas e planos de saúde!
Mamãe passou três horas mendigando a atenção de médicos e enfermeiros que marchavam em ritmo descompassado de um lado para o outro do hospital. O cenário mais ou menos assim: Um avalia. Outro encaminha para lugar nenhum. A medicação é dada. Nada muda. Ela se queixa. É ignorada. Não tem leito. Espera o outro médico chegar. Acabou o plantão. Um jogo de empurra dos mais lamentáveis que já vi.
Foi preciso alguém no hospital reconhecer que eu era “aquela” repórter da TV. Daquela TV! Crianças chorando. Velhinhos murmurando de dor. Casais, irmãs, pais, filhos, mães. A minha mãe sendo vítima de negligência.
Tive que partir para um senhor vestido de branco que passeava por um corredor e perguntar:
- O senhor é médico?
- Sou – ele respondeu.
Então porque tantas pessoas estão esperando por um minuto de atenção? Perguntei retoricamente. A minha cara foi suficiente para ele entender o que eu queria.
Mais de sete horas entre injeções, pílulas, exames e até troca de figurinhas entre especialistas. Minha mãe começou a ser atendida dignamente. O motivo é que não foi nada digno.
Medo de denúncias na mídia, um pequeno incentivo para acirrar os ânimos por ali e eles logo se tocaram que apesar de pacientes, paciência tem limite.
Foi uma noite em que eu era a mãe e ela a filha. Frágil, desprotegida, precisando de colo. Os papéis se inverteram e eu assumi a leoa que toda mãe deve ter dentro de si.
Durante todo esse período dramático em que dois numerais infernizaram minha cabeça (pressão: dezoito por dez) ouvi choros incontidos, maqueiros apressados, enfermeiros nada simpáticos e médicos se achando deuses.
Graças ao verdadeiro e único Deus, minha mãe melhorou e voltamos para casa. Na minha cabeça, duas imagens: uma garotinha na cadeira de rodas, vomitando dentro de um saco e esperando por atendimento e a quantidade de gente que eu já entrevistei que perdeu, sofreu e gritou por causa do caos na saúde pública. E que hoje constatei: não difere da privada (nenhuma palavra aqui é escolhida aleatoriamente).
Cenas tristes que infelizmente fazem parte desta peça chamada vida. Para alguns com mais de um ato. Para outros, com a falta de atos que levam as cortinas a se fecharem antes do primeiro aplauso.