sábado, 18 de dezembro de 2010

Menina Fantástica


Durante dois meses acompanhei como repórter e telespectadora a trajetória da jovem Tayná Carvalho. Fiz algumas reportagens com ela e a família, mas a que mais me surpreendeu foi a última quando estive na casa da modelo, no bairro da Pedreira em Belém. Uma casa humilde e pequena, cercada de vizinhos curiosos e sorridentes. A mãe da Tayná, a Dona Imaculada, me falou sobre os hobbies da filha que orgulhosamente gosta de ler e ainda guarda uma coleção de bonecas.
É engraçado como a minha profissão me faz passar de estranha a quase íntima em questão de minutos. Não só quando entramos na casa das pessoas através da telinha, como também quando temos oportunidade de compreender mais a fundo a vida e o sonho dessa nossa gente tão bonita.
Tenho que contar que antes de começarem as inscrições, encontrei coincidentemente a Tayná em um shopping de Belém. Quem não sabe ou não lembra, eu passei nove anos da minha vida trabalhando como modelo antes de mergulhar no universo jornalístico. Posso dizer que sei reconhecer uma beleza comercial quando estou diante dela. E foi o que vi na Tayná: magreza, altura e um rosto exótico.
Sugeri que ela se inscrevesse no concurso, e fiquei feliz quando em um dia de trabalho a vi entre as concorrentes. Depois de algumas visitas aos parentes e amigos da nossa menina fantástica, arrisco a dizer que ela é muito mais do que um rosto diferente. Ela sabe conversar, se expressa bem diante das câmeras, e tem um trunfo na manga: a garota tem vontade de aprender. Quer conhecer novos países, culturas, línguas estrangeiras. Não apenas o pseudo-glamour que se ela ainda não viveu, vai viver, pois é inevitável.
É preciso coragem pra largar os estudos, a família, a cidade natal e se aventurar em uma metrópole como São Paulo. É antes de tudo necessária maturidade. E de coração, espero que a Tayná esteja pronta para lidar com todos os Nãos que ela vai receber, todas as facilidades ilusórias que vão oferecê-la e que não se distraia com massagens no ego que não levam a nada a não ser quem sabe ao divã de algum psicanalista futuramente.
A beleza é um produto perecível. Mas enquanto ela existe acho maravilhoso que os contemplados cuidem bem deste presente divino. A essência é perene.
Então agradeço a Tayná que me deu inspiração e mereceu um post especial no meu blog. Que nada tem de fantástico, apenas são divagações de uma jornalista que adora conhecer pessoas, apurar os fatos e informar através de notícias.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Happy feelings


Demorei um bom tempo pra descobrir que a felicidade não é um conceito, um lugar ou uma pessoa. Cheguei a pensar que dinheiro poderia não comprar a felicidade, mas nos aproximaria dela. Felizmente fui assolada por novos sentimentos e aspirações que hoje me fazem querer muito mais que fotos ao invés de lembranças.
Não se enganem. Continuo adorando fotos, mas elas só valem à pena quando eu registro bem mais do que a imagem e sim cheiros e sabores.
Eu quero comer pizza e ouvir histórias da II Guerra Mundial. Tomar pepsi sem ser light e discutir sobre a novela do Totó. Eu quero ler Guerra e Paz e dançar Lady Gaga na sala da casa do meu namorado. Eu quero sentir o frio na barriga de entrar "ao vivo". Isso é felicidade pra mim.
Ser surpreendida com novas palavras no vocabulário do meu afilhado. Sorrir para um estranho que diz que “admira meu trabalho.” Ouvir música francesa e italiana e até me arriscar a cantar.
Nunca dei o real valor de como é delicioso ler um livro antes dele virar filme. As melhores cenas você assistiu na sua imaginação!
Receber um beijo de bom dia e boa noite da mãe todo santo dia. Rir das mesmas piadas dos amigos para não tirar deles aquele momento de felicidade.
Ver os mesmos episódios de Friends mais de 15 vezes e ainda conseguir rir de alguns.
Conseguir ter meu nome chamado no diminutivo apesar da minha altura.
Ahh, usar salto alto porque meu namorado não fica constrangido.
Comer no mesmo prato, beber no mesmo copo, e sim, ter meu lado na cama!
Eu adoro abraçar pessoas idosas. Aquela pele enrugadinha me enche de ternura.
Tenho feito um exercício antes de dormir. Penso no momento mais feliz do meu dia e agradeço a Deus. Está dando certo. A felicidade não atua 24hs, mas sempre que possível, bate um frescor...
O melhor momento de hoje foi ter vontade de escrever no blog. Estava com saudades de vocês. E de mim.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Férias 2010


Hoje é meu último dia de férias. Lembro da escola quando retornávamos às aulas e a professora de Português pedia para que escrevêssemos uma redação sobre como foram os dias de folga. Pois embalada nas lembranças do passado, e ainda com um gostinho de liberdade na alma, já que só volto ao trabalho AMANHÃ, antecipo a lição.
Foram 13 meses de trabalho ininterrupto, sem direito a feriados, ou finais de semanas completos. Mas esta foi a profissão que escolhi e procuro exercer com competência e responsabilidade.
Mas como diria Amir Klink “Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV.” Discordando em parte porque os livros sempre me fizeram e fazem viajar. Mas eu realmente precisava respirar outros ares.
Uma das coisas mais curiosas e divertidas que fiz foi construir um móvel. É minha gente... uma estante que parecia um dragão de três cabeças. Porém, não se constrói um móvel sozinho. E o manual de instruções avisava isso claramente, e o vendedor da loja nos incentivou a montarmos os dois, nas palavras dele: “Isso une as pessoas.” Nosso filósofo da Tokstok tinha razão.
Levamos o trambolho para casa e começamos a desvendar cada peça como se fosse um quebra-cabeça. Um segurava o martelo de borracha, a outra a chave de fenda, e aos poucos todos aqueles pedaços de madeira foram tomando forma.
Chegamos a pensar em desistir, tamanho o esforço e complicação do bicho, mas a força que nos une é muito maior e é capaz de encarar e superar os piores desafios.
A estante está de pé. Confesso, um lado ficou meio torto. Mas este lado nós ajustaremos aos poucos, juntos e com novas ideias.
Então foi isso que eu fiz nas minhas férias, construí um móvel, solidifiquei um amor e descobri que a verdade liberta. E que para construir móveis ou uma vida a dois eu preciso ser verdadeira, cúmplice e me amar acima de tudo.
Foram os melhores 19 dias da minha humilde existência de 25 anos. O que pretendo construir nos próximos sessenta será sempre baseado na verdade, na cumplicidade e no amor.
A verdade e os móveis construídos a dois, aproximam as pessoas. E eu usarei fundamentalmente a verdade, sem parcimônia para construir uma felicidade perene ao lado do homem da minha vida.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Dar um tempo...


Sabe quando o relacionamento está estremecido? Um dos lados da corda querendo bambear? Sem nenhum motivo aparente. Não houve traição em momento algum. Não ofendi, muito menos fui ofendida. Não ocultei pensamentos e nem vontades. Odeio pensar na palavra desinteresse. No mínimo, deveria haver outra mira, para cogitar essa possibilidade. Não há.
Mas ultimamente não tenho sentido o mesmo frescor ao ler suas palavras. A cócega na alma, que antes me entorpecia já não me causa mais furor. Será que fiquei mais exigente? Preciso me sentir mais desafiada, mais valorizada.
Não tenho gostado dos últimos textos do Carpinejar. O último livro já era uma premissa que nossa relação de autor e leitora poderia estar caminhando para um desgaste. Acho injusto criticar alguém por quem nutro tanta admiração. Pode ser uma fase. Eu mesma estou passando pela estiagem da inspiração. A escassez da criatividade. Eu espremo. Giro toda a torneira do pensamento. E não cai uma gota de brilhantismo.
Será que ambos estamos passando por um período rigoroso de seca, meu amigo? Enquanto nosso país afunda em enxurradas e o povo sofre sem ter o que comer, estamos em pleno sertão árido, sem conseguir beber da fonte das palavras bem alinhadas?
Se for isso, de alguma forma meu coração se acalma. Até os super-heróis podem ter algum tipo de pane no voo.
Não posso me desiludir com a literatura. Seria imaturidade demais da minha parte. Respeitando tudo o que você trouxe para mim de ânimo e vontade de voltar a escrever, milhares de outros autores merecem minha dedicação. Até os chatos, herméticos e bestas, (como diria um autor carioca que eu conheço) têm seu valor.
Acho melhor deixar nossa relação em banho-maria. Ou ainda, como massa de pão que precisa descansar alguns dias pra ganhar melhor consistência e sabor.
Seus livros continuam em destaque na estante. Aliás, uma prateleira todinha é dedicada somente a eles. Vez por outra prometo revisitar as crônicas e poesias que me fizeram devota de ti. Porém, não sei se por enquanto vou conseguir falar sobre você com a mesma euforia de antes.
É uma fase, vamos deixar determinado assim.

terça-feira, 29 de junho de 2010

"Brilho de uma Paixão"


Meus finais de semana de folga se resumem em três palavras: viagem, conchinha e poesia. Não necessariamente nesta ordem.
A viagem eu deixo para a imaginação de vocês. A conchinha é muito particular. Resolvi dividir a poesia.
Assisti ao filme “Brilho de uma paixão” que conta a história de amor entre o poeta inglês John Keats e sua amada Fanny Brawne. Primeiro tenho que avisar que o filme foi produzido para almas sensíveis. Se você tem um namorado ou companheiro que não tolera romances exagerados, convide uma amiga para ir até o cinema. Você corre o sério risco de além de aturar cara feia, borrar a maquiagem e nem o rímel da M.A.C à prova d’água passou neste teste. (Não foi o meu caso, o rímel não ajudou, mas minha companhia é atípica)
“Brilho de uma paixão” foi dirigido por uma mulher. Touché. Nem precisei ver os créditos para adivinhar. A linguagem toda é extremamente lírica. A poesia não apenas aparece recitada nos versos de Keats. As seqüências de imagens são verdadeiras obras-de-arte. As cores, a fotografia, o figurino. Mais de duas horas de uma projeção que segue em ritmo lento, mas que eu sinceramente não percebi o tempo passar.
A neozelandesa Jane Campion dirigiu o filme com a habilidade de quem ostenta o título de ser a única mulher a levar a Palma de Ouro no Festival de Cannes com o belíssimo “O Piano” de 1993.
Confesso que meu conhecimento sobre poetas ingleses era restrito a nomes como William Shakespeare e Lorde Byron e até cheguei a pensar equivocadamente em Oscar Wilde como inglês (na verdade, ele é irlandês). Orgulho-me em dizer que a cada nova folga, eu aprendo mais.
Voltando ao Keats, quando li a sinopse do filme no jornal O Globo, logo me pareceu uma opção interessante.
Saí da sala de cinema extasiada. Com um nó na garganta e o peito apertado. A história de John Keats (1795-1821) é a de um jovem que teve a vida marcada por mortes (pai, mãe e mais tarde o irmão mais novo que ele cuidava). Para sublimar tamanha dor, Keats encontrou na literatura uma forma de redescobrir o sentido da vida. Seus poemas, hoje exaltados, na época foram dilacerados pela crítica. No meio disto tudo ele vive intensamente um amor pela doce e mimada Fanny Brawne, sua vizinha. Entre encontros e desencontros... Eles... bom, não vou ser estraga prazeres. Vão assistir ao filme!
Mas a descoberta de Keats me fez tão bem, que resolvi dedicar-lhe um post no blog.

Abaixo um trecho de um dos poemas escritos por John Keats: “Endymion” de 1818.

“O que é belo há de ser eternamente Uma alegria, e há de seguir presente. Não morre; onde quer que a vida breve Nos leve, há de nos dar um sono leve, Cheio de sonhos e de calmo alento. Assim, cabe tecer cada momento Nessa grinalda que nos entreteceÀ terra, apesar da pouca messeDe nobres naturezas, das agruras, Das nossas tristes aflições escuras, Das duras dores. Sim, ainda que rara, Alguma forma de beleza aclaraAs névoas da alma.”
Tradução: Álvaro de Campos.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

"SIM, eu aceito!"


Hoje li um artigo em uma dessas revistas de mulherzinha que falava sobre a volta de um costume vilipendiado nas décadas de 80 e 90: o ato de noivar. Na foto de ilustração estava o roqueiro Paulo Ricardo (aquele do olhar 43, sabe?) e sua futura terceira esposa, uma paulista de 24 anos.
O texto falava como os homens estão recuperando o romantismo e pedindo a mão das amadas, com direito a anel de diamante e tudo. Ok, ok. Fiquei com 90% de inveja e 10% de contentamento por estes pombinhos sorridentes da revista.
Mas parei pra refletir sobre o simbolismo em questão. Não tenho nada de muito moderna. Contei isso pro meu terapeuta certa vez, e ele fez cara de surpreso. Ué. Tenho ar de descolada? Eu acredito no casamento, sempre acreditei e sonho isso pra mim. O meu psicólogo falou que eu parecia uma mulher independente demais para querer cuidar de filhos e marido. Ledo engano. Porém cuidar de filhos e marido, não quer dizer obrigatoriamente em largar o emprego e ter que lavar cuecas. Ou tem? Espero que não.
Voltando ao artigo, os casais entrevistados contavam com requinte de crueldade (detalhes para me matar de inveja) como ambos eram românticos, sobre o planejamento para o grande dia, a música que o cara fez para a guria, a declaração em público. Enfim. Coisa que nos fazem soltar um “Ohhhhh” bem alto, sem se importar com quem estiver por perto.
Porém, um depoimento em especial chamou a minha atenção. Uma moça que foi noiva, com todas as pompas e sininhos apaixonados, e acabou NÃO se casando. A entrevistada corajosamente assumia que se preocupou tanto com o noivado e depois com a festa de casamento, que se esqueceu do futuro marido e ex-noivo.
Uma luz acendeu no meu juízo e acho que é bem por aí... todo esse romantismo é lindo, mas não adianta se o amor não for muito bem cuidado todos os dias, com a rotina inevitável, porém ajustável. Como disse em um texto, meu autor favorito, o harasmente perfeito Felipe Pena: “Acredite, meu amigo: a crise não é do casamento, é do ser humano. E é perene, absoluta, inabalável. Tentamos administrar nossas neuroses diariamente. Mas deve ser melhor estar em crise acompanhado do que sozinho. Dividir angústias e compartilhar risadas ainda são premissas eficientes para manter um casal.”
Eu nunca fui casada. Mas continuo apostando no casamento. Ah, mas já fui noiva. DUAS vezes. Nem a aliança H. Stern e muito menos a Vivara, me deixaram tão feliz quanto os silêncios que ouço ultimamente...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Copa do Mundo


Não adianta. De quatro em quatro em anos a atenção do seu homem vai se desviar de você completamente. Se em dias normais você desconfia que ele já não ouve muito o que você diz, em tempos de Copa do Mundo pode ter certeza disso.
Não. Não vamos nos descabelar, amaldiçoar quem inventou essa história de onze marmanjos de cada lado correndo atrás de uma bola, ou de uma jabulani, e fazer beicinho. Não vai rolar.
Confesso que não sou muito fã de futebol. Torço pro meu time vizinho (por questões éticas melhor não declarar publicamente, apesar de desconfiar que todos que me conhecem sabem) e me interesso apenas pelos resultados. Ganhou? Ótimo. Hora de zoar com os adversários. Porque este é o grande barato das competições. Tripudiar em cima da dor e da vergonha daquele que perdeu.
Copa do Mundo é uma mobilização beeeeem maior. Não sou indiferente ao sentimento de patriotismo que invade o país. Todo mundo pendurando bandeirinhas, o verde e amarelo tomando conta das ruas, das vitrines, da moda, até dos esmaltes (mas aí eu acho cafona!) etc.
Prefiro assistir aos jogos do Brasil em casa, apesar da minha mãe ser histérica, dar palpites sem nenhum fundamento e soltar gritinhos desnecessários em jogadas nada ofensivas. Vá lá, nessa época todo mundo vira técnico mesmo e acha que faria melhor que o técnico verdadeiro está fazendo.
Dunga pra mim é sinônimo de infância. Sabe? Sete anões, orelhudo, abobalhado, deu um selinho na Branca de Neve... Nada especial. Da nossa seleção só conheço o meu xará (Kaká) e o Julio Cesar por questões pessoais (digamos que eu tenho motivos para não ir com a cara da esposa dele). Tá, e outros lá que não to a fim de escrever os nomes (ou seriam neologismos?).
O fato é que mesmo que não seja o Brasil em campo, seu namorado não vai te dar atenção. “Peraí, me deixaeu ver essa jogada.” “Queria assistir essa matéria com o ciclano”. “Foi promovida no emprego? Legal”...Uhhhhhhh. Quase foi GOL.
Dificilmente conseguiremos engatar um diálogo. Mas sabe, que bom que é assim. Eu desconfio de homem que não gosta de futebol. Não tem pelo menos um time do coração, que se preocupa em saber a colocação no campeonato brasileiro, que nunca foi a um estádio.Deste tipo de homem, desconfie. Ele não te dá atenção ou porque está de olho em outra, ou porque prefere correr atrás de marmanjos, ao invés de olhar os lances com a bola. E o segundo caso é tiro de meta. Ou melhor, tiro e queda.

domingo, 13 de junho de 2010

Pós-Dia dos namorados


Passei o dia dos namorados lamentando o que não tive. Lamentando a ausência do meu companheiro, reclamando da falta de programação na minha vida e chorando sobre o leite derramado.
Um dia depois, com uma bela noite de sono no meio, os pensamentos começam a clarear.
Carlos Drummond de Andrade escreveu um dos textos mais belos que conheço sobre namorados. Recorro a alguns dos meus trechos favoritos para explicitar um pouco dos meus sentimentos.
“Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva,lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.” Nesse quesito tenho um namorado maravilhoso. Ele sabe quando estou com “cara de palavra”, quando quero dizer algo e sempre mata minha sede com a saliva. Eu chorona como sou, não consigo represar as lágrimas e ele me compreende e assiste com paciência a queda das cataras do Iguaçu. Me ensinou a respirar a brisa do mar e é pura filosofia. Nesse sentido, eu tenho namorado.
“Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.” Partindo das idéias do cara de Itabira... eu tenho o melhor dos namorados do mundo.
Ele é perfeito. Não mora ao lado. Mas mora dentro do meu coração.
Tem gente que deixa a chama do amor diminuir com o passar do tempo. Nada de anormal, se acomoda com o cotidiano, acha que “a parada está ganha”. Eu não. Todos os dias acordo mais apaixonada. Quero fazer meu amor mais feliz, quero ouvir suas risadas mais gostosas. Quero que ele seja feliz, realizado, mesmo que isso não implique na minha presença.
Não sou altruísta, esse papel é dele. Sou apenas uma Rapunzel completamente apaixonada...

terça-feira, 8 de junho de 2010

Peixe Vivo...


Há quase um ano ganhei da vida um animal. Não sei como categorizá-lo. Se de estimação ou selvagem. O fato é que é um peixe. Glub. Glub. Mas não peixe de aquário, desses que ornamentam aquários coloridos.
Um peixe de Rio. Com experiência em alto mar e que já se aventurou pelas profundezas do oceano. Confesso que não era muito íntima do mundo marinho. Mas o danado do peixe com suas guelras perfeitas me domesticou.
Meu peixe vivo, não consegue viver muito tempo fora da água fria, e eu sem exagero nenhum sofro muito sem a sua companhia. Rima boba, podem pensar, mas eu e Juscelino Kubistchek partilhamos do encantamento pela simplicidade.
Ultimamente meu peixe tem nadado para além dos limites do meu mar. E não duvido que ele encontre piranhas no Rio, vacas-marinhas e até sereias em certas ocasiões. Minha esperança é que ele não se encante pelo canto das tais sereias e muito menos deixe que alguma piranha o abocanhe.
Sou ciumenta triplamente qualificada. Eu planejo o ciúme, executo e ainda o faço com requintes de crueldade. Às vezes ainda tento ocultá-lo, o que configura outro crime.
Sinto ciúme da independência do meu peixe. De sua capacidade de levar suas nadadeiras para longe de mim e sempre dormir de olhos abertos. Em tempo, eu não adquiri este peixe através de uma pescaria. Duvido que ele seja do tipo que se deixe seduzir por algum tipo de isca, ou caia em alguma rede por aí. O pequeno é muito esperto, altamente evoluído para sua espécie. Digno de estudo na NASA. Ou em casa. De preferência na minha.
Infelizmente não posso exigir que meu peixe nade perto de mim. Ele nada, nada, nada. Eu rio. Ele Rio. Também não quero colocá-lo em um aquário, por maior e mais belo que seja. Ele morreria afogado em meio à angústia. Tenho um peixe iconoclasta. Um peixe altruísta. Sua existência úmida encharca minha vida, e às vezes meus olhos de lágrimas. Porém nunca vou querer vê-lo longe do mar. Ele não sobreviveria.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Perdigagem Sadia.


Carpinejei durante toda a noite de sexta-feira. Lançamento do novo livro do Fabrício Carpinejar “Mulher Perdigueira”. As crônicas mais sadias. Sinceramente há tempos não sentia uma alegria infantil tão sincera. Daquelas que apareciam no Natal quando eu desembrulhava o presente e enxergava a Barbie esperada o ano todo.
Por mais que eu tentasse controlar meu sorriso, a boca não obedecia. Os dentes ganharam vida própria e queriam se exibir a todo custo. Não me vi no espelho, mas tenho certeza que os olhos brilhavam como estrelas cadentes.
Encontrar com alguém que admiramos tão profundamente é deliciosamente assustador. Sim, porque antes de tudo sofre-se com a crise do “será que é mesmo tudo aquilo que imagino?”. Existe a possibilidade da desconstrução da idealização. Foram meses em que estive entusiasmada por aqueles textos. Nos momentos difíceis, como num dia da Bienal do Livro no Rio de Janeiro ano passado, um poema dele foi declamado. Nas minhas noites de angústia, li e reli as crônicas preferidas. Apresentei-o as amigas. Defendi sua excentricidade. Não julguei seu perfil exageradamente performático.
Condenar exagero? Longe de mim. A amante de Cazuza que nasceu cinco dias depois do Rock in Rio em 1985, em que o Barão Vermelho levou o público de metaleiros ao delírio. Exagero é sempre bem-vindo por aqui.
Mas entrar calmamente na fila, e esperar que todo mundo fosse embora foi um comportamento atípico. É claro que a máquina fotográfica deu pau bem na hora do click, e tivemos que refazer as poses e o sorriso que não cessava ganhou ares de constrangimento.
Não queria trocar palavras. Nada de papo. As palavras que me interessam estão impressas nos livros que tanto amo, e cuido com egoísmo de filha única.
Foi uma noite mágica. Nada de anormal. Nada de fogos de artifício, taças de champagne Crystal, It Girls desfilando bolsas Marc Jacobs. Nada do que um dia já me chamou atenção.
Tudo o que hoje realmente importa para mim. Poesia na dedicatória. Um bom café para esquentar a noite e a alma. Pessoas simpáticas conversando amenidades, mas não banalidades (e quanta diferença existe aí, meu povo!). Exatamente como eu não seria capaz de planejar e nem sonhar. Cada dia que passa, estou mais convencida de que a realidade é mais irreal das ficções.



sábado, 29 de maio de 2010

Ansiedade


Preciso tentar escoar um pouco da minha ansiedade através da escrita. Daqui a menos de uma semana vou conhecer meu ídolo. Vinte anos atrás eu estaria me referindo à rainha dos baixinhos. Mas não é o caso. Estou prestes a comparecer ao lançamento do novo livro de crônicas do Fabrício Carpinejar “Mulher Perdigueira”.
Tá, eu não sabia da existência do cara. Foi uma sugestão de uma pessoa que na época eu acabara de conhecer e durante uma conversa despretensiosa sobre poesia, o cidadão me perguntou se eu já lera algo do poeta e escritor Carpinejar. “Um dos melhores dessa nova geração”, disse ele. E eu com minha curiosidade jornalística fomos conferir o trabalho do cara.
Me identifiquei totalmente. Foi amor a primeira página. Carpinejar escreve com uma sensibilidade tão grande, que você jura que ele é mulher ou no mínimo homossexual. Até onde eu sei não é. Tem dois filhos, aos quais ele inclusive já escreveu um livro só falando sobre as delícias da paternidade, foi casado e hoje namora a psiquiatra e também cronista Cinthya Verry. Uma fofa.
Preciso ressaltar que o “tal cidadão” que me iniciou na carpinejância, é o meu atual namorado. Já passamos noites a fio lendo poesia, discutindo a obra do Carpinejar, inclusive ele usa uma citação do meu ídolo em um dos seus livros. Sim, porque meu amor também é escritor. E dos melhores. Na minha profissão é um ícone. Um intelectual atípico, daqueles que você jura que tem mais sorte do que conhecimento. Mas não é. Meu namorado sabe muito. De literatura até física quântica. Até irritantemente demais. Porém, chega de fazer propaganda dele. Sou ciumenta assumida.
O fato é que em menos de uma semana estarei com um livro nas mãos, enfrentando uma fila gigantesca pra pegar um autógrafo do Carpinejar. Comprei vestido novo. Sapato novo. Maquiagem nova. Nada para impressionar o bofe, afinal sou comprometida e ele é MUITO feio. O que tem de sensível tem de horroroso. Não é a beleza dele que me seduz. Não é seu lado homem. É sua compreensão da alma feminina. Sou sem juízo pelo meu namorado. Até Cazuza demais. É pra ele que uso o espartilho. O Carpinejar é um instrumento que pode ser muito útil no entendimento do meu relacionamento. Dá pra entender? Não quero conversar com o autor, a voz dele é bem chata, pois já o assisti em entrevista no programa do Jô. Quero que ele fale algo que toque o coração do meu namorado. É dele a frase: “descobrimos um amor, na eminência de perdê-lo.” Familiar, não? Quem nunca passou por uma situação dessas?
Meu amor me diz: menos perdigância! E eu digo: mais atenção! O amor é pulsante. Não pára quieto aqui dentro. Mas talvez o encontro com meu ídolo seja a glória, ou a desgraça. Tenho medo de descobrir que Carpinejar pode não ser um verbo. Ou ainda pior, verbo intransitivo. Que não se conjuga.
Se for a desilusão que me aguarda, estarei pronta para mais uma. Se meu oráculo permanecer intacto, prometo ler cada página bem devagar. Pra não me sentir órfã de uma vez, coisa que sempre acontece quando termino um livro dele.
Não é o homem. Não é o ser humano. É a entidade que me atrai. Se ele fosse uma fumaça de desenho animado, seria ainda mais emocionante.
Mas estou ansiosa para ver no que vai dar. Prometo contar tudo.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Desabafo...


Tenho andado mais melosa do que o normal. Sabe aquela música do Zeca Baleiro “Ando tão a flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar...”?
Eu sempre fui muito passional desde sempre. Mas há algum tempo uns sentimentos gritam dentro de mim. Nada me emociona mais do que ver um casal apaixonado trocando juras de amor. Mesmo que essas juras não se cumpram. Mesmo que eles terminem o namoro ou o casamento no dia seguinte. Sou do princípio de quem ama cuida e também fala. Dizem que não se pode esbravejar a felicidade, porque a inveja tem sono leve.
Não aposto nisso. Tenho fé em Deus o suficiente para me sentir protegida e nutrir sentimentos puros que não agouram a vida de ninguém. Eu me encho de alegria ao ver que meus amigos estão crescendo. Que todos estão tomando rumo na vida. Uns trabalhando demais. Outros casando e tendo filhos.
O maior sonho da minha vida é ter uma família feliz com filhos e um cachorro, sabe? Coisa bem clichê, de filme de sessão da tarde ou comédia romântica com atrizes da moda.
Não me envergonho de dizer que não almejo milhões na minha conta bancária. Não preciso de jóias e carros para ser feliz. Quero apenas alguém do meu lado, pra ir de mãos dadas ao cinema. Pra escolher o nome dos nossos filhos, mesmo que eles só venham a nascer daqui a cinco anos. Coisas simples, triviais e que hoje em dia parece que as pessoas deixaram de lado.
Poxa. Eu quero alguém que entenda que nos dias de TPM eu necessito de mais atenção. Não sou uma chata que gruda no pé. Sou independente e luto todos os dias com unhas e dentes para nunca precisar estar com alguém por falta de opção ou comodidade financeira.
Acordo cedo, corro atrás das minhas coisas e já não me importo de usar um tênis velho no lugar do salto alto. Aprendi que não é isso que me torna mais ou menos bonita. Pouco ou muito atraente aos olhos dos outros.
Mas porque será tão difícil conseguir despertar outras pessoas para estes valores? Eu posso sim viver até o final da vida sozinha. Só que eu NÃO quero. Nasci pra ser casal, e de casal me transformar em mini-mins e mini-ele que tenho certeza irão me ensinar coisas que eu nunca imaginei todos os dias.
Eu passo longe da perfeição e já fiz muita burrada na vida. Atualmente tento não jogar lixo na rua, parei de fumar e não consumo mais bebida alcoólica pensando em mim e nas pessoas que me amam e um dia ainda podem vir a me amar. Quero um país mais justo. Dói minha alma ao testemunhar uma injustiça. E não, não quero me vender aqui como um bom partido. Ou uma boa escolha.
Quem escolhe somos nós, protagonistas de nossas vidas. E eu escolhi ser feliz a qualquer custo, mesmo que isso me leve horas de aflição, aperto no coração e diversas desilusões.
A aventura não é encarar o perigo. É manter os valores intactos, mesmo que todo mundo diga “você não pode ter a praia e a montanha.”
Não quero a praia e a montanha. Ambas habitam em mim.

sábado, 17 de abril de 2010

Licença Poética


A primeira vez que o vi foi a conta. Ele estava de costas. E antes mesmo de virar de frente eu já me sentia estremecida. Quando seus olhos de peixe fitaram meus olhos de ansiedade, em pleno ato de covardia, desviei o olhar. Era demais pra mim. Poderia cair no chão. As pernas bambas. E dele veio o sorriso aberto de quem sabe o poder que tem. Desarmou-me ainda mais.
É mentira. Não foi nada assim. Estou usando o que ele me ensinou: a tal de licença poética. Poderia ter sido assim, não poderia? É claro. Mas foi melhor. Ele estava de blusa verde. E eu de botas. Em pleno Rio de Janeiro. Tudo bem! Estava frio. Mas carioca marrento devia estar me chamando de “paraíba” por dentro.
Ele segurava uma plaquinha no aeroporto. Dizia: sou poeta. E ele é mesmo. Mas não escreve poesia, pelo menos não em versos. Escreve prosa. Poesia ele é mesmo bom na hora de recitar. Nunca ouvi dígrafos tão sonoros. Arrepia do fio de cabelo (sem pontas duplas) da cabeça até o dedo mindinho (pintado de “renda”) do pé.
Mesmo sabendo que ele não era bem o tipo de homem que eu estava acostumada a conhecer, resolvi bancar a história. Saber qual é. Nunca imaginei que estaria descobrindo o pote de ouro no final do arco-íris. Que a embriaguez através da virtude é mais poderosa que absinto.
E ele sempre foi tão romântico... Segurava a plaquinha e me surpreendeu com uma rosa vermelha, escondida no bando de trás do carro. Dá pra acreditar? Logo uma rosa! Eu que como Mrs. Dalloway “as únicas flores que suporto ver cortadas são as rosas.”
E as demonstrações de gentileza não pararam por aí. Ele abriu a porta do carro. Carregou a minha mala. Aliás, ele me carregou no colo pra eu não sujar a sola das botas. Confesso que achei a atitude meio exagerada, mas também interpretei como uma forma de manter um contato físico logo de imediato.
No meio da viagem paramos para tomar um café. E ele é sedutor em tudo que faz. Ele beija a xícara ao sorver o líquido. Seu lábio inferior envolve toda a porcelana, como se quisesse engolir o objeto. Que inveja essas xícaras me causam. Ele é a minha xícara. Sou capaz de beijá-lo a vida inteira, até faltar o ar. Mas aí eu paro um instante. Não quero asfixiá-lo.
Quando estamos juntos os dias são sempre ensolarados. Na temperatura certa. O sol aquecendo a alma, deixando a pele transpirar e o cheiro de maresia que ele carrega desde menino exalar pelos poros.
Ele sabe que eu gosto de andar de mãos dadas. E fazemos isso sem parcimônia. Mãos dadas no shopping. Mãos dadas em casa. Mãos dadas, dedos entrelaçados, nada de mão folgada que segura a outra só para atravessar a rua ou rezar o “Pai Nosso” na igreja. Atravessamos o mapa sem soltar as mãos. Rezamos o credo para afastar os maus pensamentos.
Assim é a nossa vida. Desde aquele dia incerto de agosto. Ele sempre conversa comigo sobre os planos que estão tomando forma naquela cabeça genial e mirabolante. Eu sempre escarro em cima dele minhas intempéries do cotidiano. Embrulho nossas melhores lembranças através do olfato. E toda vez que a saudade aperta, abro o frasco e capricho na inalação.
Mas nós fazemos tudo com suavidade. Com leveza. Ele com as tais das elipses. E eu agora, aprendendo a licença poética.

domingo, 21 de março de 2010

"O Marido Perfeito Mora ao Lado"


Um livro pra ler de um fôlego só
Por Karla Albuquerque

Uma história de amor, com ritmo de suspense, otimismo e didática. Para quem tem curiosidade sobre psicanálise, o novo livro do jornalista Felipe Pena é um prato cheio. A começar pelos títulos dos capítulos que sugerem temas como libido, ansiedade e sublimação, e também pelo fato de o enredo ser ambientado em uma universidade particular, especificamente no curso de psicologia.
Mas não são apenas os amantes de Freud que vão se deliciar com este romance. A linguagem simples, porém arrojada, característica do autor, leva o leitor a uma viagem para dentro de si mesmo. Eis o enredo: um casal procura a terapia para tentar compreender as desavenças e os desafios da vida a dois. Então, somos apresentados ao discurso autoritário da personagem Olga, que sufoca o marido Carlinho disparando queixas e palavras rancorosas, o que traz para nós, mulheres, uma reflexão sobre atitudes muitas vezes automáticas que tomamos diante de questões triviais como o chope com os amigos ou o futebol do final de semana. Daí ocorre um crime. E os terapeutas farão o papel de investigadores.
Também temos a volta do anti-herói do livro anterior “O analfabeto que passou no vestibular”. Antônio Pastoriza, o psicanalista que aguça a curiosidade das meninas da faculdade, está de volta ao mundo acadêmico, depois de uma temporada de dedicação à literatura na Espanha. E logo que retoma a vida no Rio de Janeiro, Pastoriza se vê diante desse crime, o sequestro de um estudante. O evento mobiliza todos os amigos e familiares do rapaz, que namorado da aluna mais velha do curso de psicologia, a bela de olhos verdes e canelas finas Nicole.
O livro trata de relações interpessoais, traça um panorama do envolvimento de garotos e garotas da classe alta carioca com os grandes figurões de tráfico de drogas, mas não deixa de retratar histórias de amor, como o próprio escritor gosta de enfatizar “Toda história, é uma história de amor.” Com uma escrita ágil e estratégias que despertam a curiosidade do leitor a cada término de capítulo, quem desfrutar da nova obra de Felipe Pena não vai conseguir parar de ler até descobrir quem são as personagens e quais são seus verdadeiros significados na trama, além de ter a chance de fazer uma auto-análise com conceitos psicanalíticos muito bem explicados no decorrer do texto.
Outro ponto alto são as cenas de volúpia descritas entre um casal de professores da universidade e as próprias aventuras sexuais de Pastoriza. A imaginação do leitor é capaz de sofrer arrepios, mas tudo muito humanizado, com os clichês que só a vida real pode proporcionar.
As trezentas páginas deste novo romance não apenas atestam todo o talento e criatividade do autor, mas são um presente para quem lê e consegue enxergar as fantasias, os desejos e anseios que estão nas personagens, mas que no fundo, poderiam estar (e me arrisco a afirmar, que muitas estão) escondidas ou reprimidas em nosso inconsciente ou mesmo no consciente.
Você começa a ler achando que sabe o que provavelmente vai acontecer no final, mas a cada nova página virada a dúvida se instala, a curiosidade aflora e o desejo de conhecer o desfecho não nos deixa outra saída: mergulhar nesta leitura elegante, democrática e porque não...perfeita.

terça-feira, 2 de março de 2010

O primeiro encontro



O encontro foi decisivo. Do tipo ou vai ou racha. Foi. Descobriram afinidades em questões de minutos e com uma garrafa de champagne na conta. Escolheram como local do primeiro "face to face" um casebre na montanha. Ele devia lembrar-se das histórias de Victor Hugo. Ela riu de canto pensando no Best-seller “A cabana” que acabara de ler. Ele falava das experiências vividas pela Europa. Ela contava do último relacionamento com um cara doente de ciúmes. Riam juntos. Ela tinha bom humor e ele esbanjava perspicácia. Todo o nervosismo daquela primeira troca, se transformava em euforia a cada peculiaridade revelada. “Totalmente diferente do que eu esperava!” – ela pensou. Sim, porque nós mulheres continuamos acreditando em contos de fada, no príncipe encantado, mas é mais fácil acreditar no cafajeste sincero, que confessa que “foi um deslize” e se deixar ruborizar diante de um homem sensível e heterossexual.
A primeira coisa que ela notou foi os braços fortes que ele tinha. Como teria conseguido aqueles músculos? Ele não dava indícios de ser um freqüentador de academias. Ela fez questão de olhar todos os pertences dele, cada vez que o rapaz ia ao banheiro. Livros de poesia, CD de ópera, e um casaco de couro fashion que também apontava que aquele era um ser atípico.
Os olhos daquele homem que ela muito já ouvira o nome, mas nunca fez parte de seu imaginário escondiam o fundo do mar. Olhos de peixe. Vivo, e bem vivo. Daqueles que conhecem as profundezas das águas e dormem sempre abertos. Ela poderia ficar horas perdida naqueles olhos. O transe só era desfeito quando ele dizia: “Me conta o que você está pensando.”
No que mais ela poderia pensar? O que mais ela poderia querer? Só a lua, que não se fez de rogada e testemunhou as duas noites do casal. Sim, mal se conheciam e já formavam um casal. Dividiam o mesmo banheiro. A mesma cama. Deitaram na mesma rede.
Durante o primeiro beijo ela mal conseguia se concentrar no movimento circular das línguas. Surpresa. Estupefata. Haja fôlego! Como ele beijava bem! E que cheiro bom exalava de seus poros. Àquela altura, já bem suados.
Foram dois dias de sorrisos, conversas, confidências e muita umidade. No final de tudo, não havia a promessa do reencontro. Apenas a despedida. Na volta para casa os sentimentos de felicidade e ausência começavam a gritar dentro dela. Quando ela o veria novamente? Será que ele também compartilhava de tamanha emoção? O que fazer se não houvesse outra rede? Outra cama? Uma nova troca de olhares?
Ela não tinha as respostas. Apenas as indagações. Só uma coisa era certa: “ a vida sem aquele homem seria uma eterna estiagem.”

segunda-feira, 1 de março de 2010

A vida que todo mundo vê...

Esta é uma tentativa de resgatar a essência do blog. Criei o repórter franjinha em meados de 2008 quando comecei minha carreira na reportagem. Antes meus olhos eram de claustro, presos à rotina da redação, onde muitas vezes boas pautas surgem, mas são originadas de telefonemas, e-mails de assessorias, denúncias e rondas.
Na rua é diferente. Na rua você se aproxima das pessoas e da realidade de cada um. Você enfia o pé na lama, literalmente. Chega a ser emocionante e ao mesmo tempo uma baita responsabilidade a percepção da mudança de olhares sem esperança, quando avistam a equipe de reportagem.
Pois bem, ontem de madrugada fui cumprir uma missão. Mais de 100 barracas de quase 600 camelôs foram retiradas da frente de um shopping Center de Belém. Tá, bom. Os caras deixavam a cidade mais feia e ocupavam quase toda a extensão das calçadas. Ou seja, o pedestre tinha que viver se arriscando pelo meio fio. Por isso quem tomou a dianteira da operação foi a Polícia Rodoviária Federal. Em uma recente pesquisa divulgada até no Jornal Nacional, o trecho que vai do KM 0 ao KM10 da BR-316 e começa em Ananindeua (região metropolitana de Belém) é o campeão no número de acidentes no país.
Estatística cruel, não? Também não gostei de saber que lideramos esse ranking. Mas, a história dos camelôs desemboca em outro problema. Histórias tristes como a do Seu Januário de 54 anos, com seis filhos pra criar e que tinha como única fonte de renda a barraca de balas e chicletes que foi destruída durante a ação desta madrugada.
Fui entrevistar o seu Januário. Ele no início estava arredio, constrangido com a presença dos guardas municipais e suas armas e escudos em punho. O seu Januário repetia aos gritos “Minha mãe me ensinou a trabalhar! Ela não me ensinou a roubar!” Para uma imprensa sensacionalista seria o que chamamos de um belo SOBE SOM para a matéria. Pra mim, coração mole, manteiga derretida e declaradamente fã do jornalismo literário, Seu Januário era mais que personagem de um VT. Era o protagonista de uma lição de vida. O meu incentivo a voltar a escrever neste blog.
Cheguei perto, segurando firme o microfone e travando a mandíbula como sempre faço quando tenho vontade de chorar, e fiz as perguntas triviais para usá-lo na minha matéria, e no final, saiu um “E agora, José?” “E agora, Januário?” Lembrei rapidamente de um xote que fala para um tal Luís, respeitar Januário. Ninguém respeitou seu Januário. Ele respondeu a minha pergunta com a voz embargada, os olhos vermelhos encharcados de lágrimas, que ele não mais pode conter e deixou que escorressem pelo rosto cansado... ”Deus é quem vai saber.” Ele me disse.
Vários ambulantes que assistiam a entrevista aplaudiram seu Januário. Olhei a minha volta e muitos também choravam. A minha vontade era dizer para aquele senhor que em todo o momento olhou fundo nos meus olhos, sem desviar a atenção, que tudo iria ficar bem.
Mas eu não tenho essa resposta. A Secretaria de Economia Municipal também não tem essa resposta. Nos livramos de um problema. Mas para 600 pessoas o mês de março será sinônimo de incerteza. Por enquanto não há nenhum projeto de remanejamento destes vendedores ambulantes, para nenhuma espécie de camelódromo ou shopping popular.
Não sei como foi o almoço ou a janta do Seu Januário hoje. Mas na hora que eu deitar para dormir, posso esquecer de rezar por ele, porque a gente esquece até de quem é da nossa família, mas os olhos de fé e de desespero daquele homem ficarão por muito tempo na minha lembrança.


* O título faz alusão ao livro da Eliane Brum "A vida que ninguém vê" que conta histórias de personagens que ela encontrou na rotina da rua.