quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sagrada Família


 
 
Em 2009 tive a sorte de entrevistar o jornalista e escritor Zuenir Ventura para o Bom dia Pará durante sua participação na Feira do Livro de Belém na época. Confesso ter ficado tensa e até um pouco intimidada diante da grandiosidade do profissional que ele é, mas me surpreendi com um senhor carinhoso, de voz pausada e solícito que me ajudou e fez a entrevista fluir maravilhosamente bem.
No ano passado, Zuenir voltou a Belém para falar de seu livro que seria o primeiro de ficção propriamente dita. Diferente dos anteriores, sempre permeados por experiências jornalísticas ou fatos noticiados mundo afora. Lembro bem dele dizendo que não tinha certeza sobre o título "Sagrada Família" e perguntando a opinião da plateia.
 
O livro "Sagrada Família" (Editora Alfaguara) foi publicado este ano e superou minhas expectativas. Na palestra que assesti em 2011 o que mais me marcou foi uma frase do Zuenir falando sobre seus "planos para o futuro". Um senhor de 81 anos que faz planos para o futuro sem o menor medo ou pudor.
Só que o livro trata do passado. A sensação que tive enquanto lia, é de ter ouvido a história durante uma conversa com meu avô. Rindo e identificando as semelhanças que toda família tem...Ainfal quem nunca ouviu ou presenciou um "ataque" de uma tia, um vexame de um tio, escutou atentamente as peripécias dos primos e primas?
Há um traço forte de autobiografia. Apesar de não conhecer a vida pessoal do autor, posso arriscar que muito do que contém as linhas do livro foi realmente vivido por ele. Existe a descrição do comportamento de uma época. Os padrões e rigores de uma família "respeitável". Que lá no fundo, toda família tenta ser.
A narrativa obedece uma ordem cronológica que favorece a leitura. O narrador-personagem começa contando fatos da sua infância "do alto" de seus nove anos. Depois alguns anos mais tarde, um pouco mais maduro, já no início de sua adolescência e com a "apoteose" no seu regresso ao seio familiar na vida adulta.
Uma história surpreendente. Que me deixou saudade e me cativou como só um avó querido poderia fazer. E você fica pensando: que velhinho danado! Criou essa história mirabolante aos 80 anos!!
Mas convenhamos que em oito décadas, já se viu e ouviu muito. E a junção de toda essa vida, só poderia resultar em coisa muito boa.
Minha família não é grande. E infelizmente não somos tão unidos quanto os personagens da obra do Zuenir. Porém, depois desse livro acho que um consenso entre os leitores haverá: toda família é realmente sagrada...