sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

AULA - Barthes


Desmembrei o livro "AULA" do Roland Barthes que é bem curto, porém denso (medo!) em três textos... Os dois primeiros estão aí abaixo. O objetivo é trocar ideias com mestrandos, estudantes de comunicação, enfim... unidos venceremos!


AULA 1

O livro "Aula de Roland Barthes é produto da sua palestra inaugural no famoso Collége de France. O autor inclusive questiona os motivos que levaram a tradicional instituição a aceitá-lo naquele espaço consagrado intelectualmente.

O texto em alguns momentos apresenta um tom poético, como por exemplo quando o autor compara alegria e honra (no sentido de mérito) por estar ali disseminando seu conhecimento e enaltece os intelectuais que por ali já passaram.

Discorrendo sobre linguagem e poder, Barthes ressalta que no Colégio de França há a vantagem de se poder falar e pesquisar,e não de "julgar, escolher, promover, de sujeitar-se a um saber dirigido..." Sua intenção é despertar nos alunos a reflexão.

O autor desmitifica o poder apenas com conotação política e ressalta seu caráter ideológico.
"(...) o poder está presente não somente no Estado, nas classes, nos grupos, nas modas, opiniões, espetáculos, jogos (...) chamo discurso de poder todo discurso que gera ou produz o erro e por conseguinte, a culpabilidade daquele que o recebe."

É neste momento que Barthes nos revela que sua crítica ao poder não é somente direcionada à classe intelectual, dotada de credibilidade e que com isso poderia facilmente manipular os discursos. A preocupação do autor vai ainda mais fundo: para Barthes é a linguagem ou a língua que aparece como fator de alienação.

De acordo com Barthes "falar não é comunicar; é sujeitar: toda língua é uma reição generalizada." E aí temos um exemplo prático: a palavra reição não tem tradução para o português. O que leva o leitor a compreender a linguagem escrita através da mediação da tradutora do texto, sem a forma literal, apenas dentro do contexto.

Para Roland Barthes a língua não é democrática
. Nem reacionária, nem progressista. Para o autor a língua é fascista; "pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer."

Segundo o autor a língua é feita de signos, que só existem na medida que são reconhecidos, muitas vezes se transformando em estereótipos. E é contra os estereótipos que Barthes irá se posicionar.

Nesta introdução o autor conclui que a única forma de se esquivar do poder da linguagem é através da literatura.



AULA 2

Barthes esclarece que ao falar de literatura não está especificamente tratando de obras e sim da prática de escrever.

O autor enaltece o texto como o "aflorar da língua". O processo de criação deve ser feito com consciência e responsabilidade. "As forças da liberdade que residem na literatura não dependem da pessoa civil, do engajamento político do escritor (...) mas do trabalho de deslocamento que ele exerce sobre a língua. Ou seja, o que importa não é quem escreve, mas sobre o que e de que forma.

Barthes fala sobre as "forças da literatura" e se apropria de três conceitos gregos: Mathesis, Mimesis, Semiosis.

O autor defende a literatura como mantenedora de muitos saberes: histórico, geográfico, social, técnico, antropológico etc. Para ele todas as ciências estão contidas na literatura e esta retrata a realidade. Mais a frente Barthes vai esclarecer que a retratação da realidade é na verdade sua representação. Se apropriando de conceitos psicanalíticos o autor nos diz que a literatura também pode ser irreal quando é fruto do desejo. Algo impossível de ser alcançado.

De acordo com o autor a literatura "faz girar os saberes", quer dizer, é democrática e não impõe nenhum deles. Segundo ele a literatura seria um caminho para "traduzir" a ciência, muitas vezes incompreensível.

Barthes escreve "a literatura não diz que sabe alguma coisa, mas que sabe de alguma coisa; ou melhor: que ela sabe algo das coisas". O saber é um enunciado, ou seja, pode ser expresso por palavras ou em uma breve exposição. Já a literatura, para o autor é uma enunciação, aquilo que pode ser verdadeiro ou falso.

Entretanto, Barthes esclarece que não pretende colocar de um lado os cientistas e pesquisadores e de outro os escritores; para ele a literatura existe em toda parte onde as palavras "têm sabor", são compreensíveis e pertinentes.

Isso fica mais claro quando o autor fala sobre literatura e sua força de representação. A literatura, assim como a ciência se esmera em representar o real. Mas segundo Barthes, o real não é representável, mas somente demonstrável.

Contextualizando para o meio jornalístico, a grande pretensão do profissional desta área, esteja ele em qualquer plataforma de mídia, é apresentar os fatos reais. Através do texto escrito ou televisionado, o emissor da mensagem tem a intenção de apresentar ao receptor o que julga ser a realidade; de forma objetiva. Citando outro autor que neste ponto converge com as ideias de Barthes, o jornalista Felipe Pena no livro "No jornalismo não há fibrose" diz que "o verdadeiro significado do jornalismo está ligado à ideia de que os fatos são construídos de forma tão complexa e subjetiva que não se pode cultuá-los como expressão absoluta da realidade." Ou seja, a linguagem está carregada da subjetividade daquele que a utiliza.

Barthes incentiva que no interior de um mesmo idioma se tenham várias línguas. O prolixo, o coloquial, a linguagem falada ou escrita deveria ser utilizada segundo o desejo do enunciador. E mesmo assumindo que o pensamento é utópico, o autor defende que estas línguas coexistam sem repressão, remorso ou recalque, sem se submeter ao poder das imposições sociais, filosóficas ou políticas.




quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Na tietagem não há fibrose

 
"No palco contemporâneo o espetáculo em cartaz é a vida. Os ingressos na bilheteria dão direito a entrar na intimidade dos atores, formar alteridades e idealizar heróis, mas a plateia não está satisfeita e quer ela mesma encenar o espetáculo." Que citação perfeita para começar o post de hoje. O fragmento foi tirado do livro "No jornalismo não há fibrose" e trata-se de um ensaio crítico sobre a imprensa, escrito pelo brilhante jornalista (e meu marido por quem eu babo mesmo!) Felipe Pena.
Eu já havia lido este ensaio há uns três anos. Mas o assunto abordado pelo autor (e agora vamos às formalidades) não poderia estar mais evidente na minha vida.
Já na rotina de repórter em Belém eu pude vivenciar isso. Só que o dia-a-dia era tão corrido que não sobrava muito tempo para refletir sobre o meu umbigo. 
Apesar de estar fora há alguns meses, ainda recebo o carinho de muitos telespectadores, principalmente no facebook e confesso que sinto uma mistura de felicidade e susto quando leio alguns comentários que parecem ser de pessoas que me conhecem tanto!
Pois bem, pra quem não leu os posts anteriores estou morando no Rio de Janeiro. Lugar de celebridades, chiques, famosos e paparazzis. Na academia que eu frequento todos os dias dou de cara com algum ator ou atriz global. É claro que existe a curiosidade e aquele inevitável pensamento de que "fulana é mais magra do que aparece na TV ou ciclano é mais gordinho". Divagações fúteis e aqui despidas para vocês com quem não pretendo fazer média.
O engraçado é que eu nunca tive vontade de falar com nenhum desses famosos. Não sei quanto a eles, mas eu adorava quando alguém me parava na rua ou no shopping em Belém para dizer que admirava meu trabalho. Só que o mundo dá voltas... E eu fiz isso outro dia! Porém, com uma "famosa virtual.”.
A blogueira carioca Dandynha Barbosa tem um site de moda e beleza (quem nunca, né girls?). Encontrei com ela na academia e automaticamente falei com a moça como se já a conhecesse há anos! "Você tem um blog né? Ah, sou sua leitora! E aí quando foi a inauguração da loja tal?". Foi esse meu aprofundado diálogo com a "maninha.”.
Só que a futilidade também pode ser útil quando vista sem preconceito! E resolvi escrever sobre esse novo palco de celebs: a internet! A TV continua tendo seu lugar cativo é claro, mas a internet tem cada vez mais conquistado corações carentes.  OMG. Dã. Todo mundo sabe disso e até critica. Mas verdade seja dita: todo dia damos expediente nas redes sociais.
E toma-te mais reflexão! Todos nós somos voyeurs da vida alheia. Duvido que você que está lendo este texto nunca tenha entrado num perfil de facebook de algum amigo ou desconhecido para se "atualizar" ou "conhecê-lo" um pouco mais. Eu, você, ele, ela. Somos craques na tietagem virtual.
"Não se trata apenas de olhar pelo buraco da fechadura, mas de estar do outro lado da porta. Não se trata apenas de ver o filme, mas de ser o próprio filme. A vida é o veículo. No ponto em que chegamos, a plateia quer ver o espelho."
E vamos lá para um mea culpa com mais palavras de Felipe Pena: "Se não é possível estar em um enredo de Homero, talvez seja mais simples escrever a própria história, produzindo uma autobiografia." Touché. Não é isso que fazemos em nossos facebooks, twitters e blogs?! Minha culpa. Minha máxima culpa.
"De que maneira evitar a "celebrização" de sua imagem?" Quén, quén, quén... “Facebookcídio”, “twittercídio”, “blogcídio”? Not yet. Por enquanto, vocês vão ter que me engolir! E podem me “assinar” porque é de graça!
Ah, e se no jornalismo não há fibrose, aviso logo que na tietagem também não. Por isso no final deste post você encontrará o site para comprar o livro (temos que garantir o leite das crianças) e o blog da minha mais nova BFF Dandy!
Smack. Quem se identificou comenta aê! ;)
 
 
 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Dica de leitura


 
Comecei a ler "Antes de dormir" de S.J Watson ontem por volta de 18 horas. Fiz um breve intervalo para jantar e só parei lá pelas 23 horas porque minha vista estava ficando embaçada e eu caindo pelas tabelas. Já estava na página 260. ( O livro tem 398 páginas).
Vocês acreditam que eu nem dormi direito pensando em terminar a leitura? ALOKA! Coisa de louco. Vocês também são assim? Eu acordei três vezes durante a madrugada e olhei pra janela pra saber se já estava claro e se já seria hora de acordar e continuar lendo!
Bem, com toda essa minha ansiedade dá pra sentir que o livro realmente prende o leitor. Ansiedade! Foi bem isso que o livro me despertou. Você fica preocupado querendo saber o que acontece na próxima página.
"Antes de dormir" conta a história de Christine Lucas, uma mulher de 47 anos que depois de sofrer um trauma aos 27, perdeu todas as lembranças do que aconteceu nessas duas últimas décadas.
Cada novo dia ela acorda sem saber onde está, não reconhece o marido e nem a si mesma ao ver no espelho o reflexo de uma mulher bem mais velha do que ela imagina ser.
O que aconteceu? Como ela ficou assim? É o que a personagem principal que é também a nossa narradora quer descobrir.
Inevitável não lembrar do filme "Como se fosse a primeira vez" com Adam Sandler e Drew Barrymore. Mas o livro é bem diferente do  filme sessão da tarde que tem uma pegada mais "light" de comédia romântica.
 
 
Recomendo a leitura para aquelas pessoas que não são cardíacas e que não sofrem de insônia. Caso contrário, o que deveria ser entretenimento vai virar outra coisa.
Esse é o romance de estreia de S.J Watson. A narrativa é tão envolvente que eu fiquei sem tempo e paciência para analisar o discurso. Mas sei que não é um texto tão bem lapidado. Me prendeu pela história. As 398 páginas passaram voando.
No skoob 388 pessoas leram e foi avaliado como "Muito bom".
 
Quem já leu me conta o que achou? Comentem aí o post minha gente!!


domingo, 18 de novembro de 2012

Revirando o baú

Achei no youtube uma matéria bem legal que fiz pro É do Pará esse ano sobre "Dança de rua" em Belém.

Quem gostar assiste o vídeo e clica em "Gostei" pra mim. Se você gostar MUITO, favorite o link e me ajude na divulgação!

Beijos!


http://www.youtube.com/watch?v=4yW99GvgrxQ&feature=youtu.be

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Quem quer ser um jornalista?



 
Como alguns de vocês podem ainda não saber, eu não trabalho mais na TV Liberal há seis meses (passou muito rápido!) e estou morando no Rio de Janeiro em busca de novos desafios profissionais e pessoais.

Quase todos os dias eu recebo pedidos de amizade no facebook de muita gente generosa, que me manda recados carinhosos elogiando meu trabalho.

Ultimamente tenho sido questionada sobre a profissão, então resolvi fazer este post para aqueles que sonham com o jornalismo, mais especificamente em estar na telinha. (PLIM-PLIM)

Minha experiência profissional é pequena, perto de colegas com quem tive a honra de trabalhar na TV Liberal e em outras emissoras ou produtoras.  Mas, já que vocês perguntam e nem sempre eu consigo responder, este post vai ser meu incentivo pra quem quer seguir nesta carreira.

Primeira coisa: Atualmente vivemos este imbróglio sobre ter ou não diploma de jornalismo. Eu sou a favor de que você estude, curse uma faculdade e tente apreender todo conteúdo teórico em sala de aula.

Eu frequentei uma faculdade particular, foi opção minha. Mas a UFPA é excelente e apesar da pouca infraestrutura no curso há compensações como o nível dos professores.

Me arrependo de não ter me dedicado mais durante a faculdade. Acho que a falta de maturidade foi a principal causa. Comecei o curso com 17 anos.

Segunda coisa: tente conseguir um estágio. Eu comecei na TV Liberal como estagiária aos 19 anos. Passei um ano e meio estagiando e faltando poucos meses para me formar fui contratada como produtora de pauta. Anos depois é que passei para a reportagem.

Eu aconselho quem quer seguir carreira em TV que comece na produção. É nessa função que você faz seus contatos, fica ligado em tudo que acontece na cidade e no mundo e aprende a trabalhar em equipe. É sacrificante, é desgastante, estressante, mas é onde você ganha "bagagem" para seguir o caminho mais tarde como repórter. Admiro muito meus colegas produtores.

Terceira coisa: leia, leia, leia e leia. Você não vai ser um bom produtor, repórter, apresentador, editor, ou mesmo cidadão, se você não dedicar parte da sua vida à leitura.

Aposte na literatura nacional, literatura estrangeira, poesias, contos, crônicas, ensaios, jornais, bula de remédio, mas crie este hábito na sua vida. Vai virar um prazer e você vai se sentir mais seguro para escrever e conversar com as pessoas.

Quarta coisa: escreva. Se você quer trabalhar em TV tem que escrever também. Praticar através de um blog é uma boa coisa. Aquele texto falado que você escuta do repórter em míseros dois minutos (no máximo) na TV, é fruto de horas batendo cabeça em frente ao computador para contar toda a história que ele (o repórter) viu e ouviu para os telespectadores. Se estiver confuso, o público vai mudar de canal ou achar que nem o profissional sabe do que está falando...

Quinta coisa: Fique ciente que a partir do momento que você trabalha em TV, sua imagem se torna pública. Você vai ter que se conter diante das situações mais inusitadas.
Inúmeras vezes eu tive que cobrir acidentes em que pessoas morreram, crianças foram abusadas pelos próprios pais, assaltos, debaixo de chuva, de sol ... enfim, na rua tudo pode acontecer. E lá você está diante da expectativa e angústia dos outros. Você tem que respeitar a dor alheia, sem desistir da sua matéria. Parece bobo, mas não é. É difícil. Às vezes você está com cólica, brigou com o namorado, sua mãe está no hospital, as pessoas não entendem o que você pergunta...

Já fui xingada, empurrada, levei uma "microfonada" no seio... É respirar fundo e não perder a concentração. Quando chegar em casa você chora, grita, esperneia...Na rua, você não é o foco. O foco é a notícia.
Se depois de tudo isso, você ficou com mais vontade de trabalhar em TV, este deve ser seu caminho e eu te desejo boa sorte e muita inspiração!

Comentem aí e se tiverem perguntas específicas eu respondo nos comentários.

Beijos!

domingo, 4 de novembro de 2012

Dica de leitura

 
 
LOTTE & ZWEIG
Confesso que antes de ler "Lotte & Zweig" (Ed. LeYa), pouco sabia da história deste escritor, romancista, biógrafo etc que foi Stefan Zweig. De origem judaica, Zweig nasceu na Áustria, sendo conterrâneo de Sigmund Freud, com quem chegou a se corresponder durante décadas e que é citado no romance. Não posso deixar de mencionar que foi conterrâneo também de seu algoz, Adolf Hitler.
 
 
 
O livro "Lotte & Zweig" do querido Deonísio da Silva tem muitas referências a grandes nomes como Rimbaud e Rainer Rilke, mas não chega a ser desconfortável para os que não estão familiarizados com estes nomes.
O período histórico em que se passa a trama é dos mais emblemáticos: a Segunda Guerra Mundial. É comum lermos e ouvirmos falar das batalhas sangrentas, dos campos de concentração na Alemanha nazista e da fuga e perseguição aos judeus. O fato de Zweig ter buscado exílio no Brasil em seus últimos anos de vida, especificamente em Petrópolis (RJ) trazendo junto sua segunda esposa Charlotte Zweig proporciona ao leitor uma intimidade maior com a obra. O país vivia também um momento marcante: A Era Vargas.
Antes de fazer minhas considerações pessoais sobre o livro preciso ressaltar que há uma versão "consolidada" sobre a morte de Stefan Zweig e Charlotte: suicídio.
A obra de Deonísio da Silva faz o contraponto desta história utilizando a ficção para despertar nos leitores os mais diferentes sentimentos: inquietação, angústia e o livre arbítrio para seus "cárceres escolhidos".
No livro de Deonísio, a história do suicídio do casal é dividida em duas partes: na primeira é o próprio Zweig que narra as horas que antecedem sua morte.
O autor consegue fazer exatamente o que o personagem menciona em um de seus diálogos: ele borda com as palavras e cabe ao leitor ficar atento a cada ponto cruz.
A personagem de Lotte inicialmente é apresentada como mulher subserviente, a própria "Amélia", apesar dela não suportar ouvir os versos da canção tão conhecida. Além disso, Lotte sofria de asma, tinha um corpo doente que para o pavor de Zweig poderia a qualquer momento sabotar o plano de suicídio em parceria, antecipando-se ao amado.
Stefan Zweig, mesmo 30 anos mais velho que a esposa gozava de boa saúde, mas percebemos seu coração asfixiado pela angústia, pelo amor, e principalmente pelo sofrimento com a guerra a dizimar os seus semelhantes. “Eu sofro muito mais do que os outros porque percebo, sem saber dizer por que, que amanhã será pior.”
Na segunda parte do livro surgem novos personagens, com destaque para a primeira esposa de Stefan (só pela alcunha de "EX" já ganhou minha antipatia) que instigam o leitor a cada página virada. Há uma investigação acerca da morte do casal. O exílio em Petrópolis não foi suficiente para calar a voz do "inimigo intelectual número um do Reich.”
A partir daí temos a perspectiva de Lotte, que se revela preocupada com o reconhecimento externo de sua dedicação e amor ao marido. Deonísio é generoso ao deixar Charlotte falar ao leitor.
Lembrando que como todo típico  suicida ou "suicidado" como sugere o autor, Zweig deixou uma carta com o título em português "Declaração". Abaixo um fragmento:
Assim, em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a Terra. Saúdo todos os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite.
Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes.
Stefan Zweig
Suicídio? Assassinato? Um romance cheio de mistérios.
Prefiro como leitora, parafrasear uma frase do autor: "a ferramenta intelectual mais importante de um leitor é sua imaginação, jamais a pesquisa.”.
No palato segue o gostinho da dúvida.
Curiosidade: O maior biógrafo brasileiro de Stefan Zweig é o jornalista Alberto Dines. E foi o Dines quem escreveu a orelha do livro do Deonísio! Achei o máximo. Cada um defende seu ponto de vista e ainda conseguem transbordar em generosidade!
Abaixo o link da entrevista que o Deonísio deu ao Jô Soares falando sobre o livro:
Ah, e o KibeLoco falou da jaqueta do autor. Estilo Lady Gaga. Eu a-d-o-r-e-i! Arrasou! Moda e literatura vestem muito bem!
Don't be a drag, just be a queen!
 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sagrada Família


 
 
Em 2009 tive a sorte de entrevistar o jornalista e escritor Zuenir Ventura para o Bom dia Pará durante sua participação na Feira do Livro de Belém na época. Confesso ter ficado tensa e até um pouco intimidada diante da grandiosidade do profissional que ele é, mas me surpreendi com um senhor carinhoso, de voz pausada e solícito que me ajudou e fez a entrevista fluir maravilhosamente bem.
No ano passado, Zuenir voltou a Belém para falar de seu livro que seria o primeiro de ficção propriamente dita. Diferente dos anteriores, sempre permeados por experiências jornalísticas ou fatos noticiados mundo afora. Lembro bem dele dizendo que não tinha certeza sobre o título "Sagrada Família" e perguntando a opinião da plateia.
 
O livro "Sagrada Família" (Editora Alfaguara) foi publicado este ano e superou minhas expectativas. Na palestra que assesti em 2011 o que mais me marcou foi uma frase do Zuenir falando sobre seus "planos para o futuro". Um senhor de 81 anos que faz planos para o futuro sem o menor medo ou pudor.
Só que o livro trata do passado. A sensação que tive enquanto lia, é de ter ouvido a história durante uma conversa com meu avô. Rindo e identificando as semelhanças que toda família tem...Ainfal quem nunca ouviu ou presenciou um "ataque" de uma tia, um vexame de um tio, escutou atentamente as peripécias dos primos e primas?
Há um traço forte de autobiografia. Apesar de não conhecer a vida pessoal do autor, posso arriscar que muito do que contém as linhas do livro foi realmente vivido por ele. Existe a descrição do comportamento de uma época. Os padrões e rigores de uma família "respeitável". Que lá no fundo, toda família tenta ser.
A narrativa obedece uma ordem cronológica que favorece a leitura. O narrador-personagem começa contando fatos da sua infância "do alto" de seus nove anos. Depois alguns anos mais tarde, um pouco mais maduro, já no início de sua adolescência e com a "apoteose" no seu regresso ao seio familiar na vida adulta.
Uma história surpreendente. Que me deixou saudade e me cativou como só um avó querido poderia fazer. E você fica pensando: que velhinho danado! Criou essa história mirabolante aos 80 anos!!
Mas convenhamos que em oito décadas, já se viu e ouviu muito. E a junção de toda essa vida, só poderia resultar em coisa muito boa.
Minha família não é grande. E infelizmente não somos tão unidos quanto os personagens da obra do Zuenir. Porém, depois desse livro acho que um consenso entre os leitores haverá: toda família é realmente sagrada...

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Em briga de marido e mulher...



Quem acompanha o blog sabe que eu sou apaixonada fã do Fabrício Carpinejar. O livro de crônicas “O amor esquece de começar” e o de poesia “Terceira Sede” são o suprassumo da literatura contemporânea na minha concepção.

Mas o Carpinejar anda muito marqueteiro pro meu gosto... Há tempos ele se relacionava com a psiquiatra e também escritora Cinthya Verri. Os dois formavam um casal “exemplo”, cheios de declarações de amor em público e o trabalho em parceria estava funcionando bem, tanto é que apresentavam um programa de rádio juntos, foram no programa do Jô Soares etc etc.

Como tudo nessa vida é finito, (já dizia minha mãezinha) os dois “de repente” se separaram. O Carpinejar anunciou o fato no facebook. Choro pra cá. Xingamento pra lá. Palpite que não acabava mais. Todas as leitoras apaixonadas fãs dele queriam meter a colher.

No começo eu não acreditei (sou jornalista e desconfiar é quase orgânico), mas com a proporção que o negócio tomou já estou apostando que isso foi golpe de marketing, e o relacionamento fatidicamente vai degringolar.

A Cinthya tinha(tem) um blog (www.matandocarpinejar.blogspot.com) e neste espaço ela publicava suas ilustrações e seus textos numa espécie de catarse para o ciúme. Eu visitei o blog várias vezes e me divertia pois ela escreve muito bem. Mas agora “as fãs” do Carpinejar criaram o “ressuscitando Carpinejar” para fazer um contraponto e elevar a autoestima do dito cujo.
Plágio? Falta de criatividade? Provocação?

Fala sério. Expor o relacionamento já é um troço arriscado. Agora deixar que milhares de leitoras metam a colher, o garfo, a faca e até o dedo na vida a dois é demais pra minha cabeça de bagre.

Tem cheiro de jogo de marketing barato. Se ficar comprovado, quem terá uma desilusão amorosa serei eu. Com o talento que o Carpinejar tem pra escrever não precisava disso... Os textos supriam tudo...

Bom, mas o meu post também é uma metida de bedelho, por isso é melhor eu cuidar do meu escritor antes que uma “maria-teclado” apareça por aqui...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A queda

 
Na semana passada viajei para Fortaleza-CE para a Intercom (Congresso Nacional de Comunicação). De avião do Rio de Janeiro até Fortaleza o trajeto dura mais ou menos três horas e meia. Aproveitei para ler o novo livro do Diogo Mainardi: “A queda, as memórias de um pai em 424 passos.”.
A obra me chamou atenção depois que eu assisti a uma entrevista do jornalista no programa “Roda Viva” mês passado.
Olhem só que coisa: eu comprei este livro numa livraria do Barra Shopping e comecei a ler logo em seguida. Mas a obra estava cheia de falhas. Várias páginas vieram em branco. Nítido problema de impressão da gráfica. Fui lá trocar e só depois de ter conseguido um exemplar novo e “correto” parei para analisar os fatos. O livro conta a história de Tito, filho de Diogo Mainardi que nasceu com paralisia cerebral. Ou seja, o menino tem um sério problema. O exemplar que eu comprara veio com “defeito” e eu me empenhei para trocá-lo sem pestanejar. Diogo não pôde “trocar” o filho. E ele conta exatamente esta história.
O texto é cheio de referências históricas. O garoto nasceu num hospital público de Veneza que se localiza no prédio da Scuola Grande di San Marco (1808). Vários personagens importantes tiveram ligação com esta construção como Napoleão Bonaparte que foi quem o transformou em hospital militar. O autor amarra outros nomes como Adolf Hitler que assinou um memorando autorizando a execução de recém-nascidos inválidos durante a Segunda Guerra. O filho dele se tivesse nascido na época, poderia ter sido vítima. O filho dele é vítima, mas não dos nazistas.
A criança teve paralisia cerebral por conta de erro médico. Apesar disso, em vários momentos da narrativa dá pra perceber que o jornalista se culpou por muito tempo. Ele assume que explorou a doença do filho nas colunas que escreve para a revista “Veja” e continua a explorar até hoje, basta ler o livro.
Assim que comecei a conhecer a história de Tito foi inevitável lembrar de outro livro que li e se chama “O filho eterno”. A obra-prima do escritor Cristóvão Tezza conta a vida de um pai com um filho que nascera portador da síndrome de down. As doenças são diferentes. As narrativas são diferentes. Os pais e os filhos são outros. Mas o que eu senti durante a leitura foi igual: medo. É uma situação angustiante. Acredito que só quem vive pode realmente julgar.
Na volta pra casa, depois do fim do congresso meu voo fez uma conexão em Campinas. O aeroporto é relativamente pequeno e enquanto eu esperava o avião vi uma movimentação grande perto de mim. Uma menina de aparentemente uns 16 anos gritava como se estivesse sendo espancada pelo pai. O pai na verdade, tentava acalmá-la para não “constranger” os demais passageiros. Percebi vários olhares que iam de pena à reprovação. É claro que me transportei de volta ao livro. Aquela jovem ao que tudo indica tinha paralisia cerebral. Uma doença, involuntária a vontade dela e dos pais.
Depois que ela parou de gritar, tudo voltou à normalidade. Mas será que somos normais mesmo? Quantas vezes não estamos doentes de preconceito, reservados em nossa individualidade, incapazes de um simples ato de gentileza dentro de nossa própria casa?
Uma das frases do livro “A queda” que mais gostei foi esta: “saber cair tem muito mais valor do que saber caminhar.”.
Eu antes de tudo preciso aprender a caminhar.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Visitantes ilustres

Eu criei um blog novo para falar sobre literatura e moda! O www.literaturavestebem.blogspot.com Apesar de ter mais de 400 visualizações em apenas dois posts, não teve nenhum comentário... Fiquei triste!
Mas acho que na verdade os leitores do "repórti franjinha" ficaram confusos, pois muita gente me perguntou se o blog terminaria. A resposta é: Nããããão!
Eu escrevo aqui desde 2008. Sou eu, despida de preconceitos, medos ou vergonha de me expôr. Como eu já expliquei anteriormente, escrever me ajuda a desabafar e é simplesmente maravilhoso quando algum leitor que eu não conheço pessoalmente diz que se identificou com meu texto. É quando eu ganho meu dia!
Por enquanto, não estou trabalhando em TV aqui no Rio de Janeiro. Eu sinto falta da correria da vida de repórter, mas essa é uma carreira que exige muitos sacrifícios! Esse tempo tem servido para eu desanuviar a mente. Ler mais, ver bons filmes, aprender a cuidar de casa (risos).
Fico cheia de orgulho quando recebo mensagens de telespectadores paraenses que dizem sentir minha falta na telinha. Sinceramente, sem ser piegas, este tipo de incentivo sempre foi minha fonte de energia. Porque se fosse pelo salário, condições de trabalho (sem folgas em finais de semana e feriado...) acho que eu teria partido pra um outro segmento do jornalismo, como uma assessoria de imprensa da vida...
Então, é claro que eu sinto saudade de vocês!
Espero que vocês continuem me acompanhando por aqui. E comentem! Quero saber a opinião de vocês sempre!
 
E por falar em saudade, no último final de semana minha mãe e meu afilhado vieram passar 4 dias comigo! Foi perfeito poder compartilhar mais momentos felizes com eles!
O Paulinho (meu afilhado) tem 7 anos. É filho da minha prima-irmã. Foi a primeira vez dele na cidade maravilhosa! Vocês não tem ideia do quanto ele gostou! No sábado abriu um sol, então fomos à praia da Barra. A água tava um gelo! Mesmo assim ele se molhou, brincou e ainda fez amizade com outro menino. As crianças tem essa facilidade...Essa pureza! Infelizmente, nós adultos não temos essa sorte...
 
Vou postar umas fotos pra vocês conhecê-los!
 
Beijos! E até o próximo post! ;)
 
 
                               Nós três curtindo a praia! (A minha franja sempre rebelde!)

                                            Eu e minha mãe!

Eu e Paulinho! (Notem como ele "adora" ser fotografado...Hehehe)


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Beija eu

Essa minha fase longe da correria da redação tem sido boa para refletir. Nada de reflexões existencialistas ou filosóficas. É o trivial mesmo, que quase sempre passa batido e por conta da rotina atarefada nós não temos força e nem paciência para pensar.
Uma coisa que eu venho me perguntando é em que momento da vida os casais param de trocar beijos de língua. Aquele beijo apaixonado, lascivo, que já foi dado com a mesma intensidade numa boate ou num aeroporto diante de tantos olhos. A vida conjugal deveria ser uma micareta diária. Ivete Sangalo e Cláudia Leitte é que estão certas em propagar por aí “comigo é na base do beijo” ou “eu quero mais é beijar na boca e ser feliz”.
Acho uma besteira essa história de não beijar em público. Tudo bem, não vamos ser protagonistas de cenas de pornochanchadas, mas o beijo é a melhor declaração de amor que já inventaram. Se você pode beber, fumar, vez por outra cometer uma infração de trânsito, ou seja, coisas que realmente causam  constrangimento, por que beijar em público é vergonhoso?
Beijo pra mim é sinônimo de intimidade. De entrega. O melhor beijo é aquele erótico e ao mesmo tempo terno. Esse tipo de beijo, você só consegue quando existe amor, ou no mínimo paixão.

Não me venha com estalinho. Estalinho eu dou na minha mãe, na melhor amiga, na Hebe Camargo. Eu gosto mesmo é de beijo de língua. Desintupidor de pia. Aquele que mexe com cerca de 20 músculos e queima umas 30 calorias.
Concordo com meu querido Carpinejar que diz que “viver tem sido adiantar o serviço do dia seguinte. No domingo já estamos segunda, na terça já estamos na quarta e sempre um dia a mais do que deveríamos viver.” Estamos sempre com pressa. Mal terminamos as tarefas de hoje e já estamos prospectando os afazeres de amanhã. E isso se estende ao beijo também.
Fico danada da vida quando meu namorado encerra o beijo com pressa. No melhor, ele sai de cena. Tenho plena convicção que esse drama não é exclusividade nossa. É raro encontrar um casal aos beijos por aí. Ainda mais se forem casados ou namorados de muito tempo.
Na balada você até pode presenciar beijos nervosos. Aquelas línguas exibidas que também estão cheias de pressa para descobrir se o beijo vai evoluir para o sexo. Ou se de repente, terá outra boca disponível na mesma noite e com melhor desempenho. Este tipo de beijo, eu dispenso.
Outro dia fiquei observando um casal de adolescentes se beijando no shopping. Os dois ignoravam o mundo em volta. Não havia conversa. Só muito beijo. No primeiro momento até fiquei preocupada com a sexualidade precoce. Depois pensei apenas no ato. Beijar. Uma das melhores sensações do mundo.
Lamento pela crise do ósculo. Pelos casais que perdem tempo discutindo ao invés de estar trocando saliva.
Eu sigo sendo chata. Cobrando os beijos diários. Enfiando a língua na boca dele. Escandalizando a plateia. Beijando muuuuuuito. Beijando sempre.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Rio eu gosto de você...


Acordei hoje com espírito bem mulherzinha. Depois de tomar café da manhã convoquei minha “personal colega” e fomos até o mercado comprar verduras, legumes e frutas para a semana.

Ontem rolou um churrasco de dia dos pais na casa da minha sogra e não teve quem resistisse diante de tantas delícias... Pra quem não sabe, meu pai faleceu há nove anos, mas isso é assunto pra outro post.

Descrevi esse meu evento matinal em 140 caracteres e percebi como o Rio de Janeiro é carregado de simbologias e para algumas pessoas, morar aqui é praticamente morar dentro de uma novela do Manoel Carlos.

Não é bem assim... Eu não sou nenhuma "Helena" e não passeio todo dia pela praia ou tomo café na livraria...Depois de três meses vivendo na cidade maravilhosa hoje foi a primeira vez que ouvi o “Samba do avião” como trilha musical enquanto eu caminhava até o mercado.

Vi alguns porteiros lavando a calçada, cruzei com babás empurrando os carrinhos de bebê na Praça do Ó, (que fica em frente ao local em que fiz as compras), senti o cheiro de maresia e o sol misturado com uma brisa fresca acariciando meus cabelos.

Não estou falando do Leblon do Manoel Carlos. E sim do Jardim Oceânico, uma parte da Barra que só tem prédios de três andares e ruas largas e arborizadas. O Aguinaldo Silva tentou mostrar na última novela dele, aquela “Fina Estampa” um pouco desse cenário! Vocês lembram? Não moro perto do Pereirão! Seria mais pras bandas do prédio da Arlete Sales, a taxista que morava com a filha e a neta. Não sei mais o nome das personagens, não foi uma novela que me marcou...

Enfim, eu já morei antes no estado do RJ, mas no município de Niterói, lá do outro lado da ponte. Foi uma experiência incrível, principalmente porque foi o último ano de vida do meu pai (que era carioca) e nós aproveitamos para estreitar uma amizade que antes parecia improvável. Ou seja, minha conexão com o Rio é antiga.
Bom, este foi um post despretensioso e feito especialmente para os meus telespectadores tão carinhosos que sempre falam no twitter que sentem minha falta. E para algumas pessoas da minha família e amigos de outros estados com quem eu tenho menos contato.

Aqui não é novela. É vida real. E essa é a melhor parte! ;)