No próximo mês o mundo deve
voltar os olhos para a cidade maravilhosa. De 13 a 22 de junho o Rio de Janeiro
vai receber líderes mundiais dispostos a discutir o futuro do planeta. É a
conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) Rio +20 que vai tratar de
assuntos diretamente ligados ao desenvolvimento sustentável.
Desde moleca eu ouço falar
de sustentabilidade. No começo era uma palavra meio difícil de falar, mas que
se escrita nas provas de Ciências era certeira como garantia de um “pontinho a
mais” na nota final.
Apesar de ter me formado com
um trabalho de conclusão de curso que abordou um estudo de caso dentro do
jornalismo ambiental não tenho nenhuma presunção de discorrer sobre o assunto.
Tentar empregar definições para sustentabilidade, aquele papo de “preservar o
planeta para as gerações futuras”, enfim, não é bem a minha praia. Não que eu
não me esforce para ser ecologicamente correta. Acho bacana quem recicla o
lixo, não desperdiça água, usa “eco-bags” pra mostrar como é “cool.”.
Pois é, estando no Rio de
Janeiro por esses tempos, não tem como passar incólume diante do burburinho que
este acontecimento vem causando na cidade, principalmente na mídia.
A ideia da realização dessa
Conferência no Brasil foi do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em
2007, fez a proposta para a ONU. O evento recebeu o nome de Rio+20 porque a
reunião acontecerá no Rio de Janeiro, exatamente 20 anos depois de outra
conferência internacional que tinha objetivos muito semelhantes: a Eco92 também promovida
pela ONU, na capital fluminense, para debater meios possíveis de
desenvolvimento sem desrespeitar o meio ambiente.
Andei pesquisando na
internet sobre como seria a participação da sociedade civil nisso tudo.
Descobri que o Rio de Janeiro sediará, também, a Cúpula dos Povos: um
evento que contará com debates, palestras e uma porção de outras atividades,
sobre os mesmos temas da Conferência da ONU, mas que serão promovidos por
grupos da sociedade civil - como ONGs e empresas. Deve ter muito mais coisa,
mas reforço que minha intenção não é ser “eco-chata.”.
Apostaria todos os longos
fios da minha cabeça que a palavra “Amazônia” será dita por milhares de bocas.
Com todos os sotaques possíveis e inimagináveis. Entre todas as classes
sociais. Todas as raças de todas as crenças. E todas as orientações sexuais.
Eu sempre achei a Amazônia
uma puta. É a puta mais cobiçada do planeta. Não deixa de ser puta, já que dá
pra uma galera. Ela proporciona orgasmos múltiplos aos exploradores que
desmatam, queimam, levam nossa biodiversidade e aplicam em pesquisas estrangeiras.
Aqui com meus botões de caroço
de açaí, fiquei me perguntando quem das nossas bandas foi convidado pra essa
festa?
Hoje no noticiário local
assisti as imagens de alguns índios que chegaram para a conferência. Confesso
que senti certo orgulho ao ver aqueles olhos rasgados e cabelos lisos
aparecendo na tevê. Minha ascendência em solo carioca. Mas porra. O take que eu vi estragou a emoção. O
índio com umas penas tímidas usadas como pulseira e um tênis da NIKE?
Juro que não queria um índio
com lança, cocar, atando rede na orla de Copacabana. Mas o tênis da NIKE foi
foda.
Então, voltei a me perguntar
quem foi convidado pra esse evento tão espetaculoso? Além dos chefes de estado,
da galera do Green Peace que deve dar as caras, não sei quem vai chegar da
Amazônia para nos representar. Por isso, resolvi escrever uma lista de
sugestões para quem for responsável pelo R.S.V.P.
O que acham de chamar a Iara?
Ela também atende por Uiara ou Ipupiara; é um dos seres mitológicos mais
populares da Amazônia. Seu poder de sedução é tão forte sobre os homens quanto
o do boto sobre as mulheres. Por isso, às vezes é chamada de boto-fêmea.
A Iara é descrita como uma mulher muito bonita e de canto maravilhoso que
aparece banhando-se nas águas dos rios, ou sobre as pedras nas enseadas. Acho
que ela ia “se fazer” aqui no Rio de Janeiro. Eu sei que a Iara têm grandes
chances de desconcentrar os participantes, mas é a hora de impressionar, não é?
Num evento desse porte deve
ter lugar reservado para idosos. A Matinta Perera ia gostar do Rio! E diante de
algum país mais intransigente poderíamos apelar para o respeito aos mais
velhos! Se a matinta é um pássaro ou uma velha ninguém sabe explicar ao certo.
O que se sabe é que quando a Matinta Perera assobia, o caboclo respeita e se
aquieta. Poderia ser uma aliada! Dizem que de noite, quando ela sai para
cumprir seu fado, a Matinta sobrevoa a casa daqueles que zombam dela ou que a
trataram mal durante o dia, assombrando os moradores da casa e assustando
criações de galinhas, porcos, cavalos ou cachorros. Já pensaram na Matinta
sobrevoando o Rio de Janeiro depois de um pulo lá da Pedra da Gávea? Asa-delta
é para os fracos. Matinta Rio+20 já!
OK. Nós da Amazônia sabemos
que há boatos que a Matinta tem sérios problemas tabagistas. Mas as discussões
em torno do meio ambiente poderiam ajudar a velha a se livrar do maldito vício!
Para não ficar com uma lista
exclusivamente feminina apostaria na vinda da cobra Norato. Ou Honorato, para
ser mais cordial no convite. Norato é um dos filhos rejeitados da índia que
engravidou da Boiúna, a cobra-grande mais famosa dos rios da Amazônia. A índia
estava tomando banho de rio e acabou “bolinada” pela Boiúna e ficou buchuda. Ser
mãe solteira deve ser bem difícil. Mas foi “nada a ver” o que essa índia fez.
Jogar os filhos no rio, tentar matar as crianças. Deu no que deu. Viraram
cobra-grande também e Norato é a “cobra-macho” de quem mais se ouve falar.
Sugeri estes três
personagens das lendas da Amazônia porque eles não precisariam fazer reservas
de hotel, que já devem estar sem vagas e poderiam improvisar aqui pelo Rio de
Janeiro. Porém, acho que está muito em cima da hora e nenhuma das nossas
entidades será convidada.
Uma pena. Talvez com um
pouco mais de sabedoria popular e menos ciência de gringo, os caras que vão
discutir sobre o futuro da nossa terra poderiam ter mais chances de acertar.
Tomara que dê tudo certo.
Tomara que encontrem explicação pra esse clima doido, que muda toda a hora.
Tomara que a safada da Amazônia pare de se oferecer. Tomara que nenhum
visitante leve um tiro que veio de algum morro ainda não pacificado. Tomara meu
Deus. Tomara.