sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

AULA - Barthes


Desmembrei o livro "AULA" do Roland Barthes que é bem curto, porém denso (medo!) em três textos... Os dois primeiros estão aí abaixo. O objetivo é trocar ideias com mestrandos, estudantes de comunicação, enfim... unidos venceremos!


AULA 1

O livro "Aula de Roland Barthes é produto da sua palestra inaugural no famoso Collége de France. O autor inclusive questiona os motivos que levaram a tradicional instituição a aceitá-lo naquele espaço consagrado intelectualmente.

O texto em alguns momentos apresenta um tom poético, como por exemplo quando o autor compara alegria e honra (no sentido de mérito) por estar ali disseminando seu conhecimento e enaltece os intelectuais que por ali já passaram.

Discorrendo sobre linguagem e poder, Barthes ressalta que no Colégio de França há a vantagem de se poder falar e pesquisar,e não de "julgar, escolher, promover, de sujeitar-se a um saber dirigido..." Sua intenção é despertar nos alunos a reflexão.

O autor desmitifica o poder apenas com conotação política e ressalta seu caráter ideológico.
"(...) o poder está presente não somente no Estado, nas classes, nos grupos, nas modas, opiniões, espetáculos, jogos (...) chamo discurso de poder todo discurso que gera ou produz o erro e por conseguinte, a culpabilidade daquele que o recebe."

É neste momento que Barthes nos revela que sua crítica ao poder não é somente direcionada à classe intelectual, dotada de credibilidade e que com isso poderia facilmente manipular os discursos. A preocupação do autor vai ainda mais fundo: para Barthes é a linguagem ou a língua que aparece como fator de alienação.

De acordo com Barthes "falar não é comunicar; é sujeitar: toda língua é uma reição generalizada." E aí temos um exemplo prático: a palavra reição não tem tradução para o português. O que leva o leitor a compreender a linguagem escrita através da mediação da tradutora do texto, sem a forma literal, apenas dentro do contexto.

Para Roland Barthes a língua não é democrática
. Nem reacionária, nem progressista. Para o autor a língua é fascista; "pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer."

Segundo o autor a língua é feita de signos, que só existem na medida que são reconhecidos, muitas vezes se transformando em estereótipos. E é contra os estereótipos que Barthes irá se posicionar.

Nesta introdução o autor conclui que a única forma de se esquivar do poder da linguagem é através da literatura.



AULA 2

Barthes esclarece que ao falar de literatura não está especificamente tratando de obras e sim da prática de escrever.

O autor enaltece o texto como o "aflorar da língua". O processo de criação deve ser feito com consciência e responsabilidade. "As forças da liberdade que residem na literatura não dependem da pessoa civil, do engajamento político do escritor (...) mas do trabalho de deslocamento que ele exerce sobre a língua. Ou seja, o que importa não é quem escreve, mas sobre o que e de que forma.

Barthes fala sobre as "forças da literatura" e se apropria de três conceitos gregos: Mathesis, Mimesis, Semiosis.

O autor defende a literatura como mantenedora de muitos saberes: histórico, geográfico, social, técnico, antropológico etc. Para ele todas as ciências estão contidas na literatura e esta retrata a realidade. Mais a frente Barthes vai esclarecer que a retratação da realidade é na verdade sua representação. Se apropriando de conceitos psicanalíticos o autor nos diz que a literatura também pode ser irreal quando é fruto do desejo. Algo impossível de ser alcançado.

De acordo com o autor a literatura "faz girar os saberes", quer dizer, é democrática e não impõe nenhum deles. Segundo ele a literatura seria um caminho para "traduzir" a ciência, muitas vezes incompreensível.

Barthes escreve "a literatura não diz que sabe alguma coisa, mas que sabe de alguma coisa; ou melhor: que ela sabe algo das coisas". O saber é um enunciado, ou seja, pode ser expresso por palavras ou em uma breve exposição. Já a literatura, para o autor é uma enunciação, aquilo que pode ser verdadeiro ou falso.

Entretanto, Barthes esclarece que não pretende colocar de um lado os cientistas e pesquisadores e de outro os escritores; para ele a literatura existe em toda parte onde as palavras "têm sabor", são compreensíveis e pertinentes.

Isso fica mais claro quando o autor fala sobre literatura e sua força de representação. A literatura, assim como a ciência se esmera em representar o real. Mas segundo Barthes, o real não é representável, mas somente demonstrável.

Contextualizando para o meio jornalístico, a grande pretensão do profissional desta área, esteja ele em qualquer plataforma de mídia, é apresentar os fatos reais. Através do texto escrito ou televisionado, o emissor da mensagem tem a intenção de apresentar ao receptor o que julga ser a realidade; de forma objetiva. Citando outro autor que neste ponto converge com as ideias de Barthes, o jornalista Felipe Pena no livro "No jornalismo não há fibrose" diz que "o verdadeiro significado do jornalismo está ligado à ideia de que os fatos são construídos de forma tão complexa e subjetiva que não se pode cultuá-los como expressão absoluta da realidade." Ou seja, a linguagem está carregada da subjetividade daquele que a utiliza.

Barthes incentiva que no interior de um mesmo idioma se tenham várias línguas. O prolixo, o coloquial, a linguagem falada ou escrita deveria ser utilizada segundo o desejo do enunciador. E mesmo assumindo que o pensamento é utópico, o autor defende que estas línguas coexistam sem repressão, remorso ou recalque, sem se submeter ao poder das imposições sociais, filosóficas ou políticas.