domingo, 16 de agosto de 2009

O meu "Eu lírico" mora ao lado...



Estou me preparando para receber o amor da minha vida. Não, ainda não o encontrei. Muito menos tenho algum palpite sobre de onde ele vem. Mesmo assim estou cuidando de mim, para que ele me reconheça e me encontre sem grandes esforços. Não consigo elencar os pré-requisitos ou descrever suas peculiaridades. Mas sei que muito temos em comum. Ele vai se surpreender com a minha sensibilidade e o gosto que ando desenvolvendo pelas artes. E não faço por causa DELE, obviamente os méritos são meus, mas vou poder dividir com ele, e nos apreciaremos mutuamente.
Vamos ler poesias de Baudelaire em plena quarta-feira à noite. Até lá meu francês estará muito mais avançado, provavelmente eu já terei concluído o curso e até já tenha praticado e feito biquinhos in loco. Tudo bem se ele não tiver divido este momento comigo, afinal carregaremos os dois um passado que não será um fardo ou mesmo fonte de ciúmes bobos. Poderemos falar de passado sem grilos e também sem grande aprofundamento, afinal nosso objetivo maior será curtir nosso presente, adubando a terra para o futuro.
O meu amor deverá ter alguns ou muitos cabelos brancos. O cabelo branco pra mim sempre foi um fetiche, um charme, um mistério a parte. Mas tenho certeza que os poucos ou muitos cabelos brancos que ele ostentará não serão tão e unicamente fontes de preocupações excessivas. Claro, o meu amor vai ser um homem preocupado e exigente, mas não terá pautado suas conquistas e experiências apenas em conceitos mercantilistas e de mais-valia.
O amor da minha vida não vai se apaixonar quando me vir de costas. Sou heterossexual, logo é claro que o meu amor é um homem, macho, viril e lascivo. Mas ele não irá “prometer amor eterno em troca da bunda imediata”. Provavelmente ele notará minha presença ao ouvir minha voz, que até o dia do encontro já estará bem mais grave graças aos encontros semanais a que venho tendo com a fonoaudióloga desde agora. A voz grave é para envolver o telespectador, dar o tom sério e verdadeiro para minhas matérias, tirar um pouco da subjetividade da idade, porque a minha pessoal é inviável que não exista. Então tudo de bom que estou agregando para minha vida profissional e pessoal desde hoje, de alguma forma me ajudarão a ser mais atraente para o amor da minha vida.
Nossas estaturas se equivalerão. Ou ele até poderá ser uns centímetros mais baixos ou mais altos. O importante é que ele sempre crescerá nos momentos necessários. Vou poder usar salto alto sem me envergonhar, ou ficar desengonçada. Afinal o amor da minha vida vai saber exatamente o meu verdadeiro tamanho, e ele vai sempre me lembrar que este não se mede pelo sistema tradicional vigente.
Voltando para este momento que precede o encontro, minhas metas a curto e médios prazos envolvem muita leitura, afinal meu amor é um homem inteligente e nós precisaremos nos entender, mesmo sabendo que seu caráter não é de alguém que menospreze ou se vanglorie de ter mais conhecimento e experiência. Também estou apurando meus gostos musicais, apesar de não me importar nenhum pouco se ele não partilhar de tudo comigo, já que seremos dois, com nossas individualidades preservadas, e este será um dos pontos que nos ligarão mais intensamente.
E alguns segredos que não posso revelar. Mandingas especiais reservadas só para ele. Vai que o amor da minha vida entre no meu blog, mesmo sem me conhecer ainda, mesmo sem morar na mesma cidade que eu, mesmo se ainda estiver se iludindo achando que está vivendo um amor, enquanto eu estou me preparando para encontrá-lo? Melhor não arriscar.
Num domingo como esse, eu e o amor da minha vida poderemos estar conversando sobre a noite do sábado anterior, ou quem sabe estaremos em alguma sala de cinema curtindo um programa clássico de casal, mas nem por isso menos agradável. Ou ele pode estar lendo, vendo TV (obviamente não será nada na TV aberta, não consigo ser tão romântica), e eu estar contemplando sua presença.
Não tenho a pretensão de conhecer as peças que a vida nos prega. Pode ser que o amor da minha vida se antecipe e resolva aparecer antes de eu me sentir devidamente preparada para recebê-lo. Mas, aí ele vai ser paciente e me ajudar a enxergar muito mais coisas que hoje ainda não vejo. Só que neste período da minha vida, estou vivendo relações poligâmicas. A cada dia me envolvo com um. Até reencontrei antigos amores. Fernando Sabino, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Oswald de Andrade, Leminski, Cecília Meireles (sem rótulos ok?), Affonso Romano de Sant’anna, Patativa do Assaré, Carpinejar, Oscar Wilde, Nelson Rodrigues, Olavo Bilac, Baudelaire e muitos outros que não ficarão chateados de não serem citados, pois sabem que a relação por aqui é comensal mesmo. Eles são os tubarões e eu sou a rêmora. Só que com o amor da minha vida, a relação será simbiótica. E para terminar o desabafo do momento “eu lírico” que vivencio não poderia deixar de falar sobre o meu primeiro amor. Não é o que eu aguardo, e não haverá jamais ciúmes entre os dois. É clichê, mas O PRIMEIRO, a gente nunca esquece. Pode lembrar porque foi bom, porque foi ruim, ou simplesmente, diferente. O meu primeiro me ajudou a não me perder, e hoje nos nossos reencontros eventuais, sempre me “arrupio” quando o leio, pois foi aqui que toda a minha sensibilidade poética começou. Então para você, Casimiro de Abreu, a citação da minha primeira vez:
“Oh! Que saudade que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sobra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!”

2 comentários:

MA disse...

Engraçado, esse amor tem um perfil muito parecido com aquilo o qual tento me despir ! Será ?

por Denilson d'Almeida disse...

nossa! Isso é que amor! Lida postagem, amore.