domingo, 8 de maio de 2011

Para a melhor mãe do mundo...



Durante anos os médicos foram categóricos com a minha mãe: “a senhora não pode ter filhos.”
Ela fez tratamentos, viajou em busca do avanço da medicina, até submeteu-se a receitas populares: põe as pernas pra cima, fica de cabeça pra baixo, sobe a escadaria da Penha de joelhos (isso ela não fez, mas tenho certeza que faria!).
Quando ela não imaginava mais que seria abençoada com o dom da maternidade, Deus lá de cima resolveu chamar uma estrelinha.
- Estrelinha! Você vai fazer uma viagem – Ele disse.
- Viagem Papai do Céu? Mas eu gosto tanto de morar aqui, perto dos meus amigos anjinhos, das nuvens tão macias... Pra onde eu vou?
- Você vai para um lugar chamado planeta Terra. Lá você enfrentará muitas dificuldades, mas não se preocupe. Sua primeira parada será no ventre de uma mulher que todos os dias me implora pela sua presença. Ela vai te amar, não tanto quanto Eu te amo. Porém, ela cuidará de você, acalmará seu coração nos momentos de angústia, cantará canções de ninar e durante todos os dias da vida de ambas vocês dividirão um amor imensurável. Serão mãe e filha. Serão melhores amigas.
- Tudo bem, Papai do Céu. Já estou curiosa para conhecer esta mulher que o Senhor diz que me ama tanto, antes mesmo de me conhecer!
E assim a estrelinha viajou e foi parar dentro de um lugar quentinho e acolhedor. Nos primeiros nove meses a estrelinha só ouvia uma voz amorosa todos os dias. Dizendo o quando ela era querida e esperada.
A estrelinha se transformou em um bebê. E quando nasceu o primeiro contato foi inesquecível. Cheia de sangue e lágrimas, nossa primeira ligação foi cortada: o cordão umbilical.
Sem problemas, o cordão continua guardado dentro de uma caixinha de jóias, 26 anos depois. E podem apostar para ela vale mais do que qualquer diamante.
Acontece que uma ligação muito mais forte se estabeleceu. Minha mãe me ensinou a andar. Segurou firme na minha mão durante todas as quedas. E ainda hoje quando tropeço é direto no colo dela que eu vou parar.
Ela arrancou meus dentes de leite. “Mãe vai doer?” “A mamãe segura na sua mão.” “Mãe, vou fazer uma tatuagem.” “A mamãe segura na sua mão.” “Mãe, eu quero casar.” “A mamãe só quer ver você feliz, porém lembre que se não der certo, você tem sempre pra onde voltar.”
Minha mãe me ensinou a ler. Letra por letra. Decifrar os códigos que aos quatro anos pareciam tão confusos. E com o talento nato dela, nesta mesma idade escrevi um bilhete guardado até hoje: “Mamãe, cinto que te amo.” O “cinto” com “C” foi um erro de principiante. Logo ela me mostraria que na vida erramos muito, não só erros ortográficos, mas de escolhas, através de atos, de ausências.
Nossas declarações de amor são diárias. Nossa companhia é de admirar todos que pouco nos conhecem. Vamos à academia juntas, ao salão de beleza, aos shows, aos jantares, temos viagens inesquecíveis.
Só que o momento mais gostoso do nosso dia é a hora do chamego antes de dormir. Minha cama é de casal e ultimamente temos dormido juntas, agarradinhas.
Aos 26 anos, alguns rituais não mudaram: “já escovou os dentes?” “almoçou direito?” “Lanchou no trabalho?” “Linda na televisão, não falei que veria você na telinha da Globo?”
São tantos momentos, que eu poderia escrever um livro. Sei que os joelhos dela têm calos de tanto rezar por mim, e a mão não larga o terço cada vez que ela percebe só de olhar, que há algo de errado no meu semblante.
Algumas pessoas têm conceitos errados sobre ser mimada e ser amada. Minha mãe me repreende sempre que necessário. Faz críticas. Aponta meus erros e sim (pasmem) até berra comigo.
Só que ela é minha melhor amiga, meu maior alento, a companheira mais incansável que eu poderia ter nessa guerra chamada vida. Vencemos muitas batalhas. Perdemos outras, como a morte do meu pai e da minha avó.
Dom Quixote e Sancho Pança não nos causa inveja. Alguns dias ela vê moinhos e eu gigantes. E vice-versa. Mas juntas, enfrentamos tudo. Porque temos uma à outra.
Existe um ditado judaico que diz “A mãe compreende até o que os filhos não dizem.” Não tenho a menor dúvida.
Mãe, obrigada por tudo. Pela paciência, pela sua voz cantarolando pela casa, por me telefonar dez vezes por dia. Por chorar o meu choro e sorrir o meu sorriso.
Papai do céu, eu era uma estrelinha, mas só pude brilhar quando cheguei aqui. Ao lado da minha mãe. Ela é sem dúvida, a minha maior força, inspiração e razão de viver.
E nem pense em se ausentar, viu? Essa foi só a primeira parte da nossa história. Algum dia você terá netos, e eles, assim como eu, vão precisar muito dos seus afagos.
Feliz seu dia. Feliz meu dia. Feliz de nós, que nos amamos e nem a morte nos separa.

Um comentário:

Rutinha Albuquerque disse...

Minha Estrelinha,meus olhos quase nem enxergam as teclas de tantas lágrimas de emoção e alegria por ler o que de tão lindo você escreveu pra mim...me emocionei ao ver como você lembra tão bem a história da "Estrelinha" que escrevi e tantas vezes contei à você.Ser sua mãe, como você bem lembrou é um milagre de Deus,fui muito abençoada por Ele quando ganhei você. Eu lhe queria menina, e você menina. Linda, princesa, perfeitamente saudável.A primeira coisa que me chamou atenção quando lhe vi foi seu narizinho:LINDO,e eu pensei: ganhei uma boneca de verdade!Ah,minha Florzinha...minha
alegria em te-la com como filha é indescritível, imensurável.Todas as manhãs agradeço a Deus por ter me dado você,minha filha, minha amiga,minha confidente, minha melhor companhia. Je t'aime, I love you, io te voglio bene,yo te amo e eu TE AMO mais que tudo nessa vida!É núi forever!