domingo, 4 de novembro de 2012

Dica de leitura

 
 
LOTTE & ZWEIG
Confesso que antes de ler "Lotte & Zweig" (Ed. LeYa), pouco sabia da história deste escritor, romancista, biógrafo etc que foi Stefan Zweig. De origem judaica, Zweig nasceu na Áustria, sendo conterrâneo de Sigmund Freud, com quem chegou a se corresponder durante décadas e que é citado no romance. Não posso deixar de mencionar que foi conterrâneo também de seu algoz, Adolf Hitler.
 
 
 
O livro "Lotte & Zweig" do querido Deonísio da Silva tem muitas referências a grandes nomes como Rimbaud e Rainer Rilke, mas não chega a ser desconfortável para os que não estão familiarizados com estes nomes.
O período histórico em que se passa a trama é dos mais emblemáticos: a Segunda Guerra Mundial. É comum lermos e ouvirmos falar das batalhas sangrentas, dos campos de concentração na Alemanha nazista e da fuga e perseguição aos judeus. O fato de Zweig ter buscado exílio no Brasil em seus últimos anos de vida, especificamente em Petrópolis (RJ) trazendo junto sua segunda esposa Charlotte Zweig proporciona ao leitor uma intimidade maior com a obra. O país vivia também um momento marcante: A Era Vargas.
Antes de fazer minhas considerações pessoais sobre o livro preciso ressaltar que há uma versão "consolidada" sobre a morte de Stefan Zweig e Charlotte: suicídio.
A obra de Deonísio da Silva faz o contraponto desta história utilizando a ficção para despertar nos leitores os mais diferentes sentimentos: inquietação, angústia e o livre arbítrio para seus "cárceres escolhidos".
No livro de Deonísio, a história do suicídio do casal é dividida em duas partes: na primeira é o próprio Zweig que narra as horas que antecedem sua morte.
O autor consegue fazer exatamente o que o personagem menciona em um de seus diálogos: ele borda com as palavras e cabe ao leitor ficar atento a cada ponto cruz.
A personagem de Lotte inicialmente é apresentada como mulher subserviente, a própria "Amélia", apesar dela não suportar ouvir os versos da canção tão conhecida. Além disso, Lotte sofria de asma, tinha um corpo doente que para o pavor de Zweig poderia a qualquer momento sabotar o plano de suicídio em parceria, antecipando-se ao amado.
Stefan Zweig, mesmo 30 anos mais velho que a esposa gozava de boa saúde, mas percebemos seu coração asfixiado pela angústia, pelo amor, e principalmente pelo sofrimento com a guerra a dizimar os seus semelhantes. “Eu sofro muito mais do que os outros porque percebo, sem saber dizer por que, que amanhã será pior.”
Na segunda parte do livro surgem novos personagens, com destaque para a primeira esposa de Stefan (só pela alcunha de "EX" já ganhou minha antipatia) que instigam o leitor a cada página virada. Há uma investigação acerca da morte do casal. O exílio em Petrópolis não foi suficiente para calar a voz do "inimigo intelectual número um do Reich.”
A partir daí temos a perspectiva de Lotte, que se revela preocupada com o reconhecimento externo de sua dedicação e amor ao marido. Deonísio é generoso ao deixar Charlotte falar ao leitor.
Lembrando que como todo típico  suicida ou "suicidado" como sugere o autor, Zweig deixou uma carta com o título em português "Declaração". Abaixo um fragmento:
Assim, em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a Terra. Saúdo todos os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite.
Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes.
Stefan Zweig
Suicídio? Assassinato? Um romance cheio de mistérios.
Prefiro como leitora, parafrasear uma frase do autor: "a ferramenta intelectual mais importante de um leitor é sua imaginação, jamais a pesquisa.”.
No palato segue o gostinho da dúvida.
Curiosidade: O maior biógrafo brasileiro de Stefan Zweig é o jornalista Alberto Dines. E foi o Dines quem escreveu a orelha do livro do Deonísio! Achei o máximo. Cada um defende seu ponto de vista e ainda conseguem transbordar em generosidade!
Abaixo o link da entrevista que o Deonísio deu ao Jô Soares falando sobre o livro:
Ah, e o KibeLoco falou da jaqueta do autor. Estilo Lady Gaga. Eu a-d-o-r-e-i! Arrasou! Moda e literatura vestem muito bem!
Don't be a drag, just be a queen!
 

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