terça-feira, 22 de maio de 2012

Gentchy! Olha eu aqui outra vez!!! Nada melhor do que atualizar o blog com novidades!
Muita gente anda especulando sobre o meu sumiço das telas paraenses. Já soube que alguns ouviram boatos que fui demitida. Outros que ganhei na mega-sena (quem dera, hein!) e por isso “dei um perdido na galera”. A maioria sabe que estou morando no Rio de Janeiro porque viu comentários no meu facebook. Mas desde quando? E porque essa mudança?
Calma. Muita calma. Faz comigo: owmmmmmmm. Não foi uma decisão repentina. Eu e meu analista sabíamos que isso poderia acontecer cedo ou tarde. Eu NÃO fui demitida. Pedi pra sair da TV Liberal, empresa em que trabalhei como repórter nos últimos 3 anos e aprendi muito sobre a vida. A minha vida. A vida dos outros. O “viver coletivamente”. Foram anos lindos em que sorri muito mais do que chorei. Ouvi palavrões que nem a minha falecida avó poderia imaginar que existem. Entrevistei desde traficantes até chefes-de estado. (Hum.Hum.) Senti o frio na espinha que só uma “entrada ao vivo” provoca e o gostinho repetitivo de sempre parecer que era a primeira vez.
Pois é, deixei o microfone de lado por uns tempos. O mundo na TV é viciante. Você entra e não quer mais sair. E se deixarem, você não sai e acaba esquecendo que existe vida (inteligente) fora daquela tela plana. Eu vim pro Rio de Janeiro, mas não foi por causa de uma proposta da Globo ( e de nenhuma outra emissora concorrente).
Eu recebi sim uma proposta. Que veio em uma noite despretensiosa via SMS no celular. Depois de quase três anos de relacionamento, meu namorado resolveu que deveríamos tentar ficar juntos. Era uma ideia que ambos vínhamos amadurecendo há pelo menos seis meses, mas que muitas vezes foi descartada por causa dos inúmeros percalços da vida.
Pra quem não sabe, meu namorado é jornalista, escritor, professor universitário etc e tal... e é muito diferente do que ele escreve. Não viagem! Ele não é o Antônio Pastoriza. (Mas o livro é muito bom! Podem comprar!!!)
 E aqui estamos:  dois despreparados no quesito “casamento” nos esforçando diariamente pra fazer essa decisão valer à pena.
Posso ouvir daqui os gritos e sussurros do povo mais feminista:
- Como ela largou TUDO por um cara? – pode dizer alguma amiga.
- Esse é gostosão hein. A mulher deixou o emprego na Globo por causa dele!- deve estar conjecturando alguma leitora.
Mais uma vez, repita comigo: “Owmmmmmmm.”   Eu NÃO deixei TUDO. Eu tinha um emprego muito bom, mas que alguma hora eu iria ter que largar. Sou uma inquieta por natureza. Minha família não está aqui AGORA. Porém, nesse campo sou mais sortuda que o famoso “Dudu da loteca”, o que eles querem é me ver feliz. Enfim, foi uma escolha. E escolhas vocês sabem como é... sempre pedem uma renúncia em troca.
Vou esclarecer mais uma coisa: eu não virei madame. Meu namorado não é rico, e ainda que fosse não é do tipo que manda flores e dá diamantes de presente. Pois é, só que isso eu já sabia desde o início, e nunca foi problema.
Eu estou sim, morando no Rio de Janeiro, mas não fui nenhuma vez à praia. Não encontrei artista na rua e nenhuma liquidação de tirar o fôlego (:( Grrrrr!)
Meus dias têm sido para me acostumar a dividir a cama com alguém. Alguém insone, que me empurra porque “diz” que eu ronco. O “sonho de princesa” que algumas pessoas acham que estou vivendo tem mais a ver com a primeira parte da Gata Borralheira. Estou lavando louça como nunca lavei em casa ( desculpa mãe!), meu namorado agora conhece todas as minhas calcinhas, e o pior de tudo: ainda não tenho um cabeleireiro de confiança, uma manicure pra fofocar, uma massagista pra desabafar... minha vitória hoje foi conseguir tomar banho sem adquirir queimaduras de 2º grau ou congelar meu nariz. (Yeahhh).
Todos os dias um de nós dois pelo menos pensa em desistir. Eu com medo de não dar conta do tranco. Ele com medo de sei lá o que (homem de 41 anos NÃO deveria ter medo!).
Mas as inseguranças, as neuras, a angústia... tudo passa. Ela volta de novo, mas nós guerreiros como sempre fomos, tratamos de expulsá-la.
E é isso que eu tenho feito. Nada de conto de fadas. Nada de filme pornô. Nada de ANORMAL. Lutando dia após dia por momentos felizes.
Torçam por mim! E aos invejosos de plantão (sempre há, infelizmente) pensem que estou sem fazer escova há mais de duas semanas!

domingo, 11 de março de 2012

Filhos e lírios



“Porque só valem as experiências que fazemos com a própria carne.” A frase é do clássico “Olhai os lírios do campo” do escritor Erico Veríssimo.
Com uma narrativa simples e humana o autor nos leva a refletir sobre quais os valores que priorizamos na vida. Há até uma metáfora sobre a famosa fábula de La Fonatine. Olívia, uma das
personagens principais do livro sugere que cigarras e formigas poderiam viver em harmonia, sem aquele sentimento de culpa, que depois culmina em arrependimento; “a moral egoísta tanto da cigarra, quanto da formiga.”ela diz.
Uma que passa o verão a cantar divertindo-se ao máximo e sem se preocupar com o inverno que já está próximo e a outra que se esqueceu de aproveitar o sol, os dias alegres e pôs-se a trabalhar
incessantemente.
É isso. Faltou equilíbrio. É o que tenho visto acontecendo nos relacionamentos amorosos atualmente. Não adianta você querer uma pessoa que não consegue estar na sua sintonia.
Hoje ouvi de uma pessoa próxima a seguinte frase “cuidado, não vai assustar o cara.” Tudo porque manifestei publicamente a latente vontade que tenho de ser mãe desde que eu tenho uns... 3 anos? É, porque me lembro de brincar com aquelas bonecas estilo “nana nenem” desde essa idade. Carregar no colo, empurrar no carrinho, dar mamadeira. Mesmo sem entender, aquela brincadeira era o exercício lúdico da maternidade.
Não estou aqui para defender que todas as mulheres nasceram para serem reprodutoras. Tenho amigas que nem pensam no assunto. Priorizam a carreira, querem viajar pelo mundo e com um “bacuri” a tira colo, realmente ficaria mais difícil. Não as condeno. Não as julgo.
Mas eu sonho em um dia ver meu corpo mudar. Sentir a barriga crescer, tentar adivinhar o sexo do bebê. Escolher os nomes. Vomitar. Comer sem culpa. E tudo mais que eu, que ainda não passei por essa experiência, não tenho a menor ideia.
Se o homem que estiver comigo não compartilha dessa vontade, ele não está comigo.
Por isso, acho errada essa história de “esconder”, “camuflar”, “pressionar”. A vida é uma só e não há espaço para eufemismos quando o assunto é ser quem você é.
Mais do que estar perto de uma pessoa que têm planos para o futuro, eu quero planos para o presente. Se isso é pressionar, pra mim é deixar de viver “experiências com a própria carne.”.
Obviamente, você não deve pretender ter um filho com alguém que não te ame, que você saiba que será um bom marido e bom pai. Até porque, falei em marido, pois a ideia de produção independente ainda está fora de cogitação para mim. Perdi meu pai cedo, e sei o quanto a presença masculina faz falta.
Enfim, se algum homem ler este post o que eu tentei dizer é que a maioria de nós mulheres quer sim casar, ser mãe, ser bem sucedida, comprar sapatos e bolsas e “aquela” lingerie que deixa vocês loucos. Não se assustem! Aproveitem!
Para as mulheres, a mensagem é que vocês não devem esconder seus sonhos. Não finjam ser
“desencanadas”, se vocês não são de verdade.
Repito: “Porque só valem as experiências que fazemos com a própria carne.” E baladas, sexo,
dinheiro, fama, tudo passa. Contemplar os lírios do campo ao lado de quem se ama não é ler e nem escrever poesia. É simplesmente, existir.

*Plagiando um escritor que conheço, dedico essa crônica para meus filhos, quando os tiver.

sábado, 3 de março de 2012

Desabafo de repórter



Essa última semana de trabalho foi complicada. Todo jornalista quer noticiar o que chamamos de “factual”. Algo que acontece inesperadamente e que vai ter um impacto para a sociedade, chamar
atenção do leitor, telespectador ou ouvinte. Entendam, não queremos mostrar “desgraça”. Eu pelo menos, não quero. Mas tenho obrigação de deixar as pessoas cientes sobre os fatos. Incêndios, crimes, acidentes... Estes três eu diria que encabeçam a lista de factuais. Se eu esquecer algo, relevem. O blog é uma espécie de catarse escrita. O meu divã. Vocês são meus psicanalistas. Pelo menos neste espaço, não tenho a pretensão de ser muito formal.
O meu domingo começou com um factual dos brabos. Tive que cobrir o velório e o enterro de três pessoas que morreram em acidentes aéreos. A repórter Karla esteve lá sabendo da profissão e da função de cada um. A pessoa Karla, imaginava a dor da mãe, dos filhos, dos amigos.
De alguma forma sempre que vou noticiar que alguém morreu decorrente de acidentes, lembro-me da morte do meu pai. Só pra esclarecer, ele foi um privilegiado. Morreu em casa, no sofá. Vendo novela. Foram cinco minutos de um infarto fulminante. Eu havia falado com ele cinco minutos antes. Cinco minutos depois ele começava a ficar sem cor. Eu já não sentia mais sua respiração. Que sensação de impotência! Que arrependimento pelo o que eu poderia ter dito, do abraço que deveria ter sido mais demorado. Parecia que eu enxergava a alma dele me dando tchau e saindo pela janela. Essa experiência acabou me fazendo mais forte diante de tanta tragédia que presencio no meu trabalho. É mais ou menos assim: “eu já me aproximei do que vocês estão sentindo.” Saber, ninguém sabe. A dor é pessoal e intransferível. É a impressão digital de cada um.
Todo mundo vibra por uma sexta-feira. Ontem eu também acordei com a sensação de “Sexta-feira Uhuu!”. A primeira pauta foi checar um acidente na Almirante Barroso. "Menina de 18 anos
morre atropelada por ônibus na faixa de pedestres."
É hora de ouvir as testemunhas. Correr atrás dos fatos. Cerrar os olhos para não ver o cadáver. Mas sempre escapa algum vestígio e acabo cruzando o olhar com a “notícia” do dia.
É claro, quando acontece esse tipo de coisa com alguém tão jovem, as reações são mais chocantes. O desespero é mais pulsante. Não cabe a mim questionar ou apontar culpados e inocentes. Apenas relatar os fatos e ouvir as pessoas. Depois de uma semana cheia de acidentes, tragédias, notícias ruins enfim, me alimento do ceticismo que protege os repórteres de reações extemporâneas.
Tento dormir sem lembrar os inúmeros semblantes de dor. É a profissão que escolhi e isso não é uma reclamação. Apenas a catarse. Eu precisava desabafar.
Há meses não sonho com meu pai.
Mas todas as vezes que penso na alma dele saindo pela janela, minhas pernas ainda ficam fracas. Naquele dia, eu não tinha um microfone para me proteger.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

"Síndrome da parada ganha"



Acordei com espírito Tati Bernardi. Ela que é roteirista, publicitária, blogueira e verborrágica escreve muita coisa que me identifico. Que minha prima se identifica. Que as minhas amigas se identificam e as amigas das amigas também.
Senso comum? Bola de cristal? Talvez. Mas acho que tem mais a ver com a carência que nós mulheres sentimos vez por outra ou quase sempre.
Mesmo quando você tem um relacionamento duradouro, às vezes o seu parceiro esquece que é preciso se reinventar no dia-a-dia. Depois de meses ou anos de convívio, rola certa acomodação. E não falo da cueca suja atrás da porta ou da toalha molhada em cima da cama. OK. Esses dois itens são bem incômodos, mas fáceis de resolver.
O problema é quando ele não repara mais na sua mega produção. Não pergunta como foi o trabalho e se pergunta, não espera para escutar a resposta.
Eu chamo isso de “síndrome da parada ganha”. O rapaz acha que já conquistou você. Não tem como você ser mais apaixonada por ele. Foi. Já era. Você só tem olhos pra ele. Respira o cara. E é tudo verdade.
Mas introduzindo nossa amiga Tati Bernardi na conversa, chega um ponto que esse amor mal correspondido começa a “comprimir o estômago e borrar a maquiagem.”
Os mais velhos te dirão que é normal o relacionamento “esfriar” com o tempo. Cadê a porra de um isqueiro, fósforo, gasolina, brinquedos eróticos que esquentam pra não deixar o namoro ou casamento cair na estatística?
“Cadê o cara que abria a porta do carro, que elogiava o vestido, que recitava poesia no ouvido, que me olhava com fome e enfiava a língua na minha garganta?”(do livro O MARIDO PERFEITO MORA AO LADO)
A poesia pra mim é algo vital. Como respirar e comer. Mas as elipses e as metáforas eu deixo para os livros. Na vida real o que vale é a mão que te puxa para o abraço. É a boca que fala e te arrepia. É a conchinha no final do dia, quando me sinto uma verdadeira pérola.
Não adianta achar que porque a mulher te ama você não precisa mais se esforçar. É hora de manter tudo isso vivo.
A sua companheira que veste o espartilho, que te apóia nas decisões mais bizarras, que muda a saia que você não gostou, sem, no entanto, mudar a personalidade.
Chegou a hora de lembrar o aniversário de namoro, de mostrar que você se importa, de animar esse tom de voz cansado da rotina, justamente para fugir dela.
E você interpreta tudo isso como cobrança? Não. Deixe as armas de lado. Abaixe a guarda uma vez. É só um conselho. Ela te ama do fio de cabelo que aos poucos fica branco, até a unha encravada do pé.
Mas a parada não está ganha. Continuo apostando no empate. Ah, e é claro que nós mulheres, estamos longe da perfeição. Diz aí Tati Bernardi:
“Sabe aquele mulher super equilibrada?Que nunca te cobra nada?Super segura, nada ciumenta e calma?Ela tem outro.”

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Lembranças do Natal



Este não é um conto de Natal. E nem uma crônica. É apenas um relato de como os natais tem sido pra mim nos últimos oito anos.
Natal na minha casa tem árvore, tem enfeite, tem presente e até pisca-pisca. Mas há oito anos não tem mais o meu pai.
Era ele, homem forte e reservado que transformava nosso mês de dezembro em uma verdadeira festa. Meu pai nunca foi bom em comprar presentes. Se eu calço 36, lá estava embaixo da árvore um calçado de tamanho 38, que eu jamais usaria e dificilmente conseguiria passar adiante.
Mas a expectativa da descoberta, o suspense, o modo como ele embrulhava as caixas, sem nenhum traquejo e cheio de fitas engomadas era suficiente pra despertar em toda a família uma enorme curiosidade.
Meu pai nos deixou em janeiro de 2003, diante da TV, no sofá da sala. O coração tão grande, simplesmente parou de bater. Coincidentemente, no Natal anterior, ele acertou o meu tão sonhado presente: um sharpei albino. Sim, porque eu não queria qualquer cachorro. Tinha que ser um incomum, e difícil de encontrar... Porém , ele buscou, procurou e conseguiu.
Reconheço a importância do Natal. O nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo que nos enche de novas esperanças, inclusive a de que nós mesmos podemos renascer. Renovar.
Atualmente, meu melhor Natal acontece durante o dia. Desde que comecei a atuar na reportagem nunca escapei de um plantão natalino.
Já cobri a ceia de pessoas carentes em 2009, onde surpreendentemente não encontrei uma Maria, um José e um Jesus. Mas conheci três figurinhas que vieram de longe, do interior do Estado e não tinham onde ficar e nem o que comer. Ajudei-os a ter um Natal digno e eles me ajudaram muito mais a escrever uma bela matéria.
Ano passado presenciei uma história triste. Uma mãe abandonou um bebê, recém-nascido e desprotegido em um terreno baldio. A criança virou notícia nacional, mas o mais importante é que comoveu pessoas que o acolheram.
Este ano, participei da entrega de presentes e alimentos em comunidades bem humildes. Por lá, descobri que a família Noel é maior do que eu imaginava, e não mora no Pólo Norte. Mora no Jurunas, no Guamá, na Condor. Mora aqui na minha rua, e com certeza, também aí na sua.
Meu pai não está aqui, para eu abraçá-lo. Só que ontem recebi mais abraços do que meus braços podiam caber. E sim, eu tive um Feliz Natal.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O jogo da conquista



Várias vezes ensaiei escrever um post novo. Alguns temas insistiram na minha mente e sei que ainda vou desenvolvê-los e dividir com vocês.
Mas o que me fez parar de adiar a vontade latente de escrever foram alguns livros que reencontrei na minha singela biblioteca particular.
Sem medo de ser julgada ostento nas prateleiras do meu quarto títulos como “O que toda mulher inteligente deve saber”, “Co-dependência” e até um “Quando termina é porque acabou.” Calma gente! Eles não estão na trincheira. O pelotão é liderado por autores como Oscar Wilde, Virgínia Woolf, Vargas Llosa, Rimbaud, Baudelaire e os meus gaúchos amados Carpinejar e Martha Medeiros. Não se melindrem vocês do jornalismo. O cantinho da pena é específico. Com o perdão da piada pronta.
Pois é, estes tais livros que nas livrarias e feiras ganham estantes de destaque com aquela plaquinha “Auto-Ajuda” não me tiraram da fossa. Muito menos, me fizeram sentir mais inteligente. Mas sem preconceito, me ajudaram de outra forma.
Algumas “lições” repassadas me tornaram bem mais crítica e cética quando o assunto é o “jogo da conquista.” Coisa mais cafona essa expressão, preferia mil vezes quando perdia noites diante do “Banco Imobiliário”. De volta ao mercado dos solteiros essa porcaria de jogo te coloca no páreo mesmo que você insista em passar a vez.
Eu não joguei os dados. Poderia ficar eternamente parada na mesma casa. Mas o jogo não te dá autonomia. Quem acha que sabe o que faz e controla os sentimentos está blefando, às vezes até involuntariamente.
Uma regra específica que não sei quem inventou parece prevalecer diante do senso comum: não demonstre interesse por alguém que você esteja interessada.
Ou seja, eu devo torcer para me apaixonar por um cara com dons mediúnicos, porque se eu o ignoro, não retorno as ligações, finjo não escutar quando ele comenta sobre uma reunião importante e não dou o apoio que eu acho correto dar, o rapaz tem que ser muito sensitivo pra perceber que há chance de eu querer dedicar tempo e carinho a ele.
Putz. Tô mal nesse jogo. Eu escolho as cartas sempre erradas. Movo a pedra na direção oposta. Acredito nas pessoas.
Será que pra você conquistar alguém precisa bancar a difícil? Lamentavelmente, eu sou difícil. Difícil no sentido de querer que o cidadão saiba conjugar verbos e escreva decentemente. Nem precisa ser um perito no emprego das crases. É ótimo que conheça poesia, mas se não conhecer, que pelo menos tenha vontade de aprender. Ou finja. Pode fingir porque depois a captura é inevitável. Ah, difícil também porque meus horários são completamente malucos. E a sexta-feira que é o dia mais esperado pela maioria é simplesmente a véspera de um provável sábado de plantão.
Mas eu não abandono a sexta-feira, assim como não abandono a vontade de ser cúmplice, de falar o que sinto olhando nos olhos, de conhecer a família e criar vínculos verdadeiros. De querer fazer sexo com confiança. Confiança acima de tudo em mim. E se ele não ligar no dia seguinte ter a certeza de que continuo com o sangue azul.
Nesse jogo onde a mulher veste o espartilho e o homem abusa dos galanteios não espero a vitória.
Aprendi de uma forma muito especial que no campo do coração, o melhor resultado é o empate.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sofrimento necessário

Como é difícil reconhecer uma derrota. Principalmente se for no campo do coração. Não era uma batalha com uma rival. De verdade, nunca houve espaço para mais ninguém. Nas lutas contra a rotina, a distância, o ciúme e os inúmeros caminhões de areia, nós conseguimos sobreviver usando artifícios poderosos como a poesia, as milhas do cartão de crédito, as conversas exaustivas, as risadas, a redundante dobradinha “verdade e cumplicidade” e tantas outras armas que nos fizeram tão propriamente “nós”.
Árduo é vencer a si mesmo. A insegurança sobre quem somos e como estamos, o mau-humor, o nervosismo, a pressa, a mágoa pelo que foi dito, a falta de paciência.
Todas as vezes que precisei me despedir de um relacionamento houve choro. Houve lamentação. E os remédios para tentar amenizar a dor e cicatrizar as feridas eram praticamente os mesmos: saída com os amigos, mudança do número de celular, aliás, total incomunicabilidade. E outras tantas medidas paliativas que na época, funcionavam.

Parece que o corpo desenvolveu imunidade. Não adianta mais usar os mesmos métodos. Dessa vez chegou a hora de encarar o sofrimento de frente. Com todas as lágrimas que ainda vão ensopar o travesseiro. Com a dor de cabeça do dia seguinte, por causa da congestão nasal. Com a cara inchada, perfeitamente disfarçada com a maquiagem canadense, que encobre as imperfeições da pele, mas não consegue devolver o brilho dos olhos.

Os conhecidos não se conformam com a minha decisão de viver o luto pela primeira vez. “Tão linda. Tão competente. Não merece sofrer por causa de homem”. Eu compartilho da opinião deles em alguns momentos em que a dor é tão grande que não extravasa apenas com o choro. Mas resolvi que talvez escrevendo sobre a dor seja mais fácil de vivenciá-la. Lendo sobre a dor, ela quem sabe, dê uma trégua. Vai passar. Todo mundo sabe que vai passar. Mas o período que divide o “vai” do “passou” muitas vezes é cruel.

“E como ela tem coragem de se revelar assim?” Alguns vão comentar, ou somente pensar. Simples: escrever sobre o que estou sentindo pode ser uma espécie de catarse. Meu processo de purificação.

Dois anos e dois meses que eu resumiria em uma palavra: coragem. Fomos fortes para enfrentar a distância, verdadeiros na hora de demonstrar as fraquezas, cúmplices para reconhecer que neste momento, as prioridades são diferentes. E apesar dessa dor que dilacera meu peito, sei que não seria justo continuar agora. A derrota é momentânea. Não vamos desistir nunca de defender nossas causas nesta guerra. Inclusive com nossas próprias vidas. Porém, somos inteligentes e sensíveis para reconhecer quando é necessário recuar.

A herança que você deixou foi ter me ajudado a descobrir o que há de melhor em mim. Foram as poesias compartilhadas. Os roteiros discutidos. A comida dividida no prato. A dança sem música. O tapete. Ah, o tapete. Nossa síndrome. Nosso símbolo. A música francesa. O número marcado na pele. A estrela de oito pontas. O seriado que agora virou meu vício. O vício abandonado.

Coisas boas e coisas ruins. Porque assim é a vida. Feita de paradoxos. De contradições. De crônicas e contos de fada. De prosa e de versos declamados com os dígrafos mais sonoros que meus ouvidos já captaram.

Meus cílios postiços estão encharcados enquanto escrevo esse desabafo. É a única coisa artificial que me permito usar, mas você sabe... É meu instinto maternal: são meus filhos! Fazer o quê?

Perdoe-me pelas eventuais crases perdidas ou mal empregadas. “Pelas frases tortas, embargadas pela tua ausência.”

Releve o sentimentalismo, as metáforas pobres. Meu coração está inundado. Mas minha alma sofre com a estiagem. É a falta do teu perfume. Mais clichê impossível seria se eu afirmasse que “falta um pedaço de mim”. Não falta mais. Faltava antes de te conhecer. Hoje estou inteira. E passo por esta fase temporária ou definitiva com a certeza de que uma grande história de amor não se encontra apenas nos livros. E que uma imagem via SMS vale mais do que muita declaração de amor.

Não poderia deixar o hábito de absorver o que você proporciona de tão bom. E termino esse post, imaginando um dia ser a Pilar do meu Saramago.

"O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas." ( José Saramago )